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Amigos para sempre

Uma crítica à inépcia do processo para se conseguir obter uma justa avaliação no desempenho docente

Parece-me que existem profissionais cujo desempenho não se adequa a uma avaliação mensurável. Todas as profissões em que não é possível separar o "eu pessoal" do "eu profissional", tais como professores (ou ministros, sem qualquer ironia), nunca se conseguirá obter uma avaliação justa, pois "jamais" (com sotaque francês e, aqui, com ironia) se conseguirá verificar se estão a fazer o melhor que podem, e devem, nas áreas de (a) ensino, (b) formação e (c) educação (acrescentando-se também o investimento material dos próprios), pois, é neste âmbito onde deveria incidir a avaliação de desempenho dos professores (destaco: professores). Estas áreas podem dividir-se em três vertentes avaliativas (não vejo outras): (1) cientifica, (2) pedagógica e (3) cumprimento de procedimentos. Ora, nesta última todos se podem avaliar uns aos outros. Mas nas outras será necessário, entre diversas coisas, que os avaliadores tenham um grau académico igual ou superior ao avaliado, na correspondente vertente e na correspondente especialidade. Caso contrário a acreditação académica das universidades deixa de ter qualquer sentido e, embaraçosamente, os avaliadores também não terão "bagagem" cultural e ética para contrariar o avaliado ou podê-lo classificar. Conseguem de certeza classificar de excelente aquele que nunca esteve doente e que nunca faltou, ou aquele que entregou dentro do prazo todos os "papeizitos solicitados pelo chefe", mas nunca conseguirão saber se é bom professor mesmo que voluntariosamente se pretenda obter alguma coisa com a observação de 2 ou 3 aulas.
Com itens de avaliação do tipo "empenhamento e qualidade" (dois critérios distintos e juntos no mesmo "saco"), voltamos ao mesmo, ou seja, voltamos à incongruência da avaliação baseada em opiniões. Facilmente se constatará que todos os nossos amigos terão um excelente empenho e uma excelente qualidade. Parece-me que a melhor metodologia, em vez de ser imposta por pessoas que não respiram na escola, seria ouvir os que "vivem lá dentro" com uma pergunta tão simples como esta: como querem ser avaliados?
Outra das incompreensões destes aparentes ataques à classe docente surge quando pretendem obrigar os professores a fazer um exame depois de concluírem um curso, que foi objectivamente direccionado para a profissão, antes de se iniciarem na realidade do trabalho. Deduz-se deste modo uma de duas coisas: que as nossas universidades, e seus professores, não têm qualidade (o que é lastimável para os senhores professores doutores) ou então que o estado não as consegue controlar. Arrisco-me a dizer, pelo que tenho observado, que a selecção dos professores se faz naturalmente. Os que não aguentam a pressão (que a há) ou os que não se adaptam (que os há) saem e mudam de caminho sem "ninguém" os forçar.
Não seria necessário mostrar ao público que as instituições do estado, criadas e promovidas por ele, não são de confiança.

Luís Filipe Firmino Ricardo


  
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Edição:

N.º 177
Ano 17, Abril 2008

Autoria:

Luís Filipe Firmino Ricardo
Professor do Ensino Secundário, Marinha Grande
Luís Filipe Firmino Ricardo
Professor do Ensino Secundário, Marinha Grande

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