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Nobel, disse ela

Nobel, disse ela

Um pretexto para outros textos

Nobel, disse ela, a loura Academia. E logo nasceu mais um pretexto para muitos outros textos. A campanha para a regionalização do Continente estava no auge mas ele era contra, apesar da orientação em contrário do partido a que pertence. "Até o nosso Nobel diz não", disse, um dia, um adversário, e alguém respondeu que "o facto de ele ser um grande escritor não significa que seja um grande político".

José Saramago er tildelt Nobelprisen i litteratur 1998. José Saramago er født i Portugal i 1922. Han er bosatt på Lanzarote. Saramagos bøker er (hittil)utgitt i følgende land: Spania/Katalonia, Frankrike, Italia, Storbritannia, Nederland, Tyskland, Hellas, Brasil, Bulgaria, Polen, Kuba, Russland, Tsjekkia, Slovakia, Danmark, Israel, Norge, Romania, Sverige, Finland, USA, Japan, Ungarn, Sveits, Argentina, Colombia, Mexico.

Aquele "han erbosatt på Lanzarote" talvez seja escrito em sueco. Pouco importa, Quer, seguramente, dizer que vive em Lanzarote. Com a companheira, Maria do Pilar, e três cães, um deles nomeado Camões. Se tivesse optado por viver em Portugal, e também recolhesse cães abandonados, talvez um deles fosse nomeado Cervantes para que o nome do grande escritor continuasse a ser evocado.

Sin embargo, quizás su novela más conocida es "La balsa de piedra", en la que la península Ibérica se separa de Europa y comienza a flotar en el Atlántico. Esto le permite al autor comentar irónicamente "sobre las autoridades y los políticos, quizás especialmente sobre los actores principales en la política", dijo la Academia Sueca, cuando anunció el Premio Nóbel de Literatura 1998. El escritor se encontraba en Francfort.

E não tem parado, desde então. Hoje (e este hoje é precisamente o dia em que esta edição de "a Página" sai para a rua, 10 de Dezembro de 1998) recebe em Estocolmo o prémio. Como o indiano Amartya Sen, Nobel da Economia 1998, com quem já se avistou, que Saramago admira por se tratar de um economista preocupado com as questões sociais, por ser alguém do "lado de lá do neo-liberalismo".

Di famiglia povera, José Saramago nacque ad Azinhaga il 16 novembre 1922; si trasfer all'età di tre anni a Lisbona con la famiglia. Abbandon gli studi universitari pe icoltà economiche famigliari; per mantenersi lavor dapprima come fabbro e si dedic in seguito a varie altre professioni: disegnatore, correttore di bozze, traduttore, giornalista. Prest infine stabilmente la propria opera in campo editoriale. Negli anni della dittatura di Salazar (terminata nel 1974) stato uno strenuo oppositore di quel regime, e fu a sua volta osteggiato da esso nella sua attività giornalistica.

"O meu pai diz que o Saramago é um comunista que andou a perseguir gente no Diário de Notícias". Esta opinião foi atirada por um miúdo numa aula especial sobre o escritor. Esta opinião está também escarrapachada num semanário português de características populares, numa mesma primeira página onde se destaca a opinião de um leitor (famoso) que desanca num colaborador habitual do jornal. Assim mesmo, sem tirar nem por.

La preoccupazione nei confront della società attuale, che indifferente o ignora i problema di priorità per quanto attiene le questioni sociali evidente in tutta l'opera di Saramago e chiarisce anche i motivi delle simpatie comuniste dello scrittore. Simpatie che hanno tra l'altro suggerito al Vaticano di commentare negativamente l'attribuzione del Nobel allo scrittore e di attaccare l'Accademia svedese, tramite il suo organo di informazione ufficiale, "L'Osservatore Romano", definendo lo scrittore "un vetero-comunista" anim na "visione sostanzialmente anti-religiosa" dei problemi.

Um jornal sueco, num dos muitos artigos que têm sido publicados sobre o escritor português (que está a ser um caso muito especial de projecção mediática, mesmo comparativamente com outros escritores anteriormente laureados) titulava a chegada de Saramago a Estocolmo nomeando-o como "o novo herói de Portugal". Infelizmente, como reconheceu Saramago, os escritores não são tidos como heróis, nem se será herói por escrever livros.

Saramago però è onesto, e forse troppo modesto, quando avvisa il lettore di non essere ferrato in particolari eruditi e invita a cercare altrove la precisione enciclopedica: «qui si parla di sioni, di occhi che vagano e accettano il rischio di non captare l'essenziale perché attratti dal superfluo». In questo libro infatti è trascritta soprattutto «la storia di un viaggiatore all'interno del viaggio da lui compiuto».

