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A escola pública está doente

O acto educativo e pedagógico está, hoje, em risco. Os professores estão a ser transformados em funcionários públicos burocráticos, cumprindo escrupulosamente as horas de presença na escola, com marcação de ponto hora a hora e sendo vigiados por zelosos auxiliares de acção educativa, cuja função deixou, agora, de ser a de observarem os alunos para passarem a vigiar criteriosamente o rigoroso cumprimento, hora a hora, das actividades não lectivas dos professores. Parece estranho este excesso de zelo por parte do ministério da Educação face à autonomia das escolas, que deixou de ser a de recriar melhores condições de trabalho para os alunos aprenderem e dar aos professores o tempo, o espaço e o modo de preparar melhor as aulas e reflectir sobre as estratégias a aplicar na aprendizagem individualizada dos alunos. Este facto é irrelevante para o ministério da Educação que burocratiza o ensino. Colocar professores qualificados não a exercer a sua função, mas a vigiar e acompanhar alunos que não são os seus, nem mesmo da sua escola e de diferentes níveis de ensino, é a orientação que o ministério dá para [alguns] impreparados Conselhos Executivos, que de pedagogia conhecem só a prepotência de serem mais ?papistas que o Papa? (passo a expressão).
É tempo da sociedade verificar que, dentro de alguns anos, não terá professores para melhorar a qualidade do ensino, porque a sua função será a de um burocrata escrupulosamente cumpridor do horário de trabalho.
Nós professores desafiamos a ministra da Educação a elaborar uma análise da função docente que a sociedade das novas tecnologias exige para melhor preparar a aprendizagem dos nossos alunos, de forma a tornar público os resultados de sucesso alcançados.
É ético e justo que todos possamos saber como trabalha um professor, que exigências se lhe pedem hoje, que ensino se lhe propõe, que metodologias se lhe exigem para individualizar o ensino e melhor preparar os alunos.
É preciso analisar que cultura de trabalho e disciplina têm os alunos na escola, para terem o dever de aprender.
É preciso demonstrar que motivações tem a família para dar aos jovens o apoio e o incentivo ao estudo, fazendo-lhes perceber que estudar não é  brincar e não deve ter qualquer sentido lúdico. Estudar exige disciplina, esforço e recompensa. É, no fim, adequar e conduzir o aluno para entrar no mundo competitivo do trabalho, é também dar-lhe a noção de que há diferença entre a responsabilidade de aprender mais e melhor, assim como tempo para brincar, divertir e recriar.
É preciso que as famílias separem estes dois factos ? o estudo, responsabilidade e disciplina ? e o fare niente do lúdico, recriação e divertimento. Sem estas noções pré-definidas pela sociedade portuguesa e implementadas pelo ministério da Educação, não haverá mais possibilidade dos professores terem todos os seus alunos com sucesso educativo.
É preciso respeitar o trabalho dos professores.  É preciso entender que este trabalho dará mais e melhor desempenho ao país.
Os professores, por isso, protestam contra as condições de trabalho, contra a sua transformação em burocratas, e exigem respeito e dignidade à sua profissão. Exigem, pois, continuar como um corpo especial da função pública, porque desempenham funções especiais.
É, por tudo isto, que os docentes estão a lutar para que o Governo perceba que o sucesso educativo é desejado pelos professores, mas não pode ser imposto contra os professores.


  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 154
Ano 15, Março 2006

Autoria:

Carlos Alberto Chagas
Professor, Secretário-Geral do SINDEP
Carlos Alberto Chagas
Professor, Secretário-Geral do SINDEP

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