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Impressões Literárias

23 de Abril, Dia Mundial do Livro

De todos os livros que li muitos me deixaram boas marcas, embora uns mais do que outros. Desde romances, livros policiais, contos, poesias...
No entanto, houve um que, apesar de não ter muita história, ser um pouco monótono e muitíssimo dramático, me encantou bastante, não pelo seu conteúdo narrativo mas sim pela natureza das personagens que nele intervinham. "Vinhas da Ira", de John Steinbeck, é o título do livro e o nome do autor a que me refiro.
Era a história de uma família numerosíssima que vivia no campo e cujos trabalhos estavam dele dependentes. A agricultura era a profissão mais exercida, embora, devido às péssimas condições climatéricas, naquela altura, não chegasse para sustentar tanta gente. Como consequência das faltas de condições, a família parte para a Califórnia à procura de melhores condições de vida.
Pobres, pouco tinham, o único objecto de valor que possuiam era uma carrinha velha, velhíssima, que provavelmente não aguentaria uma viagem tão longa. Apesar de tudo, da falta de dinheiro. da incomodidade, das más condições sanitárias, a família, esperançada, parte em busca de uma nova vida.
Eram todos pessoas muito humildes, com uma união fortíssima, muito amigos uns dos outros e, acima de tudo, caridosos com os demais: na sua carrinha cabia sempre mais um; à sua mesa eram recebidos, com grande generosidade, todos os infelizes que careciam de um carinho humano; tudo o que tinham, apesar de pouco e de ir desaparecendo muito depressa, era repartido com alegria e sem egoísmos.
Ao longo da viagem os membros da família foram vítimas de sofrimentos diversos, desde males fisicos, doenças, indisposições e até casos mais dramáticos como a morte do membro mais idoso que, pela sua debilidade, não aguentou tanto cansaço, até males psíquicos que tornaram a viagem ainda mais difícil.
O percurso foi sendo percorrido, o dinheiro foi acabando, a comida já não chegava para todos... todo o esforço tinha sido desnecessário e inútil. Chegados ao destino nada de bom encontraram. As condições eram ainda piores, os empregos pouco duraram e pouco dinheiro deram. Cedo a família teve de seguir de novo viagem e, também de novo, se deparou com as mesmas dificuldades.
Mas, apesar de tudo, o optimismo e a esperança não desapareceram. O espírito de ajuda e de irmandade continuava sempre presente, todo o pobre que por eles passava era ajudado tanto material como espiritualmente. Um sorriso de animação e perseverança era a toda a hora distribuido. Um grito de consolo e esperança era sempre dito..
Foi este o livro que mais me marcou pois dele me servi variadas vezes, fazendo uso dele como objecto de reflexão. Com ele aprendi que, apesar de tudo, os amigos existem e são para sempre. Mais importante que o dinheiro, que a comida ou que o material que damos aos outros é a animação quando estão tristes, o apoio quando se sentem desamparados, a companhia quando em solidão se encontram, o conselho quando dele precisam.
Foi esta a família que, apesar de não ter existido realmente, mais me marcou e mais me vai servir de referência pois, do NADA que tinham eles deram TUDO, mostrando, assim, deste modo, o verdadeiro significado da amizade que, por vezes pode não ser de sempre mas para sempre.

Joana Morais Barbosa,
17 anos, estudante do 12º ano


  
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Edição:

N.º 81
Ano 8, Junho 1999

Autoria:

Joana Morais Barbosa

Joana Morais Barbosa

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