Entro pela parede falsa, a quarta, e percorro a bibliografia de Mário Cláudio, aparafusada às três paredes do palco maior da 76ª Feira do Livro do Porto. A obra mais recente está na direita baixa - Camilo Broca, da D. Quixote, 2006. Sublinhada, a tinta dourada, pelo autor. ?Eu tenho aqui uns papéis que, se não servirem ao menino para tecer a sua prosa, acabarei por utilizar no acendimento da lareira da sala, ou no embrulho do folar que costumo remeter pela Páscoa aos meus afilhados?. Mais adiante sinto o perfume da terra, em torrões de humidade, a esboroar-se nos dedos. No princípio, na parede oposta, aos ?Sete Solstícios?, eram os musgos e os celeiros da casa da infância. E também um cheiro a cama quente. Na esquerda alta, ?o navio singrava pela manhã (?) paralelo aos arcos da ribeira, ao muro dito dos bacalhoeiros?. Carregado sabe-se lá de quê. O poeta admite que seja vinho, ou sal, ou carvão ou fruta. A cenografia deste palco à italiana foi criada por Luís Mendonça, professor de uma das mais novas e Belas Artes, a do Design, agora também cenógrafo, que é arte tão antiga como a da Arquitectura, por ser arquitectura. Os livros de Mário Cláudio, assim dispostos no palco da homenagem que a Feira do Livro do Porto lhe presta, parecem ícones gregos, verdadeiras janelas para outras realidades, criadas e recriadas pelo poeta. ?Pedirei às madrugadas loucas notícias tuas // passadas?, como em 1969, no Ciclo de Cypris. Cláudio, Mário Cláudio. Cláudio como o da Olga e Cláudio ?que é a história de uma gata e de um gato que vivem em Veneza e em Lisboa, cada qual na sua cidade?. Outras das histórias do escritor, escrita em 1988 para a Afrontamento. Mas é no Porto, e até 11 de Junho, que está esta feira que homenageia poetas e escritores. Vale a pena passar pelo Palácio que mantém o nome apesar de já não ser nem palácio nem muito menos de cristal. Um pavilhão, em cimento armado, há alguns anos anfitrião da Feira do Livro.
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