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Notícias do Superior

Mais 37 901 universitários

Feitas as contas deste ano no ensino superior público entraram 70 por cento dos candidatos, ou seja 37 901, e ficaram fora dos portões das universidades e institutos politécnicos 16 513 estudantes. Números que demonstram uma subida de sete por cento relativamente ao ano passado no que diz respeito ao acesso e que acompanham o aumento de vagas autorizadas pelo Ministério da Educação para 1998/99 (6,2 por cento).
Apesar de tudo, há ainda 4 513 vagas que vão ser colocadas a concurso na segunda fase de acesso ao ensino superior: mais três por cento do que no ano anterior. Uma última oportunidade para os candidatos interessados, que terão mais possibilidades de entrar nas novas licenciaturas criadas pelos institutos superiores e nos cursos onde as notas de entrada são negativas
Aliás, este ano, verificou-se um aumento das vagas que não foram ocupadas, com uma fuga algo estranha (ou talvez não) aos chamados cursos tecnológicos dos institutos politécnicos. O curso de Engenharia Agronómica, no Instituto Politécnico de Bragança, por exemplo, tem ainda 168 vagas em aberto das 210 inicialmente postas a concurso. E a média de entrada é baixa e negativa: 8,4 valores.
E na Universidade dos Açores, que recebeu autorização para abrir 25 vagas na licenciatura de Engenharia Agrícola, apenas um lugar foi ocupado. Na Universidade da Beira Interior há vários cursos com vagas em aberto, como é o caso de Engenharia Têxtil, onde entraram dois alunos para engenharia Têxtil, ou o de Engenharia do Papel, onde só um dos 40 lugares foi preenchido. Também na Universidade do Minho há casos semelhantes e o mesmo se verifica em muitos dos institutos politécnicos do País.
Aliás, uma análise mais atenta aos resultados levam-nos a verificar que o maior número de vagas sobrantes se verifica principalmente nos institutos politécnicos, nas universidades de menor dimensão e em cursos cujo nome não parece oferecer grande confiança aos pré-universitários.
Evidentemente, e para confirmar a regra, há excepções, como o que se verificou no curso de Línguas e Literaturas Clássicas e Portuguesas, normalmente com as vagas ocupadas, em que das 45 existentes sobraram 25. Situação idêntica verificou-se na universidade Clássica de Lisboa, no curso de Línguas e Literaturas Modernas, variante de Estudos Franceses e Alemães, onde restam ainda 17 das 30 vagas postas a concurso.
Há ainda a salientar um fenómeno curioso verificado nas Escolas Superiores de Educação, ou seja, nos cursos que formam professores e educadores de infância, em que a lotação esgotou por completo. Uma tendência, diga-se, que já era de esperar, depois da alteração à Lei de Bases do Sistema Educativo, que veio beneficar os formados nas Escolas Superiores de Educação.
Quanto às 4 513 vagas sobrantes que serão postas a concurso em Outubro, esclareça-se que vão ser sujeitas a uma fórmula: os lugares que agora não foram preenchidos serão subtraídos aos criados nas reclamações e somadas as vagas que foram libertadas no mesmo processo, assim como as que sobraram devido à ausência de matrículas dos estudantes agora colocados. Depois são adicionados os lugares que sobram dos concursos especiais e chega-se às vagas que realmente serão postas a concurso na segunda fase.

«Super-cursos» e «cursinhos»

