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A escola mantém-se como uma instituição central na vida das sociedades e das pessoas

Marisa Vorraber Costa, professora e investigadora brasileira, em entrevista à Página afirma que

Marisa Vorraber Costa é licenciada em Filosofia, doutorada em Ciências Humanas e professora em Ensino e Currículo. Foi professora do Ensino Fundamental e Médio do Brasil e leccionou Didáctica, Sociologia da Educação e Prática de Ensino de Filosofia em cursos de Licenciatura.
Actualmente, é docente nos Programas de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e da Universidade Luterana do Brasil, onde ministra as disciplinas ?Educação e Pós-modernidade?,  ?Escola e Cultura Contemporânea?.
É também investigadora do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico brasileiro e integra o Núcleo de Estudos sobre Currículo, Cultura e Sociedade.
Desde há dez anos que tem vindo a realizar estudos sobre educação, cultura e poder, interessando-se por pedagogias culturais, currículo e media. O seu actual tema de investigação − Quando o pós-moderno invade a escola − focaliza as relações entre a escola e a cultura contemporânea. Este tema foi também objecto de estudo no estágio de pós-doutorado realizado em Portugal, de Maio a Agosto de 2005, na Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Lisboa, onde trabalhou com António Nóvoa e Jorge Ramos do Ó.
Foi editora da revista Educação & Realidade (da Faculdade de Educação da UFRGS) e, desde 1992, é editora associada no Brasil do periódico inglês Educational Action Research. É também uma das editoras da Revista Brasileira de Educação, publicada pela Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação.
Ao longo de sua vida profissional, tem publicado inúmeros estudos, perfazendo mais de 80 trabalhos distribuídos por livros, capítulos em livros e artigos em diversas publicações. É ainda coordenadora da rubrica Cultura e Pedagogia do jornal A Página da Educação.

Num dos artigos da rubrica Cultura e Pedagogias, faz referência a um livro de Neil Postman, chamado ?O desaparecimento da Infância?, publicado em meados dos anos oitenta, onde o autor defende que "os mundos social e simbólico estão subordinados às tecnologias, e delas emergem as formas de viver e estar no mundo". O autor procura, desta forma, demonstrar que a informação electrónica estaria a erodir as fronteiras demarcadas entre adultos e crianças. Vinte anos depois, acha que esta teoria se confirma?

Sim, acho que dia após dia vamos colhendo mais evidências disso. E hoje já não se trata de meras hipóteses académicas. O excesso de informação, as formas emergentes de comunicação e a interacção interpessoal, a interpelação pelos meios de comunicação social, as novas versões de entretenimento, entre tantas outras experiências deste ?admirável mundo novo?, estão a mudar a maneira de ser das crianças e dos adultos, baralhando tudo o que achávamos certo, verdadeiro e lógico.
O nosso grupo de pesquisa no Rio Grande do Sul tem-se dedicado a investigar as várias faces deste fenómeno contemporâneo. As nossas identidades tornaram-se deslizantes, múltiplas, escorregadias, e podemos adquirir muitas facetas. Observe-se que as próprias crianças se tornaram completamente controláveis e rastreáveis com o surgimento e a acessibilidade dos telefones móveis; ao mesmo tempo, ao utilizá-los, criaram para si um nicho privilegiado de privacidade nos seus relacionamentos e preferências. As precoces preocupações com namoros e sexo, por exemplo, podem ser compartilhadas com os amigos no exacto momento em que estas afloram. Nenhum pai ou mãe pode estar assim tão disponível nestas ?emergências? afectivas.
Os efeitos das tecnologias, porém, não são lineares, eles são eivados de ambiguidades e de paradoxos. Em muitos países, estes mesmos jovens independentes prolongam a permanência em casa dos pais. As crianças do século XXI, que dominam as tecnologias melhor do que os adultos, que iniciam precocemente as suas experiências sexuais e que fazem quase tudo sozinhas, não querem crescer. Ao mesmo tempo que são mini-adultos, vestem-se de bonecas. Talvez o fenómeno Barbie seja o melhor exemplo disso - uma boneca paradoxal em todos os sentidos.
Uma das hipóteses para essa recusa em ?ser grande? parece ser a patologização da vida adulta na sociedade contemporânea. Antes sonhávamos em ser adultos, hoje parece que ninguém quer crescer e envelhecer. Alguns dizem que somos uma geração ?adolescêntrica?. Será isso?

