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E as Crianças?

As crianças têm os seus direitos consagrados em forma de Convenção que diz respeito a todos os menores de 18 anos.
Lamentavelmente, os documentos mesmo que ratificados por cerca de duas centenas de países, que é o caso, não são respeitados quanto ao espírito (grave) nem quanto à letra (doloroso).
As assimetrias a nível internacional, nomeadamente Norte/Sul, a nível nacional e até a nível regional vão sendo acentuadas e não esbatidas. As vivências próprias e as denúncias difundidas sobretudo pelos media, não autorizam qualquer cidadão a ignorar situações dramáticas de gente que é mais nova, mas que é gente.
A escola é, porventura, um espaço de eleição para a sensibilização a estes problemas que assumem aspectos terrivelmente importantes: a doença, o frio, a fome, a pobreza, as bombas da guerra e as da paz, as minas dos terrenos chamados pacifistas, os abusos praticados sobre a integridade física no âmbito do trabalho explorador e de outras obscenas práticas.
A escola referida é a que tem consciência do seu papel multicultural e dos efeitos da globalização, sabendo fruir da doçura saudável e aprendendo a expurgar formações dos venenos que as maculam, bem como rasgar superfícies de rugosidades constituídas.
Os multiformes analfabetismos têm de sentir os tentáculos amputados por facas de afiadas e versáteis lâminas.
A homogeneização é inimiga do direito de cidadania(s), isto é, não se formam seres autónomos através de instrumentos de nível. Se calhar, os fios de prumo serão ferramenta mais adequada.
Para além das crianças às quais não se confere o direito de o serem, existem os adultos de bilhete de identidade com histórias de meninos nos medos e na exploração. Cabem aqui, particularmente, as mulheres sobre quem recaem discriminações no acesso ao conhecimento, no acesso ao emprego ... na valorização das potencialidades da sua condição própria.
Nós mães, nós professoras, elas filhas de duro berço de ouro ou de mantas de verdes ervas, todas temos de ensinar aprendendo e de aprender ensinando ao mundo que a partilha é imperativa!
Os estatutos são diferentes e os códigos também. Felizmente assim é, para que se construa a ponte de faixas diferenciadas convergentes para a mesma obra de arte.
A mobilização de recursos é indispensável mas só verdadeiramente eficaz quando está vestida de vontade política universalista sustentada.
Um critério de avaliação do desempenho de um governo será, sem dúvida, suportado pelo bem estar das crianças.

É tempo de Primavera! É Abril!

Abril de 1998
Iracema Santos Clara


  
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Edição:

N.º 67
Ano 7, Abril 1998

Autoria:

Iracema Santos Clara
Escola E.B. 2/3 Dr. Pires de Lima, Porto
Iracema Santos Clara
Escola E.B. 2/3 Dr. Pires de Lima, Porto

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