Em Julho fomos bombardeados com as conclusões da avaliação externa da Iniciativa Novas Oportunidades (INO). [...] A apresentação da notícia na televisão, não me deixou indiferente: “a Iniciativa Novas Oportunidades não trouxe ganhos em termos laborais. Apenas contribuiu para o aumento da auto-estima dos adultos certificados”... É lamentável, que ainda hoje, se tenha a prepotência de menosprezar a auto-estima, mais ainda em relação à população-alvo dos centros de Novas Oportunidades (CNO). [...] Em tom de esclarecimento: os candidatos dos CNO, na sua maioria, são pessoas fragilizadas pelo sistema de ensino por que passaram e frustradas com o mercado de trabalho actual; saíram da escola aos 10/11 anos para ir trabalhar, numa época em os filhos eram encarados como fonte de rendimento; trabalharam 20/30 anos [...] e agora vêem-se desempregadas e sem qualificações... O que fazer? Quais as alternativas? [...] A Comunicação Social reforçou ainda que a INO não trouxe oportunidades de trabalho aos adultos certificados. Devo elucidar que a INO se insere no âmbito da Educação e Formação de Adultos, não lhe competindo proporcionar oportunidades de emprego – para tal, existe o Instituto de Emprego e Formação Profissional. [...] O facilitismo foi outro aspecto amplamente difundido na Comunicação Social e no senso comum, decorrente da falta de conhecimento e experiência de campo. Já agora: mais fácil ou não em relação a quê? [...] Saliento que as equipas dos CNO são formadas pelos mesmos professores/formadores do ensino regular, sendo o grau de exigência igual ou, algumas vezes, superior ao nível a certificar. No meu percurso académico (17 anos) consigo detectar algum facilitismo. Por exemplo, na escola primária, após as aulas, ia para casa estudar e outras crianças da minha turma iam directas para o campo fazer a ordenha das vacas. Provavelmente tive facilitismo por parte dos meus pais. [...] Mas lembrem-se dos que não tiveram a nossa “Oportunidade” e que actualmente têm uma “Nova Oportunidade”! Devemos valorizar o seu esforço e espírito de sacrifício para, estando a trabalhar e com família constituída, decidirem aumentar as suas qualificações. Quando nós, licenciados, entramos no mercado de trabalho, muitos da nossa idade já lá estão há 10-15 anos. [...] Tal argumentação não pretende, de modo algum, confirmar facilitismo na INO, porque não existe, pelo menos de forma generalizada e caracterizadora, como pretendem atribuir ao programa. Provavelmente existe, como existe nas entradas precoces no ensino primário, nas passagens de ano lectivo, nas notas de frequência para “segurar” exames nacionais, nos externatos das grandes cidades, onde proliferam os alunos brilhantes e, mais subtil, mas em maior escala, no Ensino Superior. [...] Face às fragilidades trazidas pelos candidatos, fomentadas pelas vicissitudes da vida, é de uma extrema falta de sensibilidade desvalorizar todo o trabalho realizado pelas equipas dos CNO ao nível da auto-estima e da motivação dos adultos certificados. É de louvar que pelo menos um programa, neste “Portugal dos Pequenitos”, valorize a pessoa humana, pois só assim sairemos da crise social em que nos encontramos.
Susana Alves de Paiva
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