Página  >  Edições  >  N.º 160  >  Uma história de injustiça

Uma história de injustiça

Alexandre, cabo-verdiano

A vida de Alexandre nunca foi fácil, abandonado pela mãe e mal tratado pelo pai, veio para Portugal quando os portugueses deixaram a ilha de Cabo Verde. Constituiu família e foi empresário. Ramo: construção civil. Um dia foi enganado por um, outro dia foi enganado por outro. Acabou réu, condenado a cinco anos de prisão. Foi maltratado. Ainda não recuperou, muito menos da injustiça. Hoje, com 53 anos, vive de ?biscates? em obras. Tem dupla nacionalidade, cabo-verdiana e portuguesa.
Alexandre Miguel Silva chegou ao Porto em 1975. Vinte e dois anos depois, abriu uma pequena empresa de carpintaria de cofragens e de armaduras. Prestava serviços de mão-de-obra em subempreitadas. Chegou a ter 60 empregados. Em 1999, firmou um contrato, cuja cópia nunca viu, com um empreiteiro de Gondomar.
Começou a obra em Maio de 2000. Um mês depois o empreiteiro escusa-se a pagar e promete fechar contas no mês seguinte. Em Julho, Alexandre tem a haver 3.500 contos. O empreiteiro vem com a mesma conversa, que em Agosto regulariza a situação. Em Setembro, nada de dinheiro. Alexandre insiste que tem de receber, que tem salários a pagar e filhos para sustentar. Trocam agressões.
Em Janeiro de 2001 a vida corre-lhe de mal a pior. Fora enganado por um outro empreiteiro. Acumula dívidas. Só do empreiteiro de Gondomar tem haver 4.500 contos. Anda desesperado. Desabafa o infortúnio com um amigo, que lhe dá um conselho que seguirá mas de que há-de arrepender-se para toda a vida: contrata três homens para com ele intimidarem o empreiteiro em falta. Apanham-no à entrada de casa, dentro do seu jipe. Entram, fecham as portas, exige o dinheiro em falta. Aceita o pagamento em cheques pré-datados, mas quer mil contos imediatos para fazer face às dívidas urgentes. O empreiteiro passa-lhe um cheque de mil contos com data do dia, sexta-feira. Alexandre apressa-se a ir ao banco. Do caixeiro tem a informação de que o dinheiro só estará disponível na segunda-feira seguinte. Regressa ao local do jipe e encontra apenas os outros três homens com os ditos cheques pré-datados.
Segunda-feira volta ao banco. É detido pela Polícia Judiciária, acusado de sequestro e extorsão. É condenado a cinco anos de prisão. A mulher, pressionada pelos pais, pede-lhe o divórcio. Os filhos, hoje com 23, 22 e 17 anos, deixaram de estudar. Só há pouco Alexandre terminou a liberdade condicional. Oficialmente. Condicionada continuará, sem trabalho.


  
Ficha do Artigo
Imprimir Abrir como PDF

Edição:

N.º 160
Ano 15, Outubro 2006

Autoria:

Cristina Moura Fonseca

Cristina Moura Fonseca

Partilhar nas redes sociais:

|


Publicidade


Voltar ao Topo