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Exploração do espaço
O primeiro satélite artificial da Terra - Sputnik-1 - foi lançado a 4 de Outubro de 1957. Era uma esfera metálica portadora de um rádio-emissor que sinalizava a sua passagem.
O acontecimento foi recebido com surpresa por todo o mundo, com incredulidade por alguns, que até negaram a possibilidade desse facto, e com despeito e até receio por outros. Mas foi de facto o primeiro passo na exploração directa do espaço exterior e da viagem ao espaço interplanetário.
Pouco depois, a 3 de Novembro, a União soviética lançou um segundo satélite, este com uma cadela a bordo, visando confirmar a capacidade de sobrevivência ao lançamento e à vida a bordo de um ser vivo superior.
Os EUA lançaram com sucesso o seu primeiro satélite, Explorer-1, a 31 de Janeiro de 1958. Era um satélite mais ligeiro, mas que transportava um detector de radiação que em breve confirmou a existência das faixas (de radiação corpuscular) denominadas de Van Allen em torno do nosso planeta.
As duas super-potências estavam em evidente disputa pelo domínio do espaço ? e da opinião pública. Os respectivos esforços, até então dirigidos para potentes mísseis de longo alcance, dirigiram-se então para o lançamento e instalação de "plataformas no espaço" ? o que ambas conseguiriam seguindo pistas e soluções diferentes. Numa reunião de emergência em Março de 1958, dirigentes governamentais e do complexo militar-industrial norte-americano, em que a indústria aeroespacial tinha já presença importante, decidiram como meta mais urgente colocar um homem em órbita terrestre, para tal recorrendo ao lançamento de uma cápsula por um míssil, ultrapassando os estágios de desenvolvimento em curso de uma nave espacial reutilizável, o futuro e bem sucedido "space-shuttle".
Mas a 12 de Abril de 1961, Yuri Gagarin a bordo do Vostok-1 foi o primeiro homem colocado em órbita e a observar o "planeta azul". Após este sucesso da União Soviética, logo a 5 de Maio, Alan Shpeard foi o primeiro norte-americano a efectuar um voo sub-orbital. A corrida ao espaço continuou, sendo de recordar: a primeira missão tripulada à Lua, quando Neil Armstrong pisa o solo lunar a 20 de Julho de 1969; o space-shuttle Columbia realiza com êxito o seu primeiro voo tripulado de vai e vem em torno da Terra a 12 de Abril de 1981; a estação espacial tripulada MIR é construída bloco a bloco, entre 1986 e 1996, e é ocupada permanente até 2001.
O 50º aniversário do lançamento do Sputnik-1 foi assinalado no centro de treino de cosmonautas nos arredores de Moscovo e no muro do Kremlin onde foram depositadas flores no túmulo de Sergei Korolyov, o cientista que dirigiu o primeiro programa espacial soviético.
O aniversário também foi assinalado conjuntamente pelo administrador da NASA e o presidente da Agência Espacial da Federação Russa, num acordo para a cooperação na localização de água na Lua e em Marte, por via de instrumentos russos colocados a bordo de veículos norte-americanos - o Lunar Reconnaissance Orbiter, a ser lançado em Outubro de 2008, e o Mars Science Laboratory, a ser lançado em 2009.
Hoje devemos reconhecer a enorme importância desses sucessos históricos. Os satélites artificiais tornaram-se poderosos instrumentos de observação da Terra e do Sol e de exploração do espaço exterior. Podemos utilizar um sistema de navegação por satélite como o GPS para navegar no mar ou viajar nos labirintos de uma metrópole. Podemos comunicar quase instantaneamente através do globo, mediante uma extensa rede de telecomunicações (TV, Internet) que integra satélites também. Podemos aceder ao Google Earth e, mediante a sua extensa base de imagens, "viajar"sobre a superfície da Terra.
E mesmo a exploração do nosso sistema solar, bem como do espaço cósmico distante, encontraram nos satélites os suportes com que puderam ser relançadas, com alcance e repercussão inimagináveis. As próprias viagens no espaço e interplanetárias, até à Lua e Marte, já até Saturno e Júpiter, tiveram aí o seu empolgante ponto de partida.
Porém, corre-se hoje de novo o risco da militarização e de uma corrida armamentista no espaço exterior. Tal como o lançamento dos primeiros satélites foi viabilizado por potentes foguetões, cujo desenvolvimento decorreu de objectivos militares, também certos satélites podem ser e são mesmo utilizados como instrumentos de vigilância e comando para fins militares. A Strategic Defense Initiative conhecida por "guerra das estrelas" foi lançada em 1983 (com Ronald Geagan), para ser retomada dez anos volvida na forma de Ballistic Missile Defense (sob Bill Clinton). Actualmente, a anunciada instalação de dispositivos "Missile Shield" ("escudo anti-missil") na Europa de Leste é objecto de acesa controvérsia, quer pela eficácia dos seus propósitos, quer pela escalada de militarização que esse passo perigoso não deixará de provocar nas partes que se considerem por ele ameaçadas ou atingidas.
A exploração do espaço exterior tem-se revelado preciosa nos seus resultados e como forma de frutuosa cooperação entre nações. O espaço exterior deve ser desmilitarizado a bem de toda a humanidade.

  
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Edição:

N.º 172
Ano 16, Novembro 2007

Autoria:

Rui Namorado Rosa
Univ. de Évora
Rui Namorado Rosa
Univ. de Évora

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