Nessa linha de ideias, afirma mesmo que parecemos habitar "um tempo de crianças adultas e de adultos infantis". Que consequências podem advir deste esbatimento de fronteiras? Uma aproximação positiva entre as faixas etárias infanto-juvenil e adulta, ou, pelo contrário, um crescente alheamento dos adultos face aos pressupostos que devem orientar a educação de uma criança para a fase adulta?

É difícil prever consequências num tempo tão ?líquido? como o nosso, com condições de existência tão intrigantes e surpreendentes. Zygmunt Bauman, um dos admiráveis pensadores da actualidade, tem reflectido muito sobre o que ele descreve como ?este tipo curioso e em certo sentido misterioso de sociedade que se ergue ao nosso redor?.
Penso que hoje, paradoxalmente a este apagamento de fronteiras e a essa quase fusão dos universos adulto e infantil, crianças e jovens distanciam-se dos adultos (e vice-versa) em virtude de outro elemento muito importante: as configurações do trabalho no novo capitalismo.
Richard Sennet, outro desses sensíveis analistas da contemporaneidade, argumenta que tais mudanças estariam a contribuir para o que ele chama de ?corrosão do carácter?. O tal trabalho ?flexível? do novo capitalismo, organizado em projectos, execuções a curto prazo e grande mobilidade, tem transformado trabalhadores de qualquer nível em reféns.
Além disso, os novos contratos de trabalho com duração fixa deixam todos à mercê de tensas expectativas, além de inviabilizar, cada vez mais, grupos estáveis de amigos e relacionamentos com a família. De facto, diz Sennet, as pessoas estão a perder o controlo sobre o planeamento e a organização das suas vidas, bem como a prerrogativa de projectar o seu futuro.
Esta impossibilidade de construir uma narrativa coerente para a própria vida, acaba por corroer o carácter. Enquanto os pais permanecem ocupados com as decisões cruciais sobre a viabilidade financeira da família, crianças e jovens preenchem o tempo sozinhas, com actividades passageiras, circunstanciais, superficiais, quase sempre privados da participação daqueles que poderiam ajudá-los a desenvolver virtudes estáveis como lealdade, persistência, confiança e ajuda mútua.
Mas os paradoxos persistem. Tanto nos Estados Unidos como em outros países, inclusivamente no Brasil, muitos pais e mães declaram-se exaustos e incapazes de corresponder às intermináveis exigências feitas pela escola em relação à participação dos pais nas actividades que envolvem a educação dos filhos. Parece, então, que esta deixou de ser hoje uma simples questão de opção. Estamos todos a ser governados pelas culturas em que estamos inscritos. Pais e filhos são impelidos para tarefas, actividades e decisões em relação às quais não há possibilidade de escolha.

Refere também que, desde os anos 50, uma parte cada vez maior das experiências das crianças é produzida pelas grandes multinacionais e muito menos pelos pais e mães ou mesmo pelas próprias crianças. Acha que o conceito tradicional de infância está a desaparecer?

