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Escola de qualidade e democrática

Para o construtivismo o jovem aprende de forma integrada, concomitante à sua formação como indivíduo e futuro cidadão. Diferenciação meramente retórica pois a aprendizagem é factor de formação integral, desempenhando a Escola um papel crucial em todo este processo. O aluno não pode ser reduzido a um mero receptor de informações, um assimilador de dados, factos e números de acordo com os conteúdos programáticos e objectivos de cada disciplina, e em função de necessidades de mercado, como se de um produto se tratasse.
O insucesso escolar não se deve às perspectivas construtivistas que alguns identificam no ensino actual, nem na escola inclusiva que passou a constituir a principal causa da falta de resultados positivos. São discursos minimizadores, ignorando a complexidade do processo de ensino-aprendizagem. Recentes teóricos da educação defendem o regresso a um ensino directivista, de cariz bancário, como panaceia de todas as dificuldades sentidas na prossecução dos currículos actuais, deturpando, dessa forma, o percurso do crescimento e da consequente assunção de capacidades necessárias para enfrentar um mundo crescentemente hostil e adverso. As competências (termo tão polémico nos dias de hoje)  propiciam o apetrechamento intelectual, emocional e físico do jovem, nas diversas vertentes do currículo, possibilitando uma maior flexibilidade na resolução de problemas diversificados. Quando se definem competências essenciais numa determinada área de saber, pretende-se que o aluno apreenda um conjunto de capacidades susceptíveis de resolver, cada uma delas, uma situação específica dessa área do conhecimento. Por exemplo, o aluno pode saber os momentos mais importantes na fundação da nacionalidade mas não adquirir a competência da contextualização espaço-temporal dos eventos, que lhe permita compreender as implicações da sociedade medieval e da organização feudo-vassálica no processo de formação de Portugal. Significa isto que ao centrar a aprendizagem na memorização, pode deturpar o saber específico em causa e a formação integral do jovem em crescimento, sempre em interacção com o mundo que o rodeia e ávido de integrar novos conhecimentos na vivência pessoal.
A melhor Escola será a que combinar um profícuo equilíbrio entre competências, objectivos e conteúdos de modo a que o programa seja simultaneamente rigoroso, exigente e interessante. Uma Escola capaz de integrar a heterogeneidade do público escolar, sem reproduzir o meio social nas suas formulações exclusivas e discriminatórias, mas constituindo-se em factor de correcção de desequilíbrios sócio-económicos e elemento de efectiva transformação social no sentido de um mundo mais justo e fraterno. Sem prejuízo de um ensino de qualidade.
Ao criticar-se levianamente a teoria construtivista, constrói-se um discurso que relaciona de forma inversamente proporcional uma Escola de qualidade com direito e consequente acesso de todos à educação, com implicações tão preocupantes como óbvias.


  
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Edição:

N.º 157
Ano 15, Junho 2006

Autoria:

Paulo Frederico F. Gonçalves
Professor, Porto
Paulo Frederico F. Gonçalves
Professor, Porto

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