O estudo da antropologia urbana, que segundo Burke “se centra sobre a forma de viver dos camponeses emigrados e as ‘aldeias urbanas’, as comunidades existentes no interior das cidades”, traz à tona identidades políticas e culturais. Essa busca pela antropologia se deve à intensidade com que surgem bairros de identidade específica, com moradores ou freqüentadores de características únicas e similares. Antropólogos e historiadores concordam sobre a importância das relações de parentesco para esclarecer o enredo da urbanização das cidades, uma vez que um dos fenômenos que está na origem dessa urbanização começa pela chegada dos seus próprios moradores, pelo início da expansão populacional: a migração. A estrutura nacional para receber os novos moradores era, na verdade, precária, sendo que grande parte dos investimentos nesse sentido não eram públicos, mas arcados por companhias fundadas por particulares. O Império, portanto, mantendo-se isento das responsabilidades, restringiu-se a garantir que se fizesse a propaganda do país na Europa. Segundo Roger Stoltz, os recém-chegados acabavam por se sentir muito sozinhos e com uma enorme carga de responsabilidades, como a de cultivar a terra – que, não raro, era uma mata sem nenhum preparo anterior – e sustentar a família. Diante dessa situação, muitos enviavam cartas aos seus parentes pedindo-lhes que viessem ajudar no cultivo, exaltando as maravilhas do país e omitindo a situação precária na qual se encontravam, na esperança da vinda do resto da família. Estes, acreditando nas palavras de seus parentes necessitados, emigravam. Começa aí o fenômeno de aglutinamento de imigrantes de uma mesma região da Europa em determinados lugares do Brasil, como uma resposta aos apelos dos que aqui chegaram primeiro. Com essa nova estruturação, os espaços ocupados pelos imigrantes e seus descendentes foram se expandindo, ajudados pelo fluxo intenso de estrangeiros que se refugiavam perto daqueles com quem possuíam traços em comum, como a história, as memórias, a origem e o dialeto. Ao analisarmos – nos dias atuais – bairros bem definidos, que se distinguem pelas nacionalidades, tipos de serviços que lá são encontrados e pela própria cultura herdada, percebemos que ainda prevalecem resquícios da união familiar: mesmo situando-se dentro de um espaço que lhe é semelhante, cada casa é um universo próprio. Tudo isso contribui para dar às cidades o aspecto de multiplicidade que tanto fascina antropólogos, sociólogos e historiadores.
Camila Garcia Plínio Corrêa Júnior
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