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Novos atores, novas formas de ler

... o problema não está na leitura, atividade que [os jovens] reconhecem como indispensável à conquista do saber. O problema está na valorização de formas de ler - que a cultura letrada exige - que entram em contradição com as maneiras atuais de ser e estar no mundo.

Como diagnosticam os profetas da decadência da leitura: ?Já não se fazem mais leitores como antigamente?. Com isso concordam os jovens que meu grupo de pesquisa vem entrevistando, justamente para descobrir porque os leitores de ontem são diferentes dos de hoje. Lúcidos, esses leitores contemporâneos vêm mostrando o quanto a escola, ao teimar em concordar com a profecia, chora sobre o leite derramado perdendo o bonde da história. Segundo eles, o problema não está na leitura, atividade que reconhecem como indispensável à conquista do saber. O problema está na valorização de formas de ler - que a cultura letrada exige - que entram em contradição com as maneiras atuais de ser e estar no mundo. Consumidores apaixonados por mangás ? as famosas bandas japonesas que vêm se constituindo como fenômeno mundial de comunicação de massa ?, os entrevistados sugerem que seu mal estar diante do livro é relativo à contradição entre o cenário atual que introduz no cotidiano de suas vidas, em velocidade surpreendente,  um turbilhão de estímulos sonoros e visuais  e ?a arcaica quietude do livro?, como já diagnosticava Walter Benjamin no fragmento Guarda-Livros Juramentado, escrito na década de 20.  A pergunta sobre o que os levava a gostar tanto dos mangás, suscitou interessantes respostas que os limites desse texto não permitem evocar, mas que podem ser resumidas  neste depoimento:
O texto escrito convencional é normalmente muito lento, tudo é passado com muita lerdeza, é menos dinâmico você não tem uma coisa que HÓÓ!!! Não, e você vai ter que ler tudo com muita calma, você não pode pegar assim como eu faço com o mangá: pegar, ler todas as folhas, ver as imagens, sentir as imagens e depois partir pra leitura... Eu vou ter que partir direto pra leitura, não tem preparação, eu não posso me preparar pra entrar na leitura, eu vou ter que sair lendo. Esta é pra mim a diferença.  Porque as pessoas preferem ir ao cinema do que ler um livro? Porque lá tá a ação, tá tudo.
E, à nossa desconfiança de que a transferência da pressa da ação cinematográfica para a leitura poderia resultar ineficaz, os jovens contrariaram essa previsão. Impressionou-nos constatar como eles e elas demonstraram um conhecimento esmerado de questões históricas, filosóficas, mitológicas relacionadas às HQs japonesas, que é buscado em bibliotecas, na internet, na leitura minuciosa das próprios quadrinhos ou, ainda, com leitores mais experientes. Por isso, à nossa insinuação provocativa de que não era possível que a rapidez da leitura do mangá permitisse que o conteúdo ficasse retido na cabeça deles, um deles não hesitou em responder enfaticamente: Fica, fica sim!  E, explodindo com a profecia da decadência  da leitura, que leva a escola à inércia, uma outra argumentou: ?- Antigamente, não tinha rádio, não tinha televisão, não tinha nada disso que a gente tem hoje, Não tinha computador então, você vê? Foi a evolução? Foi criando todos esses aparelhos maravilhosos, né? [...] Eu sou televisiva. É, provavelmente a pessoa não é televisiva, mas aí, o problema é dela e de quando ela nasceu. 


  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 152
Ano 15, Janeiro 2006

Autoria:

Maria Luiza Oswald
Prof. da Faculdade de Educação da UERJ; coordenadora do Projeto ?Infância, Juventude e Indústria Cultural-sociedade, cultura e mediações: imagem e produção de sentidos
Maria Luiza Oswald
Prof. da Faculdade de Educação da UERJ; coordenadora do Projeto ?Infância, Juventude e Indústria Cultural-sociedade, cultura e mediações: imagem e produção de sentidos

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