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A imagem da biblioteca escolar

A imagem das bibliotecas em geral é, actualmente, uma imagem claramente estereotipada. Um espaço grave e soturno, sinónimo de concentração profunda, onde raramente se vai e quase nada se passa, tendo os termos "Biblioteca" e "Bibliotecário" adquirido um valor mítico, consagrado através de uma utilização de centenas de anos. Pensadas para quem gostava ou precisava de ler, as bibliotecas funcionavam perfeitamente em espaços fechados, solenes, silenciosos e até soturnos.
A partir do momento em que se passou a encarar a biblioteca como um centro de recursos vivo e dinâmico, estímulo cultural indispensável na escola e na comunidade, tudo teve que ser repensado.
A «dessacralização» da biblioteca e do próprio livro, tendo este deixado de ser o suporte de informação quase exclusivo pela introdução de designado "material não livro", levou a que a biblioteca tenha passado a ser também um meio acessível para as consultas mais ou menos informais, um espaço lúdico, aberto, claro, onde apetece estar.
Pelas mesmas razões, também a imagem da Biblioteca Escolar (BE) corresponde, em larga medida, a uma representação estereotipada. O papel tradicional da BE tem sido sempre o de sustentar o trabalho educacional da escola e fornecer os recursos essenciais para cumprir esse fim.
Poder-se-ão apontar quatro razões que explicam o desfasamento existente entre a realidade actual de uma parte significativa das BE e a representação que delas é feita dentro e fora das próprias escolas.
A primeira razão está relacionada com o período em que os actuais professores frequentaram a escola, i.e., os professores já não frequentavam essas escolas quando parte das BE começaram a transformar-se em centros multimédia e ultrapassaram o seu papel tradicional. Esses professores nunca frequentaram escolas onde a biblioteca era uma peça central da organização educativa. Não desenvolveram as suas filosofias e opiniões educativas num ambiente que considerava a biblioteca como um recurso educativo essencial. Muitos (a maioria?) ainda mantêm as primeiras imagens estereotipadas das bibliotecas e dos bibliotecários. O bibliotecário era um(a) professor(a) que apenas viam quando eram mandados para a biblioteca para "fazer alguma coisa". Sendo esta a imagem que os professores têm da biblioteca e do bibliotecário, é esta mesma imagem que condiciona as suas práticas lectivas e que transmitem aos seus alunos.
Outro factor que condiciona a imagem das BE é a formação dos professores. Antes, como agora, a formação inicial dos professores não continha qualquer aspecto relacionado com a influência do desempenho das BE na melhoria da educação, no desenvolvimento de projectos educativos, no apoio a alunos com necessidades educativas especiais ou no apoio administrativo. O modelo predominante no sistema educativo está ainda ancorado na mesma noção básica: um adulto numa sala de aula a trabalhar com um grupo de alunos durante um período de tempo. A formação inicial dos professores enfatiza as interacções individuais na sala de aula entre o professor e o aluno. Os professores são formados como actores independentes, não de acordo com modelos colaborativos e consultivos. Os próprios órgãos de gestão das escolas não têm consciência da importância das bibliotecas escolares e não se reconhecem como peças indispensáveis na maximização do potencial da biblioteca para contribuir para a qualidade da escola.
A terceira razão está enraizada na própria natureza do trabalho do bibliotecário. Este presta um serviço que é apropriado pelos outros, i.e., professores e alunos aproveitam aquilo que o bibliotecário tem para lhes oferecer e integram-no nos seus próprios trabalhos e actividades.
A quarta razão tem a ver com a reduzida divulgação que os bibliotecários fazem das suas actividades, seja dentro da própria escola, seja fora dela. Têm, ainda, contra si próprios o peso histórico da concepção de BE e a inexistência de um estatuto legal que lhes permita afirmar-se claramente no sistema educativo.


  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 167
Ano 16, Maio 2007

Autoria:

Artur Dagge
Biblioteca da Escola Básica 2,3 D. Miguel de Almeida, Abrantes
Artur Dagge
Biblioteca da Escola Básica 2,3 D. Miguel de Almeida, Abrantes

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