O Francisco tem dez anos e frequenta o 5º ano de escolaridade do Colégio Universal. É um rapaz simpático e facilmente trava conhecimento com outras pessoas. Prova disso é o facto de não se ter importado de falar à Página da profissão do pai. A princípio até estava um bocadinho tímido, mas aos poucos foi desenvolvendo uma conversa que se revelou interessante. A escola dos "crescidos" foi uma novidade para ele. Para um miúdo vindo do 1º ciclo é naturalmente uma experiência diferente: "temos disciplinas novas, muitos professores e levamos muitos livros para a escola. Vou sempre com a mochila carregada". "É violentíssimo", diz João Paulo Coutinho, repórter fotográfico de um conhecido jornal da cidade do Porto, que compara o peso da mochila do filho com o seu saco de trabalho, já de si pesado: cerca de três quilos. "Para um adulto está bem, mas para uma criança é excessivo". "E à terça e quinta-feira ainda pesa mais porque tenho treinos de andebol", retorque o Francisco. Mas não se importa, porque a escola, afirma, é um lugar agradável onde se pode ao mesmo tempo aprender e brincar. Talvez "um bocadinho mais de brincar...", afirma com um sorriso largo. As matérias preferidas do Francisco são História, Educação Física, Educação Musical e Português. Mas acaba por gostar de todas em geral porque considera que cada uma delas pode ser interessante à sua maneira. No entanto, se pudesse mudar alguma coisa garante que pedia aos professores para serem mais brandos. É que em algumas escolas onde ele andou repreendiam os alunos "por coisinhas de nada"... Fora da escola, os passatempos favoritos são jogar básquete e futebol com os amigos e andar de bicicleta. O desporto e a actividade física são, aliás, as ocupações em que mais gosta de dispender o tempo. Sem nunca deixar de vista os estudos, claro. Já sabe o quer ser quando for grande. Ou melhor, não sabe ao certo mas tem várias ideias: agente secreto, jogador de andebol ou jornalista. Mas se tivesse de optar o que gostava mesmo era fazer parte de uma equipa profissional de andebol. Nada de seguir as pisadas do pai. Apesar disso, o Francisco diz que gosta muito de tirar fotografias. Na Expo98, por exemplo, quase gastava as baterias de tanto utilizar a máquina que o pai lhe deu. "Às vezes tiro com a máquina dele, mas é mais complicada. Não percebo o que está lá escrito porque só tem números, números, números...". Apesar disso, a curiosidade e a vontade de aprender é mais forte. É por isso que já pediu ao pai para lhe ir ensinando a mexer com a "máquina grande". " João Paulo Coutinho prefere deixá-lo entusiasmar-se por ele próprio. "A última coisa que eu quero é que ele cresça à minha imagem". Aprendi onde se carrega para disparar, as alturas em que se deve utilizar o flash, etc... Ah! e que nunca se deve pôr o dedo no visor ou na lente porque ficam sujos e depois não dá para ver". Os motivos que o Francisco mais aprecia fotografar são paisagens e objectos. "Às pessoas não gosto de tirar, porque a maior parte das vezes ficam mal... Mexem-se e ficam tremidas". Apreciação de uma boa fotografia: "uma boa fotografia é quando não se apanha sombra e fica bem focada". Quando o Francisco era mais pequeno, o pai contou-lhe que quando tinha a idade dele pensou em tornar-se polícia sinaleiro ou jornalista. Curiosamente, nunca até este momento lhe tinha contado a história da sua paixão pela fotografia. Uma história, em "primeira mão" e em discurso directo, que serve para mostrar como um acaso pode fabricar um destino: "um dia encontrei um ampliador e uma série de artigos de fotografia do meu pai num caixote. Montei o equipamento e com o meu dinheiro fui comprar os líquidos de revelação". A partir daí a vontade de descobrir a arte da fotografia tornou-se mais forte que o resto. Mais forte, inclusivamente, do que o curso de direito que chegou a frequentar uns anos mais tarde. Quando estava na faculdade, reparou num anúncio onde se procuravam correspondentes fotográficos para um jornal em troca de formação adequada. "A seguir fui fazer um estágio e entrei para os quadros desse jornal. Deixei o curso". E a profissão do pai? Que importância tem para o Francisco? "É importante porque através da fotografia ficamos a saber do dia-a-dia das pessoas e sabemos o que se vai passando no mundo". E ao contrário do que às vezes possa parecer, ser repórter fotográfico não é fácil. Isto, explica o Francisco, porque se tem de "ter atenção à maneira como as fotografias são tiradas e porque se vai para sítios desconhecidos". Nessas alturas, garante, "fica-se confuso por não se saber o que se deve fotografar". Além disso, os repórteres fotográficos são obrigados a ir para outros países mesmo quando não querem. A última viagem do pai, por exemplo, foi a França, por altura do campeonato mundial de futebol. Uma viagem que ficou na memória do Francisco. Afinal, não é todos os dias que se recebe uma camisola do Ronaldo, uma bola de futebol e a mascote do campeonato. E é cansativo? "Às vezes, quando trabalha até à noite. Já aconteceu chegar a casa para jantar e ainda ir trabalhar depois. Aí é pior...", diz com ar de desagrado. "Mas quando está de folga é bom porque vai-me buscar cedo à escola e vamos passear". Ricardo Jorge Costa
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