Sim. Nesse sentido tendo a concordar com o crescente número de investigadores que aponta as grandes multinacionais como criadoras de uma cultura infantil que tem vindo a produzir um enorme impacto nos modos de ser criança. As crianças ? e os próprios adultos - de hoje são, antes de tudo, subjectividades forjadas numa cultura regida pelos apelos do mercado. Hoje pode-se observar, também no interior das escolas, a circulação de crianças e jovens ostentando os ícones da sua inserção neste supermercado global em que tudo está transformado em mercadoria. A posse de tais mercadorias (imagens, símbolos, condutas, objectos...), com grande visibilidade e actualidade nos meios de comunicação social, produz um sentimento de pertença que converte o proprietário num membro de uma comunidade de significados compartilhados, de uma cultura comum altamente desejável.
Um olhar mais atento mostra-nos também a expansão de um contingente de cidadãos de ?segunda classe? ? crianças, jovens e adultos pobres -, que, segundo a lógica do capitalismo tardio, não podem ficar de fora do circuito do consumo. Mesmo que não estejam habilitados a adquirir mercadorias de primeira linha, inventam-se categorias a eles adaptadas - réplicas, versões baratas de objectos de consumo desejados -, que circulam amplamente no fluxo contínuo dos mercados globais espectacularizados.
Há um livro muito interessante, publicado em 2004 nos Estados Unidos, ?Born to Buy? (Nascer para Comprar), de Juliet Schor, que chama a atenção para a tendência dos conservadores em apontar questões sociais (como mães que trabalham fora de casa, a pobreza, o divórcio ou a falta de autoridade paterna) como causa dos problemas que atingem as crianças.
Contudo, ela explica que muitos estudos mostram que as mães que trabalham fora de casa não causam perturbação às crianças ou que os filhos de pais autoritários são os que têm mais problemas de comportamento. E que assim como a pobreza produz efeitos negativos, também as crianças de classe média e de famílias estáveis têm problemas.
Esta autora tem estudado o impacto do ambiente de consumo como um todo, pois suspeita que o crescimento da mercantilização da infância é em grande parte responsável pelo declínio do bem estar das crianças. Quanto mais elas se envolvem na cultura do consumo, mais têm problemas psicológicos e sociais como depressão, ansiedade, baixa auto-estima, etc., com repercussões psicossomáticas.

Outra das questões levantadas nos seus artigos prende-se com o facto de o mercado globalizado pôr em circulação imagens e significados sobre a infância e a juventude que se afastam crescentemente da visão tradicional que delas temos. Diz mesmo que "os programas de televisão, os filmes, os jogos de vídeo e a música são agora o domínio privado das crianças". Na sua opinião, e perante estes factos, o que é afinal ser criança no mundo de hoje?

Penso, como já atrás referi, que há uma mudança radical nas formas de ser criança hoje. E penso também que não há, afinal, um único modo de ser criança. Há muitas infâncias, todas elas construções sociais, isto é, todas elas produzidas pelas culturas em que estão inscritas, e todas elas marcadas por estas profundas transformações sociais, políticas, económicas e culturais a que assistimos a partir da segunda metade do século XX.
Há uma imensa distância entre as ?pequenas celebridades?, que desde cedo enfrentam filas para testes na televisão, e aquelas crianças miseráveis e desesperadas que choram perdidas nos escombros das guerras cruéis que assombram o nosso tempo. Todas elas, desafortunadamente, têm as suas imagens estetizadas e postas em circulação para serem consumidas como espectáculo. A par com as crianças que adormecem sobre os teclados de computadores e sonham com as personagens de um jogo de vídeo, e com as crianças diabolizadas que deambulam entre a violência e a exploração sexual nas megalópolis ou nos sertões desérticos dos países pobres do planeta, todas elas são crianças do mundo de hoje. Todas muito distantes daquela infância inocente, dependente, frágil e mimada inventada pelo mundo moderno.

A escola e as representações da infância

As representações da infância e da adolescência que têm regulado a acção dos professores na escola não correspondem, na sua opinião, às crianças e adolescentes que habitam diariamente as salas de aula. Dessa forma, diz, ?ignora-se um sério conjunto de questões abordadas por muitos analistas das sociedades e das culturas contemporâneas?. Que questões são essas?

Ao longo desta entrevista tenho abordado algumas dessas questões. No entanto, acho importante destacar que numa era tão intrigante como esta que se esboça aos nossos olhos, uma das tarefas mais difíceis e desafiadoras seja educar. Isto, porque é necessário estar preparado para ajudar as pessoas a compreenderem o tempo e o mundo em que vivem e a tornarem-se seres humanos produtivos, solidários, felizes e realizados. O que mudou hoje é que o mundo e a vida tornaram-se espantosamente mais complexos, mais sofisticados.
Dar conta deste requisito básico de compreender o mundo acaba por ser o maior desafio. Hoje não se trata simplesmente de transmitir conhecimentos básicos e ensinar regras de conduta e moral, trata-se de compreender que o mundo mudou de uma forma nunca antes imaginada, exigindo saberes muito diferenciados, e que os recursos de que dispúnhamos se tornaram completamente obsoletos. As novas tecnologias mudaram a face do planeta e os problemas com os quais nos deparamos hoje são completamente novos.
Às vezes surpreendemo-nos por sermos incapazes de decifrar certos textos televisivos, certas propagandas, certos jogos, certos filmes, certas práticas, certos comportamentos, certas ?mensagens?, porque elas fogem inteiramente ao nosso universo de referência. Há uma outra gramática cultural em andamento. Esse é hoje o maior desafio para a educação. Quem duvidar disto precisa de olhar para fora do seu universo restrito e tentar descortinar o que vê. Compreender já é outra conversa.
           

