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Património histórico-educativo é um referente da nossa identidade

Vicente Peña Saavedra é Coordenador Científico do Museo Pedagógico da Galiza, Professor Titular de História da Educação da Universidade de Santiago de Compostela e um dos principais responsáveis pela investigação e dinamização da museologia da educação em Espanha. Nesta curta entrevista, explica, entre outros temas, porque considera que os professores e a comunidade educativa têm um papel preponderante neste processo.

No decurso  das duas últimas décadas houve um ressurgimento do interesse pela museología da educação. Na sua opinião, que motivos poderão estar na sua origem?

Julgo que a explicação para o ressurgimento do interesse pela museologia da educação decorre da conjunção de uma série de factores socioeconómicos e culturais, dos quais se poderão destacar, entre outros, o encerramento de muitas escolas nas zonas rurais, a crescente valorização de testemunhos materiais e imateriais da escola, o crescente interesse da história da educação por temas e referências de análise - durante muito tempo desvalorizadas -, a consideração da escola como instituição geradora de uma cultura própria, e sobretudo, talvez, a tomada de consciência para a necessidade de recuperação dos vestígios da educação do passado para uma reconstrução científica e exploração intelectual mais cuidada.

Considera que as entidades públicas, em particular as escolas e os professores, estão devidamente sensibilizadas para a salvaguarda do património educativo? Não acontece frequentemente deitar-se fora material com interesse patrimonial julgando tratar-se de "velharias"?

Felizmente, isso acontece cada vez menos. Mas esse tipo de mentalidade não está de todo erradicada, sucedendo com mais frequência do que seria desejável o facto de pessoas associadas a um certo grau de ?sensibilidade cultural? não serem capazes de diferenciar o que é um objecto velho e sem utilidade daquilo que é uma peça velha ou em desuso mas que contém um inequívoco valor patrimonial.
De facto, continua a não se distinguir para além do velho e do novo, ignorando-se a existência de outras categorias. E esta percepção está bem presente no que se refere ao mundo da cultura educativa.
De qualquer maneira, observamos, felizmente, que as experiências que se têm vindo a verificar ao longo dos últimos anos no campo da museologia da educação contribuíram para neutralizar, ou pelo menos mitigar, essa corrente de opinião tão generalizada. O que implica, por vezes, que se tenha passado ao extremo contrário, isto é, sobredimensionando o valor de certos objectos com fins especulativos ou comerciais, algo que também se nos afigura consideravelmente perigoso.

Qual é, na sua opinião, a melhor forma de sensibilizar os professores para a protecção deste património?

Em primeiro lugar informá-los e demonstrar-lhes que no seu local de trabalho há por vezes verdadeiros tesouros da cultura popular comunitária que, para bem da humanidade e da comunidade local, vale a pena salvaguardar e dar a conhecer, já que configuram pequenos indícios de uma herança comum que ajudam a dar um sentido de coesão a toda a comunidade.
Em segundo lugar penso que se devem procurar exemplos, seja a nível interno como externo, para que sirvam de referência. Não para fazer igual, mas pelo menos para tomar em consideração. O mote deve ser sempre: se os outros o fizeram, porque não podemos nós fazê-lo?
Finalmente, diria que nestes processos se deve sempre tentar implicar toda a comunidade, dos mais novos aos mais velhos, dos alunos aos professores, até às autoridades locais. Foi algo assim que nos propusemos fazer no Museu Pedagógico da Galiza, através de um certame escolar que vai já na sua terceira edição e se intitula ?Memória e Recordação da Escola e da Infância?. Nele, de uma ou outra forma, participam todas as comunidades educativas e as comunidades locais.

Qual poderá ser o interesse pedagógico e cultural do estudo e da divulgação do património histórico-educativo para as actuais e futuras gerações?

Antes de tudo devo dizer que a valorização de testemunhos do passado de carácter material e imaterial supõe um enriquecimento por incremento e diversificação do nosso património cultural, do qual não pode, ou não deve, excluir-se o património escolar.
De resto, devo sublinhar que a apropriação do património histórico-educativo por parte das novas gerações supõe um enriquecimento intelectual para as mesmas e um meio para se reencontrarem com alguns dos referentes básicos que configuram, desde a infância, a sua própria identidade.
Acima de tudo, o património educativo ajuda a formar uma consciência histórica nos educandos, dimensão sem a qual se torna muito difícil desenvolver-se e situar-se perante a vida.
A mudança de perspectiva que representa ver uma peça como um objecto velho e caduco para uma conceptualização que a encara como bem patrimonial representa uma mudança qualitativa de primeira ordem, que comportará consequências de notável alcance nas gerações vindouras.

Entrevista conduzida por Ricardo Jorge Costa


  
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Edição:

N.º 153
Ano 15, Fevereiro 2006

Autoria:

Vicente Peña Saavedra
Coordenador Científico do Museo Pedagógico da Galiza, Professor Titular de História da Educação da Universidade de Santiago de Compostela
Ricardo Jorge Costa
Jornalista do Jornal A Página da Educação
Vicente Peña Saavedra
Coordenador Científico do Museo Pedagógico da Galiza, Professor Titular de História da Educação da Universidade de Santiago de Compostela
Ricardo Jorge Costa
Jornalista do Jornal A Página da Educação

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