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A Decisão em Educação

No ultimo numero da Página (que, entretanto, já não foi o ultimo, mas o penúltimo, devido a avarias no circuito...) referi-me à realização dum colóquio em Lisboa sobre a temática Decisão em Educação e, concretamente, propus-me trazer ao conhecimento dos leitores algumas reflexões que, a esse propósito, me foram sugeridas.
Como se sabe, um colóquio não é apenas um conjunto de pessoas mais ou menos numeroso, com algumas afinidades em comum, que se juntam no mesmo espaço e tempo para trocar ideias entre si, acerca daquilo que as interessa.
Um colóquio, apesar de o termo remeter para uma conversa interna em que as pessoas se ouvem umas às outras acerca de matéria de interesse comum, pretende ser sempre uma forma de intervenção social, quer seja através dos efeitos que se espera se produzam sobre as pessoas que directamente participam nele, quer seja através dos meios de comunicação que se consiga mobilizar para o efeito, quer seja, ainda, sob a forma de efeitos diferidos repercutidos nas politicas e nas praticas. &ldots; claro que essa forma de intervenção social será tanto mais visível, quanto a temática seja por si actual ou a façam actual os que nela participam, através da explicitação de sinais sociais que funcionam como a expressão de necessidades sociais mal ou difusamente percebidas.
O VIII Colóquio da Secção Portuguesa da AFIRSE (Ass. Francófona Internacional de Investigação em Ciências da Educação) não fugiu à regra ao juntar os seus membros em torno do tema Decisão em Educação. E ao propor-se intervir sobre tal tema, o colóquio visava, antes de mais, captar esses sinais, tratá-los, isto é, descodificá-los e transformá-los, o que, evidentemente tem como pressuposto a construção dum código comum ou de códigos compatíveis, o que, por sua vez, implica a afinação de critérios, de perspectivas, de linguagens por parte dos participantes que assim vão transformando a sua própria perspectiva numa perspectiva comum, ou, pelo menos, representada como profissionalmente comum e por esta via que se criam solidariedades institucionais, se aprofundam lógicas de interesses, se afirmam lealdades e se constituem as comunidades cientificas. Nesse sentido, as Ciências da Educação, como comunidade cientifica, comungam da estratégia prosseguida por todos os grupos profissionais tutelados pelo espírito científico, seja a Ordem dos Engenheiros, seja a Sociedade dos Antropólogos.
Como era de esperar, tendo em atenção a matéria deste Colóquio, a natureza da intervenção terá de se interpretar num sentido mais simbólico que real (se é que não acontece o mesmo com todos os colóquios). Mas se, aqui, acentuo essa dimensão, como uma dimensão expressamente sublinhada, é para chamar a atenção para o facto de que a concentração do olhar das Ciências da Educação sobre a Decisão em Educação significa que ela se tornou um problema pedagógico central, para o qual os mecanismos que se foram usando até agora já não bastam, quer se entendam esses mecanismos como os usados pelo poder central, quer sejam os que se usaram nas escolas. Que outros são possíveis, eis a questão.

Manuel Matos


  
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Edição:

N.º 65
Ano 7, Fevereiro 1998

Autoria:

Manuel Matos
FPCE, Univ. do Porto
Manuel Matos
FPCE, Univ. do Porto

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