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As concepções de aprendizagem segundo a fenomenografia

Diante da emergência do que se convencionou chamar "economia do conhecimento", exige-se do aluno um cada vez maior empenhamento e autonomia no aprender. Roga-se que ele aprenda de forma auto-regulada, através da capacidade de seleccionar, compreender e transferir as informações adquiridas às situações quotidianas, ao longo de toda a sua vida.
Nesse sentido, por sua vez, o ensino, deve deixar de privilegiar o acumulo do conhecimento e passar a promover a construção de significados pessoais. Entretanto, uma análise ecológica do complexo fenómeno da aprendizagem, indica que a mudança dos contextos escolares depende de modificações objectivas, tanto quanto depende de modificações subjectivas.
Procurando explicações mais completas e realistas sobre a forma como se aprende, em 1976 Marton e Säljö criaram uma teoria denominada fenomenografia, que investiga o processo de aprendizagem a partir da experiência do próprio aluno, centrando-se na compreensão das diversas formas com as quais as pessoas representam esse fenómeno nas suas consciências.
Através da análise dos discursos pessoais, procura-se mapear qualitativamente, as maneiras pelas quais os indivíduos experienciam, conceitualizam, percebem e compreendem os vários aspectos da realidade e do mundo. Estes autores defendem que para compreender a aprendizagem de forma abrangente, é preciso compreender os seus aspectos a partir da perspectiva do próprio aluno.
Deste modo, e seguindo uma linha construtivista, a fenomenografia realça que os alunos se comportam não apenas em função dos dados objectivos característicos do processo de ensino-aprendizagem, mas especialmente em função da forma como os percebe e concebe.
Os estudos das concepções de aprendizagem fizeram destacar que existem basicamente duas formas de representar o aprender: quantitativa e qualitativa. A primeira caracteriza-se pela memorização, recolha e acumulação mecânica das informações e a segunda pela compreensão, construção do conhecimento, abstracção de significados, interpretação pessoal da informação e relacionamento do conhecimento formal com a realidade e a experiência.
Essas duas formas qualitativamente distintas de conceber a aprendizagem, estão relacionadas com os modos com os quais os alunos abordam esse fenómeno (estudam), com os seus aspectos pessoais (cognitivos, afectivos, interpessoais), com os aspectos do contexto (conteúdos, métodos, materiais, objectivos e recursos educativos), e também com os seus resultados escolares.
Dessa forma, as concepções de aprendizagem possuem um desenho relacional, porque não são apenas uma característica do aluno e nem do contexto, mas se estabelecem na relação entre eles.
Mas porque é importante utilizar esse modelo? Enquanto professores, deveremos ser capazes de ensinar para a construção de sentidos e substâncias. Porém, será que os nossos métodos promovem a compreensão? Será que as nossas aulas não são exageradamente expositivas? Será que não valorizamos demais as classificações escolares?
A preocupação pela construção do conhecimento por parte do aluno, assim como, atribuir a ele a responsabilidade pelos seus processos e produtos de aprendizagem, abriga-nos a reflectirmos sobre o que eles pensam sobre a forma como se aprende, do mesmo modo, que também nós, devemos ser capazes de reflectir e reconstruir as nossas próprias concepções.
Admitindo que o nosso papel, é também um tanto quanto "clínico" e relacional, devemos estar aptos para reflectir, diagnosticar e apoiar a reconfiguração das concepções de aprendizagem por parte dos alunos.
Todos eles possuem concepções de aprendizagem, mesmo que não se apercebam disso, tais concepções, ainda que não explicitamente assumidas, porque relativamente inconscientes, influenciam enormemente o seu modo de ser, fazer e estar na escola e no mundo.
Por isso, importa desenvolvermos uma higiene educativa ajudando os nossos alunos a reflectirem sobre as suas concepções e tendo como objectivo uma aprendizagem cada vez mais rica e auto-regulada. Que tal começarmos, fazendo a nós mesmos e a eles, três perguntas fundamentais para a reconfiguração do ensino e da aprendizagem, o que é aprender, como se pode aprender, e aonde se pode aprender?

Leituras sugeridas:

  • Freire, L. (2008). Concepções de Aprendizagem em Estudantes Universitários Brasileiros (dissertação de mestrado não publicada). Lisboa: FPCE da UL. 
  • Duarte, A. (2002). Aprendizagem, ensino e aconselhamento educacional: uma perspectiva cognitivo-motivacional. Porto: Porto editora.

Luiz Gustavo Lima Freire


  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 177
Ano 17, Abril 2008

Autoria:

Luiz Gustavo Lima Freire
Psicólogo, mestrando em Psicologia da Educação pela Faculdade de Psicologia e Ciências da educação da Universidade de Lisboa.
Luiz Gustavo Lima Freire
Psicólogo, mestrando em Psicologia da Educação pela Faculdade de Psicologia e Ciências da educação da Universidade de Lisboa.

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