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Incompatibilidades de raiz histórica
Onde encontrar a felicidade numa sociedade extremamente competitiva, cada vez mais selectiva e insensível em relação aos mais fracos: velhos e doentes. Nas empresas privadas já praticamente não têm lugar e o mesmo se perspectiva para o serviço publico. O darwinismo social impera e a lei do mais forte define não só as regras da sociedade como vai impondo uma moral que privilegia a inteligência superficial, destituída de qualquer sensibilidade, o pragmatismo, a supremacia dos números e dos factos visíveis em detrimento dos conteúdos e dos verdadeiros significados. No poder, os políticos acabam por governar de acordo com os grandes interesses económicos e financeiros, reduzindo a quantitativos e ao comensurável aquilo que não se pode medir dessa maneira, como as políticas de saúde, da educação e do apoio social. Nesta tarefa de americanização de uma sociedade com uma história estruturalmente diferente daqueles que nos são apontados como exemplos a seguir, reduz-se Portugal a uma máquina sem sentimentos nem raízes históricas, pronta para receber dinâmicas económico-sociais que nada têm que ver com a especificidade portuguesa, negando-se a cada momento tudo aquilo que nos faz ser diferentes dos outros e marca a nossa presença no mundo, mesmo que algumas dessas características apresentem defeitos. De facto, a mentalidade nacional não está preparada para receber um neoliberalismo de raiz nórdica, pela simples razão de que a evolução dos acontecimentos e das transformações sociais, entre uma Europa protestante, burguesa e direccionada para o dinheiro e uma Europa católica, clerical, moralmente penalizadora do lucro e de riqueza assente essencialmente na terra, apresentam diferenças profundas e em muitos casos incompatíveis. Aos políticos e economicistas, falta conhecimento da História e essa lacuna irá gerar anomalias de efeitos perversos para a sociedade portuguesa, e cujos sinais já são detectáveis na forma como as famílias lidam com o dinheiro, com o investimento e com a competição desenfreada, tornando o homem português num ser perdido, sem referências e mimético, por se estar a afastar cada vez mais da sua essencialidade cultural e lhe ser impedido de evoluir com naturalidade no âmbito do seu contexto histórico-cultural.

  
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Edição:

N.º 166
Ano 16, Abril 2007

Autoria:

Paulo Frederico F. Gonçalves
Professor, Porto
Paulo Frederico F. Gonçalves
Professor, Porto

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