(...) "Nunca nenhum escritor português havia tentado até então dentro dos limites do género o exame da arte de representação. Os problemas que aqui se defrontam são os problemas dos realismos dos anos 70. E o pintor narrador do Manual descobre a necessidade do distanciamento em relação ao objecto da sua arte e da sua escrita se nele quer descobrir a verdade e ou as verdades que se ocultam sob aparências. Reconhece assim que o seu projecto do duplo, o segundo retrato que secretamente estava a pintar do mesmo modelo, tão-pouco resultaria porque não havia nele o distanciamento necessário, que só o tempo lhe daria, já que esse retrato era a caricatura de uma caricatura" (...)
Isto escreveu Luis Rebelo de Sousa numa das Vértices de 1993.

Todos los nombres es el relato de aventuras de un José «sin nombre», aunque el suyo sea el único que figure en la historia. En su aparente humildad, en su auténtica soledad, en su falta de bienes materiales y afectivos y, sobre todo, en su inalienable dignidad humana, este don José es pariente próximo de otros personajes literarios: Bouvard y Pécuchet, los copistas enciclopédicos de Flaubert; el obstinado Bartleby de Melville; el metafísico Bernardo Soares de Pessoa… «Todos los nombres es la historia de amor más intensa de la literatura portuguesa de todos los tiempos.»

Não é fácil aproveitar Saramago numa aula de português. Nomeadamente junto dos alunos mais jovens. Numa escola de S. Mamede de Infesta funcionou (e ainda funciona) uma tertúlia literária nascida à volta de um texto jornalístico de José Saramago. Este já se referiu ao grupo num dos Cadernos de Lanzarote. A tertúlia continua, apesar dos seus membros já terem deixado de ser alunos... Mas as crónicas destas notícias exigem outro tempo.

(...) «Saramago opta por la subversión individual contra la opresión de las autoridades catalogadoras, por el desorden de la vida contra el desorden de la muerte. Y todo con un estilo que parece haber alcanzado, en la cima de la simplicidad, la cima de la sutileza. Todos los nombres es uno de esos pocos libros que todavía merecen ser definidos como un clásico.»
Leyla Perrone- Moises.

(...) "Livro avessamente experimental que se aprofunda na prescrutação da identidade criativa de um narrador-personagem que trafega do universo da representação visual para o da escrita, impulsionado por um desejo de mapear sua relação com os hemisférios conflitantes da linguagem criativa, sempre em busca de uma melhor concreção, com as solicitações limitantes, até certo ponto agônicas, de um mundo exterior avassalador, que só encontram momentos de fusão do fenómeno artístico. Se o "Manual" permite uma interpretação a nível de uma autobiografia do intelectual José Saramago às voltas com uma disjunção expressiva, num momento de transição da sociedade que o circunda"(...).
Horácio Costa, em português do Brasil, na "Folha de S. Paulo"

Presumably the `siege' of Maria Sara, the siege of Lisbon, and the entwined destinies of Mogueime and Ouroana all resonate and echo off of one another, but Saramago's larger concerns seem to be about the `rewriteability' of history and thus the curious relationship between made and made-up. Towards this end, a working knowledge of Portuguese medieval history as well as a familiarity with Lisbon itself would certainly help. Finer points, one feels, are lost-and ironies missed-if one has but the understanding of this small but special country.

"Mas, quem escreve? Também a si se escreverá? Que é Tolstoi na Guerra e Paz? Que é Stendhal na Cartuxa? É a Guerra e Paz todo o Tolstoi? É a Cartuxa todo o Stendhal? Quando um e outro acabaram de escrever estes livros, encontraram-se neles? ou acreditaram ter escrito rigorosamente e apenas obras de ficção? e como de ficção se parte dos fios da trama são história? Que era Stendhal antes de escrever a Cartuxa? Que ficou sendo depois de a escrever? E por quanto tempo? Não passou mais de um mês desde o dia em que comecei este manuscrito, e não me parece que seja hoje quem era então. Por ter somado mais trinta dias ao meu tempo de vida? Não. Por ter escrito"

leituras, gravações e escolhas de João Rita

PS

" Uma porta é, ao mesmo tempo, uma abertura e aquilo que a fecha"

"Escolhem-se palavras, frases, partes de diálogos, como se escolhem cores ou se determina a extensão e a direcção das linhas."

"O paraíso é estar nu e saber"

in Manual de Pintura e Caligrafia


  
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Edição:

N.º 75
Ano 7, Dezembro 1998

Autoria:

João Rita
Jornalista, Porto
João Rita
Jornalista, Porto

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