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Alguns parágrafos sobre acontecimentos do mês anterior

1. Internacional

No Mundo nada de novo

No mês em que o Parlamento alemão aprovou o alargamento da NATO a Leste; no mês em que o lider do Movimento dos Sem Terra, Adelson Brito, é assassinado, a tiro, no Brasil; no mês em que o antigo ditador chileno Augusto Pinochet foi indigitado como senador vitalício; no mês em que decorreu, em Paris, a conferência da ONU sobre a água; no mês em que o FMI adia a entrega de verbas à Indonésia; no mês em que um indigitado primeiro-ministro da China, Zhu Rongji, anuncia reeestruturação nas empresas públicas chinesas; no mês em que Bill Clinton, presidente dos Estados Unidos, inicia uma visita oficial a África; no mês em que Boris Ieltsin saiu da cama para demitir o Governo russo e ameaçar dissolver o Parlamento (Duma) se os deputados não aceitarem o sucessor por ele escolhido; no mês em que a resistência timorense anuncia a morte de Konis Santana; no mês em que o Governo brasileiro aceita a ajuda da ONU para o combate ao incêndio que consome a Amazónia; no mês em que prosseguem os massacres contra populações civis na Argélia; nada de importante parece estar a acontecer no Mundo, a julgar pelas agendas dos principais meios de comunicação social.

2. Nacional

Portugal ganhou uma ponte mas perdeu o cardeal

Em Portugal o acontecimento do mês de Março foi a inauguração da Ponte Vasco da Gama, entre o Montijo e a Expo'98, a maior ponte da Europa que já entrou para o livro dos recordes ('Guiness Book') por força de uma enorme feijoada (5 quilómetros de mesas) servida a uma multidão de comensais (cerca de 16.500 pessoas). Dos atropelos ecológicos desta obra não parece rezar a história.
Dias antes morrera D. António Ribeiro, cardeal-patriarca de Lisboa, o príncipe da Igreja Católica a quem coube a difícil tarefa da transição do antes do 25 de Abril para o depois do 25 de Abril. Sucessor de Cerejeira, D. António Ribeiro foi, na hora da morte, reconhecido como figura serena e inteligente por quase todos os sectores da vida política e social portuguesa, dos democratas cristãos do PP aos comunistas do PCP. A única voz dissonante que teve eco nos meios de comunicação social foi a de Francisco Louçã a apontar alguma ambiguidade de D. António Ribeiro aquando dos acontecimentos da vigília da paz na Capela do Rato.
Com a morte de D. António Ribeiro Portugal perde o único cardeal português. O sucessor de D. António Ribeiro assume o título de Patriarca de Lisboa mas não o de cardeal, dignidade a que só ascenderá por nomeação papal, não prevista para breve.
No dia do funeral de D. António Ribeiro, Lisboa assistiu a uma mais mais impressionantes manifestações de universitários. Foram mais de dez mil contra as propinas e contra o ministro da Educação. Este, que foi fotografado na outra multidão do dia, a do funeral, reagiu com veemência à manifestação dos estudantes, dizendo, na televisão, que ela não passava de um arranjinho entre comunistas, sociais democratas e a Academia de Coimbra e que esta tinha era o o dever de estudar.


  
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Edição:

N.º 67
Ano 7, Abril 1998

Autoria:

João Rita
Jornalista, Porto
João Rita
Jornalista, Porto

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