Na escola do bullying
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Mal o professor entrou na escola, depois da sua hora de almoço, Daniela correu para ele com o rosto bem avermelhado e cheio de lágrimas. - O que se passa? ? perguntou o professor. - Os seus alunos bateram-me. Eram quatro ? replicou a menina, soluçando incessantemente. - Vai ter comigo à sala. Vamos resolver isso ? indicou o professor. Enquanto alguns alunos ainda se sentavam, o professor pediu a atenção de todos, pois era necessário realizar uma reunião extraordinária da Comissão de Ajuda. - Porquê professor? ? perguntou o Manuel. A razão tinha acabado de entrar na sala. - Esta menina diz que foi agredida por quatro meninos desta turma. Quero saber o que aconteceu no recreio ? respondeu o professor. E perante os dezoito meninos, Daniela contou o que se tinha passado no recreio da escola. O Pedro, o Paulo, o Rodrigo e o Diogo juntaram-se para a pontapear, esbofetear e puxar os cabelos. - E tu, Daniela, fizeste alguma coisa que justificasse a atitude destes meninos? ? confrontou o professor. - Não?eu só lhes disse para irem brincar para outro lado, porque me estavam a incomodar. - Ui, que mentirosa. Tu vais levar?. ? bracejava o Rodrigo. - Parece que tens uma opinião a dar sobre o assunto, Rodrigo. Foi isto que se passou? ? perguntou o professor. Rodrigo falou e falou, mas nem tudo o que dizia se percebia, visto que ele tinha alguns problemas de linguagem. Porém, admitiu e denunciou os restantes colegas que participaram no acto algo selvático. Depois de vários depoimentos, que confirmaram a história de Daniela, o professor lançou a seguinte pergunta: - O que se deve fazer para que eles melhorem o seu comportamento? - Eu acho que deveriam ficar de castigo! ? referiu o Henrique. - Aqui não há castigos. Eles deveriam ficar sem os direitos ? corrigiu a Paula. - Isso mesmo, sem todos os direitos ? reforçou a Filipa. - Pensem um pouco?. Se eles ficarem sem o direito de jogar computador na sala, o problema ficará resolvido? - Não. Eles têm de ficar sem o direito de brincar no recreio, porque foi lá que eles bateram na Daniela ? respondeu a Sara. Concordo contigo, Sara ? afirmou o professor. - Vamos votar, vamos votar! ? gritava o Tomás. - Votar o quê, Tomás? ? questionou o professor. - A proposta da Sara ? respondeu ele prontamente. - Espera, eu tenho outra proposta! ? declarou a Mariana. Em vez de perderem os direitos, eles deveriam ter outra oportunidade. Os guardas da escola deveriam vigiá-los para que eles não voltassem a bater. Perante as duas propostas, procedeu-se à votação, tendo a maioria decidido que o Rodrigo perdia o direito de ir brincar no recreio e que os restantes três meninos seriam observados pelos guardas da escola. - Não é justo, não é justo ? gritava o Rodrigo, já com fartas lágrimas nos olhos. - Ele tem razão! Ele tem razão! Não é justo que só ele perca o direito de brincar no recreio, quando todos eles bateram na Daniela ? alertou o António. - Qual é a vossa opinião? Querem repensar a votação? ? lançou o professor. O barulho era intenso. Todos queriam falar. O dever de levantar o braço estava a ser esquecido. Daniela já punha as mãos nos ouvidos. No fim, o Rodrigo perdeu o direito de brincar no recreio, durante três dias, enquanto os outros tinham sido penalizados apenas com um dia. A justificação não deixava margens para dúvidas: o Rodrigo tinha agredido mais violentamente a Daniela, puxando os cabelos repetidamente. Como este caso de violência não era único na escola, convocou-se uma Assembleia de Escola. Sob a presidência do Arnaldo, cheio de mania devido ao brinquinho na orelha esquerda, todos os alunos tiveram a oportunidade de expor os seus pontos de vista. - Os professores nunca nos dão bolas ou cordas para brincar no recreio. Dizem que é material de educação física e que não há dinheiro para comprar mais? ? reclamou o Duarte. - Que porcaria de escola ? sussurrava o João. Tens toda a razão, rapaz! ? pensava para consigo mesmo um professor sentado mesmo ao lado dele.
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Ficha do Artigo
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Edição:
Ano 16, Junho 2007
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Autoria:
Ponta Delgada. Açores
Ponta Delgada. Açores
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