A cadeira de Ecologia Urbana do 5º ano, da Licenciatura em Arquitectura, orientou-se, como nos anos anteriores, numa perspectiva estratégica sobre o desenvolvimento ecologicamente sustentável usando-se uma metodologia de investigação, viagens de estudo, conferências e workshops que permitiram a realização dum dossier e de um blogue da referida cadeira (http://ecologiaurbana.blogspot.com). O painel exposto é apenas uma parcelar "imagem-desejo" realizada pelos alunos, que testemunha um projecto sensível, susceptível de vir a ser concretizado no futuro. Esta estratégia pedagógica pretende dar visibilidade ao invisível, permitindo potenciar "o princípio da esperança" (Ernest Bloch) de maneira a que o elemento utópico ganhe uma dimensão do possível concreto. Este texto-manifesto, escrito pelo professor da cadeira, constituiu um propósito pedagógico que deu corpo à reflexão e investigação feita durante o ano lectivo e que alargou o objecto de estudo do ano anterior, circunscrito apenas ao edifício da FAUP, para um território mais vasto ? Pólo Universitário. Assim a estratégia foi transformar um campus abandonado e triste num Eco-Pólo.
Tema: Concurso de Ideias Proposto pelo Conselho de Ministros do Governo de Transição do Ano I da Era Ecológica
1. Pressupostos
Os desafios que a humanidade terá de enfrentar nesta nova era ecológica são:
- O esgotamento energético, as poluições globais e em especial as mudanças climáticas;
- A emergência duma urbanização crescente (desertificação do interior, centralismo das megapólis e aparecimento das metapólis);
- A comunicação global na era da informática (indústria cultural e redes de Internet);
- O aparecimento de novas dinâmicas sociais (novas relações sociais e familiares, movimentos migratórios inter e transculturais);
- Os condicionalismos sócio-económicos (novas formas de trabalho e formação bem assim como desemprego e mobilidade social alargando cada vez mais o grupo de seniores com capacidade de intervenção cívica e social mas que deixaram o mundo habitual do trabalho e também o aumento da exclusão social);
Na arte, a cultura e o ensino têm uma crise instalada que mostra a encruzilhada em que vivemos mas pré anuncia também uma viragem necessária. E essa hora da mudança chegou. É necessária uma revolução cultural e eco-tecnológica. E a Universidade está no centro das grandes transformações.
2. Linhas de Força
O fosso que tem existido entre as instituições universitárias e o público em geral, é fruto da crise instalada na própria sociedade. Hoje, exigem-se quadros dinâmicos capazes de uma aprendizagem concreta. É preciso produzir uma cultura futurante, cada vez mais ligada a uma vida que se vai transformando diante dos novos desafios. O ensino ligado à Vida é essencial para a emergência deste novo paradigma ecológico!
3. Tarefas
O empenhamento pessoal e a participação cívica são valores imprescindíveis para a democracia social. Também a formação contínua ajudará a ultrapassar as injustiças dos acessos ao saber e permitirá a emergência duma sociedade de cooperação face à sociedade de exclusão social. A formação cultural junto da imigração é cada vez mais importante, criando-se uma dinâmica mais rica para a cultura e para a sociedade, graças à multi, inter e transculturalidade. A delinquência e a xenofobia têm que dar lugar ao diálogo de civilizações e ao enriquecimento mútuo das culturas, graças às diferenças. Os seniores constituem um factor importante. Cada vez é maior a massa de cidadãos disponíveis para uma vida social, criativa e cívica se lhes for facultada uma adequação sócio-pedagógica da vida pós-laboral em prol da comunidade e do interesse público.
4. Os meios práticos
As Universidades deverão ser dotadas de oficinas criativas.
