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Salazarismo, fascismo e regimes políticos afins

Podemos considerar que os regimes de direita, conservadores nos costumes, partidários da disciplina, autoridade do “chefe”, antidemocráticos, sem liberdade de expressão de pensamento e de partido único, são, em geral, fascistas ou afins. No início do Século XX, depois da 1ª Grande Guerra, deu-se um grande avanço deste tipo de ideologia. Esse facto verificou-se em Itália, pátria do fascismo de Mussolini, que exerceu enorme fascínio pessoal sobre Hitler, na Alemanha. O fascismo “é uma doutrina totalitária desenvolvida por Benito Mussolini na Itália, a partir de 1919 e durante seu governo (1922-1943 e 1943-1945). A palavra fascismo deriva de fascio, nome de grupos políticos ou de militância que surgiram na Itália entre fins do século XIX e começo do século XX; mas também de fasces, que nos tempos do Império Romano era um símbolo dos magistrados: um machado cujo cabo era rodeado de varas, simbolizando o poder do Estado e a unidade do povo. Os fascistas italianos também ficaram conhecidos pela expressão camisas negras” [http://pt.wikipedia.org/wiki/fascismo].
Mussolini pretendia tornar a Itália um novo Império Romano, mas a “sua” Itália foi apenas uma potência regional. Hitler, grande admirador de Mussolini, criou o nazismo, que podemos considerar um “ultra-fascismo”. No nazismo, para além dos traços fascistas, encontramos a ideia do assassínio de pessoas por serem portadoras de doenças, por terem certas crenças religiosas (Testemunhas de Jeová ou Judaísmo) ou por pertencerem aos “sub-humanos” – ideia fulcral do racismo nazi, que englobava todos os povos do mundo não “arianos”. Este regime produziu a 2ª Guerra Mundial e o holocausto.
O franquismo espanhol foi um regime fascizante, nascido com a ajuda da Itália fascista e da Alemanha nazi. Sanguinário, Franco conduziu uma revolta militar que desembocou na Guerra Civil de Espanha, que venceu. Impôs uma ditadura de direita fascizante. Portugal foi um caso muito interessante, com importância especial para nós. Na sequência da implantação da República (5 de Outubro de 1910), o regime democrático republicano foi incapaz de assegurar ordem social ou progresso.
Salazar emerge a partir do golpe militar de 28 de Maio de 1926. Constitui um regime a que chama “corporativo”. Faz do Presidente da República uma figura decorativa. Considera Portugal uno e indivisível do Minho a Timor. Aproxima-se de sectores conservadores católicos e monárquicos (cedo explica a estes que não restaura a monarquia). Cria a polícia política, pratica o desterro de opositores, a censura à imprensa, o campo de concentração (Tarrafal, em Cabo Verde).
Devemos notar que o salazarismo (como também é conhecido esse regime) foi uma espécie de fascismo sem movimento fascista. Salazar detesta multidões, tem uma voz desagradável e quer, essencialmente “ordem nas ruas e paz nos espíritos”. Consegue inventar uma variante de fascismo que foi, no essencial, um regime rural, com elevadas taxas de analfabetismo e pobreza. O futebol, a religião católica, o alcoolismo, serviram de escape à maioria da população. Salazar exerceu o poder de forma autoritária entre 1932 e 1968.
O “salazarismo sem Salazar”, já com Marcello Caetano no poder, foi derrubado em 1974. Depois do 25 de Abril, o termo “fascismo” foi amplamente usado para designar o salazarismo, tendo sido criada a Comissão do Livro Negro sobre o Fascismo, em 1978. Acrescentemos que Salazar foi o criador de um “fascismo fraco”, diferente do franquismo (bem mais repressivo) e muito diferente do regime de Mussolini ou do nazismo (“hiper-fascismo”). O problema do salazarismo foi ter moldado os portugueses contemporâneos, habituando-os à omnipotência do Estado, à falta de capacidade crítica, à falta de consciência cívica, à ausência de espírito associativo.
Outras variantes deste modelo político foram o peronismo e a ditadura militar (Argentina) e o regime de Pinochet (Chile). Nos nossos dias podemos considerar a existência de inúmeras variantes de fascismo: em África, em países islâmicos, em Myanmar – antes Birmânia, onde uma estranha ditadura militar exerce o poder de forma despótica –, a sobrevivência de regimes antidemocráticos de direita subsiste. Note-se que não é, de forma alguma, desajustado considerar que o actual regime político chinês é “social-fascista”, pois sob a capa de um partido dito comunista, exerce-se uma ditadura feroz de cariz fascizante e orientação económica ultra-capitalista.

Carlos Mota

Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro


  
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Edição:

Edição N.º 190, série II
Outono 2010

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