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Privados gerem escolas públicas inglesas

O interesse dos privados é grande. Sustentadas por dinheiros públicos, as escolas públicas poderão cair na mão dos mais diversos interesses e entidades privadas.

O fabricante de computadores Toshiba, o banco de investimentos UBS, a construtora Honda, assim como milionários conservadores, clubes de futebol e igrejas, mostram-se interessados em gerir escolas públicas aproveitando a nova lei da educação de Blair.
O projecto educativo de Blair, aprovado em meados de Março no parlamento, com o apoio dos conservadores e votos contra de mais de meia centena de deputados do partido de Blair, tem por base a ideia de entregar a gestão das escolas públicas a entidades privadas.
Esta reforma educativa vai acelerar a entrega de escolas públicas a empresas, personalidades ou grupos religiosos que queiram desempenhar um papel chave na gestão e direcção das escolas públicas pagas pelo Estado.
Mais de meia centena de deputados trabalhistas votou contra este projecto educativo considerando-o equivalente a uma privatização da educação.
O interesse dos privados é grande. Sustentadas por dinheiros públicos, as escolas poderão cair na mão dos mais diversos interesses e entidades privadas.
A Igreja Anglicana, que já patrocina 6 das 27 Academias [entidades privadas que podem gerir escolas públicas]  existentes, candidata-se a gerir outras 25 academias, das quais 200 devem abrir as suas portas até 2010. E não é a única: a Igreja Católica e uma associação baptista, o Oasis Trust, também já se apresentaram como candidatos a patrocinar estas Academias.
Vardy, um rico cristão conservador, é padrinho de duas Academias, onde impõe que se ensine o criacionismo nas escolas por si tuteladas, como contraponto à teoria clássica da evolução. Dispõe-se a abrir outras duas, onde se ensinará esta versão religiosa da origem divina do homem, em vez da teoria científica de Darwin  sobre a origem do homem.
O Islão também está muito interessado. Lorde Bathia, um conhecido milionário de formação islâmica, manifestou ao Financial Times a intenção de abrir, pelo menos, 20 academias. Ele garantiu que investirá 72 milhões de euros neste seu projecto.
O mundo empresarial está entusiasmado com esta oportunidade de dirigir a educação pública. Entre as empresas que participam patrocinando escolas, está a rede de lojas de electrónica Dixons, a agência de publicidade Frank Lowe e a gigante da construção Chelsfield Plc. Grandes nomes do sector bancário, como o UBS, envolveram-se em algumas Academias, assim como a Toshiba, Honda, Vodafone e Microsoft.
Milionários aposentados também apoiam a iniciativa de Blair, entre eles Lorde Harris de Peckham, que fez fortuna na tapeçaria; Alec Reid, fundador de Reed Executive, uma empresa de trabalho temporário, ou David Garrard, criador da sociedade de construção Minerva.
Até clubes de futebol querem dirigir escolas públicas, através da criação de Academias de gestão, particularmente escolas onde possam investir na área do desporto.
Esta torrente de patrocinadores privados tende a aumentar. É que a Lei da Educação de Blair, agora adoptada, não exige nenhuma contribuição financeira por parte dos privados. O Estado paga e os privados dirigem, governam e orientam a seu belo prazer.
A lei de Blair causou debate e rejeição no seu próprio partido e só foi aprovada graças aos votos da oposição conservadora. Os opositores afirmam que é a privatização das escolas públicas pagas pelo Estado e que fomentará um ensino público ao serviço de interesses de grupos privados, nomeadamente confessionais e que acentuará as diferenças sociais gerando escolas e alunos de primeira, segunda e terceira categoria.


  
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Edição:

N.º 155
Ano 15, Abril 2006

Autoria:

José Paulo Serralheiro
Professor e Jornalista. Director do Jornal a Página da Educação.
AFP
Agence France-Presse
José Paulo Serralheiro
Professor e Jornalista. Director do Jornal a Página da Educação.
AFP
Agence France-Presse

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