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Continuar o Dia D de braço dado com a luta

A mobilização dos professores para o dia D, que ocorreu a 15 de Abril passado, proporcionou, em muitas escolas, um debate franco, não só sobre a situação actual das reivindicações sindicais, nomeadamente sobre o famoso "entendimento" da Plataforma Sindical com a Senhora Ministra da Educação, como sobre as questões internas com que cada escola se tem debatido.
Independentemente do facto de terem estado nestas reuniões 50 ou 90% dos docentes de cada escola, o que interessa é que houve a oportunidade de se cruzar opiniões e ideias que, na representatividade que cada professor tem através do respectivo coordenador de departamento em Conselho Pedagógico, não chegam a emergir na maior parte das vezes. Estas reuniões tiveram o grande mérito de mostrar que as Assembleias de Professores, para além das formalidades de abertura e encerramento do ano lectivo, deveriam ocorrer com mais regularidade nas escolas, ao longo do ano. Porque, sem deixar de ter todo o respeito e sem deixar de reconhecer o enorme contributo que todos os outros elementos da comunidade educativa podem dar, há que considerar e continuar a defender que é aos professores que cabe uma grande fatia da gestão do quotidiano das escolas. E sendo assim, a activação de verdadeiros trâmites onde a democracia se exerça é indispensável. Mais que não fosse, só por isso teria valido este dia D.
O Dia D foi, porém, a continuidade do 8 de Março, data inesquecível em que cem mil professores saíram à rua: juntos apesar de terem na sua escola opções pedagógicas diferentes, reunidos mesmo com opiniões diferentes sobre a gestão das escolas, de braço dado ainda que uns pudessem ser considerados bons, outros muito bons, alguns excelentes. Unidos. Em defesa da sua classe profissional que, haja o que houver, continuará a ser uma das mais dignificantes em Portugal e no Mundo. (Re)-unidos porque, venham os apaziguamentos que vierem, já não há tempo para se fazer esquecer estes cerca de três anos de grande falta de respeito, de desonra permanente. Nós, professores - mesmo aqueles que inicialmente considerámos que uma ou outra medida poderia estar correcta - já não vamos a tempo de fazer das tripas coração e de ser capazes de gostar qualquer coisinha ou confiar na nossa Ministra ou neste Governo; por mais que quiséssemos. É impossível.
A questão do entendimento, não sendo senão um pequeno avanço por parte da Plataforma Sindical, reveste-se, contudo, de um significado profundo: pela primeira vez, Sua Ex.ª chamou os sindicatos, pois percebera que os professores têm muita força neste país; e recuou nalgumas coisas, admitindo não ser senhora absoluta da verdade.
No entanto, como membro do Conselho Nacional da Fenprof, dou o meu total apoio à equipa do secretariado que Mário Nogueira encabeçou (e creio ser insuspeito, pois é público que não apoiei a sua candidatura a possível secretário-geral da Fenprof, apesar de o respeitar totalmente enquanto tal); porque acredito que a luta dos professores estava a radicalizar-se e envidar caminhos sem saída; porque sei que é mais fácil ter cem mil num sábado em Lisboa do que 80% a fazer greve numa escola (independentemente dos bons resultados, ultimamente). Porque sei que os próprios professores não aguentam todos os sacrifícios do mundo. E sobretudo porque, grão a grão, enche a galinha o papo.
Uma aprendizagem importante é também o facto de os professores voltarem a reaprender que os Sindicatos - como quer fazer crer, muitas vezes, o discurso oficial - não são entidades anónimas que vivem abstractamente do outro lado do espelho do Ministério. Os sindicatos são representantes dos professores, ocupando aqui a Fenprof um lugar de destaque já oficialmente constatado.
Neste dia D, a presença de vários professores de diferentes sindicatos ou federações ou, muitos deles, sem serem sindicalizados, mostrou a conscientização de que a força dos sindicatos é afiançada pelo apoio e força dos professores, em cada local de trabalho.
Por isso, apesar de se concordar que a andar se faz caminho - pouco a pouco em passo certo - ficaram os Sindicatos mandatados para continuar a luta. E a senhora Ministra avisada de que, em caso algum, deverá voltar com a palavra atrás, ou sequer ligeiramente deturpada. Ela que se cuide. Porque a alma dos professores é e será grande.

Rafael Tormenta


  
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Edição:

N.º 178
Ano 17, Maio 2008

Autoria:

Rafael Tormenta
Professor do Ensino Secundário
Rafael Tormenta
Professor do Ensino Secundário

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