A sensibilização ecológica aos materiais, às energias e aos valores do desenvolvimento ecologicamente sustentável, devem ser vivenciados e apreendidos em todos os espaços adequados e adaptados a uma formação transdisciplinar. As salas bioclimatizadas, os utensílios e mobiliário pedagógico e até mesmo o jardim agro-ecológico, constituem a eco-logística para todos os sectores da Universidade. Na zona central do Campus Universitário situa-se a mediateca com oficinas. A produção de documentação mediática (livros, fichas pedagógicas, revistas, discos compactos, dvd, etc.), realiza-se na oficina de multimédia articulando um espírito crítico com vocação sócio-pedagógica para implementar o pensamento reflexivo (filosofia). A cantina, a piscina biológica e o ginásio, constituem várias estruturas espaciais disponíveis para estudantes e para a comunidade envolvente. Também outras estruturas pedagógicas, em horários diferentes, estão disponíveis para a população em geral e constituem o apoio à formação contínua: as oficinas do imaginário, o teatro e o cineclube, os vários ateliers de escultura, pintura, cerâmica e desenho, clubes de leitura e de escrita criativa. Outras oficinas irão constituir uma ligação à arquitectura, paisagismo e urbanismo: . Eco-construção; . Eco-urbanismo; . Energias renováveis; Diversas manifestações culturais: ciclos de cinema e teatro, exposições, festivais, conferências e work-shops, serão organizados para toda a cidade, retirando à universidade o carácter de "gueto" em que funcionava no passado.
5. Sócio-Pedagogia / Métodos Dumazedier, Ivan Illich e Edgar Morin são exemplos defensores de democraticidade e participação das populações no processo cultural. É preciso cultivar um olhar macroscópico, articulando o global com o local e a singularidade com a universalidade, de modo a aprofundarmos a cidadania participada e consciente na estratégia e gestão da futura eco-pólis. Para isso, é preciso também alargar a intervenção sócio-pedagógica a outras regiões, participando na descentralização cultural do País.
6. Programa Logístico
O núcleo essencial do espaço do Campus Universitário assenta numa estrutura cultural (mediateca, biblioteca, arquivo, audiovisual, cinemateca, teatro) e numa estrutura ligada à saúde e bem-estar. Várias áreas de educação física e a piscina biológica ligam-se à zona de jardins onde se encontram também o jardim de Infância, o ATL e o Jardim de Aventuras para crianças. Sistemicamente ligado a essas estruturas aparecem as actividades agro-ecológicas constituídas por hortas, pomares e pequeno bosque que servem de investigação-acção no ensino e fornecem a base alimentar para a cantina. A este sector agroecológico ligam-se também jardins filtrantes para a reciclagem da água. A reserva de água ligada à piscina biológica é alimentada pelo aproveitamento das águas, nomeadamente pluviais, recolhidas nos telhados dos vários edifícios. O sistema climático desses edifícios integra vários processos passivos de bioclimatização (estufas, telhado verde, poço canadiano e poço provençal, geotermia, etc.) utilizando também o apoio das energias renováveis como a energia solar, eólica e biomassa. Todos estes edifícios foram estruturados em termos bioconstrutivos tornando-se sustentáveis ao nível das energias renováveis, sendo mesmo capazes de produzirem energia renovável excedente para uso da comunidade. Os protótipos de energias renováveis (eólicas, acumuladores termosolares, painéis de fotopilhas, etc) constituem uma mini-central do Campus que permite disponibilizar toda a energia renovável para a cidade. As várias Faculdades e Departamentos do Campus Universitário cuidarão dos vários sectores que referimos e que serão campos de trabalho para a própria eco-aprendizagem.
7. Organização das Etapas
Organizar um plano onde se refira a transição das várias etapas construtivas e do funcionamento das futuras actividades. Mostrar nesse plano a metamorfose orgânica do território nas várias etapas temporais.
Nota: As imagens foram organizadas pelos alunos Ana Simões, Ana Carolina Coelho, Nuno Duarte, Sara Ribeiro, Daniela Marques e Vítor Segarra com o apoio da restante turma.
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