Afixadas as notas de entrada no ensino superior verificou-se que este ano, mais uma vez, o curso de Medicina ultrapassou todas as expectativas. Quando se pensava que as médias de entrada deveriam descer, uma vez que o número de vagas aumentou 18 por cento e as notas de Biologia e Química desceram, os números vieram demonstram que nem todos os raciocínios são lógicos: As notas de acesso subiram ainda mais.
Vejamos as evidências: o curso de Medicina da Universidade do Porto subiu de 186,3 (numa escala de 0 a 200, uma vez que a entrada foi disputada às centésimas e não às décimas) para 188,3 e os das restantes universidades do País seguiram-lhe as pisadas. O mesmo aconteceu nos cursos de Medicina Dentária, Farmácia e em outras licenciaturas que, de alguma forma, estão relacionadas com a saúde, como é o caso de Bioquímica e Biologia e mesmo nos cursos de Enfermagem, no ensino polítécnico e em algumas áreas das Tecnologias da Saúde.
Como também já é habitual, as notas dos cursos de Arquitectura, com a Universidade do Porto novamente no topo da lista, também registaram notas acima dos 17 valores. São os chamados «super-cursos». Ainda assim, é de realçar que 19 330 entraram na sua primeira opção, 7 064 na Segunda, 4 487 na terceira, 3 099 na quarta, 2 340 na Quinta e 1 581 alunos vão frequentar o curso que escolheram em sexto lugar.
Do lado inverso estão os cursos em que entraram alunos com notas negativas. Aliás, este ano, o número duplicou, tendo passado, em comparação com o ano passado, de 75 cursos para 190. Uma situação que se verifica essencialmente nos bacharelatos e licenciaturas do politécnico e nos cursos de engenharia, onde se concentrou a maior percentagem de notas de entrada negativas, talvez devido à multiplicidade de cursos (cursos de banda estreita).
Assim, em Engenharia de Manutenção Automóvel do Instituto Politécnico de Leiria entrou-se com 5,5 valores e em Engenharia Mecânica da universidade da Beira Interior com 6,8 valores.
Apesar de tudo, há que ser optimista e perceber que o grau de exigência de entrada no ensino superior tem vindo a subir. Primeiro com os exames de 12º ano, cujas notas contam para a conclusão do ensino secundário e depois com o estabelecimento de notas mínimas de acesso ao superior. Além disso, a fronteira dos dez valores é, cada vez mais, um imperativo e há mesmo escolas que sobem a fasquia para 11 e 12 valores, apesar da chamada «válvula de escape» se manter, permitindo que a mínima de entrada vá descendo até que uma dada percentagem de alunos possa ser candidato - 55 por cento na generalidade das universidades, 60 por cento na dos Açores e 75 por cento nos politécnicos, o que explica as notas de entrada negativas.

Porto despede-se de Alberto Amaral

A concluir esta página sobre ensino superior uma pequena nota para um grande reitor que recentemente deixou de o ser: Alberto Amaral. Como já alguém o definiu, um homem que conseguiu, quase na sombra, transformar uma universidade regional na maior do País e num centro estratégico de projecção da região a nível internacional.
Depois de 12 anos à frente da Universidade do Porto, este engenheiro químico, de 55 anos, consegue sair pela porta grande e com a perfeita consciência de que deixou obra feita. É-lhe reconhecido também o facto de ter feito história no meio académico e político com a sua habitual irreverência, tranquilidade e estilo informal. Pouco dado a meias palavras, Alberto Amaral é também conhecido por disparar em todas as direcções sem olhar a cores políticas nem insígnias.
Ainda assim, garante que não faz tremer os bastiões da educação. É mais «um revolucionário tranquilo», diz, «uma pessoa pacífica», com uma «boa capacidade de relacionamento».
À frente dos destinos da maior universidade pública do País sucede-lhe Novais Barbosa, o grande responsável pelas grandes obras da Universidade do Porto e, até à data, o braço direito de Alberto Amaral. Novais Barbosa disse já que vai ter de ser «muito reivindicativo» em relação aos financiamentos para a universidade e fez saber que concorda com os princípios da Lei de Financiamento do Ensino Superior.
Os estudantes, por seu lado, na voz do presidente da Federação Académica do Porto, garantem que vão continuar a contestar a lei e esperam um «diálogo sério» com o novo reitor, uma vez que tal «não existe com o ministério».

Luísa Melo


  
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Edição:

N.º 73
Ano 7, Outubro 1998

Autoria:

Luísa Melo
Jornalista
Luísa Melo
Jornalista

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