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Tecno-aprendizagem, nações inteligentes e o futuro

As escolas têm sido lugares de considerável resistência no que diz respeito à sua relação com as tecnologias digitais enquanto solução do futuro para a aprendizagem. A razão, dizem muitos, é que os professores são tecnofóbicos e estão em vias de se tornarem luditas temendo que as máquinas assumam o controlo do seu trabalho. Como em muitas outras coisas, há algo de verdade nesta apreciação. Contudo, basta raspar um pouco a superfície deste motivo, tantas vezes repetido, para, imediatamente, se detectar que o argumento não é lá grande coisa. Os professores, como todos nós, usam os computadores para lidar com as diversas tarefas administrativas, para fazer buscas na Internet, para marcar férias, para fazer compras on-line, comunicar com os seus amigos, etc. Tecnofóbicos? De modo algum! O que é que se passa então? Talvez a relutância de muitos professores em se alistarem nas fileiras dos tecnófilos e em se precipitarem para a tecnologização das suas salas de aula esteja ligada ao facto de eles acreditarem que há importantes aspectos do seu trabalho em particular aspectos quer de ensino, quer de aprendizagem que não podem ser computadorizados. Então as competências de escrita, de leitura de livros físicos, de fazer experiências científicas e de fazer e produzir arte? Muitos investigadores, incluindo colegas meus da Universidade de Bristol, que trabalham nas tecnologias digitais e de aprendizagem, têm concordado, de forma crescente, num ponto. Sendo verdade que as tecnologias digitais oferecem muitas e novas possibilidades para uma aprendizagem mais fácil e mais motivada por exemplo, em matemática em que os jovens estudantes podem usar computadores para mais facilmente desenvolverem uma compreensão sofisticada da geometria, na medida em que o software lhes permite manipular a forma e, ao mesmo tempo, reforçar a ideia de forma em si mesma, ou os quadros electrónicos que permitem ao professor e aos alunos interagir 'no ecrã' e gravar ideias há áreas importantes da aprendizagem e do tornar-se criativo que dependem do ser-se capaz de tocar, de manipular, da interagir, de reflectir, etc.
Assim, fiquei extremamente curiosa quando me confrontei com um recente anúncio feito pelo governo de Singapura referindo que está a criar 15 novas "escolas do futuro" como parte do seu plano Nação Inteligente 2015 ( iN2015). A sua intenção é a de transformar Singapura numa nação inteligente com base na última geração das novas tecnologias digitais. Alunos e professores nessas novas escolas serão encorajados a experimentar as tecnologias mais recentes, desde os cartões inteligentes e «tablets» PC, a livros de textos digitalizados, quadros interactivos e até laboratórios em realidade virtual. Os professores terão quadros interactivos inteligentes que lhes permitem fazer aproximações e distanciamentos, escrever ou desenhar, e conectar-se directamente à Internet. Não haverá biblioteca nessas escolas, mas um centro de aprendizagem interactiva onde a informação é digital. Os estudantes usarão cartões inteligentes para registar a frequência, abrir portas digitais e contabilizar as calorias que consomem. Transportarão computadores portáteis, e não livros, e todo o campus possuirá um sistema sem fios de acesso à Internet.
Tudo isto é capaz de ser muito divertido para os estudantes e eventualmente para os professores. Mas fiquei a pensar numa coisa: se as tecnologias digitais são úteis para a aprendizagem, outros instrumentos e oportunidades de aprendizagem, como livros, papel, lápis, bibliotecas tradicionais, experiências e jogos disponibilizam oportunidades únicas para criar e comunicar. Há aqui uma questão importante que penso que deve ser colocada. Ao deitar fora as velhas tecnologias, o que é que, com elas, estamos também a deitar ao lixo? Uma biblioteca tradicional pode ser um símbolo do passado, mas, seguramente, é muito mais do que isso. É um sistema de autenticação do conhecimento, fundado na perícia de especialistas. Este tipo de perícia frequentemente olha para outros conhecimentos e produtores de conhecimento como não sendo suficientemente especializado ou científico para ser digno de atenção e publicação uma questão muito pertinente levantada por aqueles que argumentam que a Wikipédia, a enciclopédia da Internet produzida por todos aqueles que pretendam acrescentar informação no sítio, é muito mais democrática. Concordo. Contudo, o que digo é isto: uma nação inteligente é aquela que se vira para o passado, para o presente e para o futuro, incluindo todas as formas inventivas e criativas de ensinar e de aprender.


  
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Edição:

N.º 164
Ano 16, Fevereiro 2007

Autoria:

Susan Robertson
Univ. de Bristol, Grã-Bretanha
Susan Robertson
Univ. de Bristol, Grã-Bretanha

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