Neste sentido, defende ser questionável que a escola organize as suas práticas pedagógicas, o planeamento das aulas e o ensino quotidiano tomando como referência uma criança e um adolescente que ?talvez estejam em extinção?, e que ainda ocupam a centralidade de alguns discursos pedagógicos, não dando conta da ?complexidade dos processos de subjetivação e de produção de identidades do mundo em que vivemos hoje?. Qual é, então, o caminho que defende para uma aproximação mais adequada aos contextos actuais?

Bem, acho que não há um único caminho, assim como não se pode tomar as escolas e as culturas em que se inserem como formações homogéneas. Além disso, penso que é sempre bom lembrar que as minhas leituras, interpretações e posicionamentos surgem de experiências como professora e investigadora que vive e trabalha no Brasil, um país com singularidades muito próprias.
Contudo, penso que há algo em comum neste desafio que nos é posto pela escola do século XXI, e isto tem a ver com aquela menção que faço a Bauman, logo no início desta entrevista - de que há um mundo curioso, misterioso, erguendo-se ao nosso redor.
Concordo que talvez um dos caminhos seja o de tentar compreender aquilo de que já nos falou Raymond Williams, há mais de cinquenta anos: de que se encontra em construção, ao longo do século XX, uma nova estrutura do sentimento. Uma das consequências desta ideia seria, para este raiar do século XXI, que educar não significa apenas, como tentam fazer-nos crer, dar conta de algumas novas competências técnicas, científicas e pedagógicas.
Hoje, educar é muito mais do que isso. Implica uma acuidade, uma certa sensibilidade para conseguir penetrar um pouco este ?espírito? do nosso tempo, procurando compreender, com cuidado e humildade, essa enigmática mutação que nos enreda.
Nesta delicada tarefa, uma conduta recomendável, a meu ver, é não diabolizar nem endeusar as culturas e o seu tempo. Todos os tempos têm os seus encantos e as suas mazelas, suas faces edificantes e outras tenebrosas e obscurantistas. Um não é melhor do que o outro, são apenas diferentes. A valorização daquilo que as culturas e seus tempos produzem é uma questão de verificação histórica, mas nunca um a priori.


Num outro artigo, redigido no período que passou em Portugal, faz referência à simpatia das crianças portuguesas e diz que, pela sua natureza, "as crianças pequenas apreciam conviver com tranquilidade e equidade". Na sua opinião, "é o mundo inventado pelos adultos que acaba, por fim, inscrevendo-as e moldando-as num universo competitivo, regulado pela lei do mais forte, do mais rápido, do mais ágil, do mais esperto, do que fala mais alto". Acha que a escola contribui para desfazer esta ideia, ou pelo contrário, ela serve para reforçá-la?

Acho que da forma como a escola se apresenta hoje, tanto em Portugal como no Brasil, ela tem servido para afirmar esta cultura competitiva do mais, mais, mais... Contudo, embora a escola esteja apenas obedecendo à lógica dominante, aquela que nos acostumamos a considerar correcta e desejável penso não precisaria de ser necessariamente assim.
Aliás, do meu ponto de vista, a educação básica tem sido um dos grandes problemas do mundo contemporâneo, e tudo depende, em grande parte, do que se espera como resultado da educação escolar: pessoas bem informadas, competentes em alguns campos de conhecimento, que sabem viver e conviver, capazes de exercer responsabilidade social e de fazer prevalecer virtudes de carácter como confiança, respeito, comprometimento e ajuda mútua; ou sujeitos ultra especializados e competitivos, com cérebros potencializados para alavancarem a tal sociedade ?avançada? do futuro?
Bem, há infinitas nuances entre estes dois extremos, e o meu objectivo é apenas chamar a atenção para o facto de os rankings internacionais, que tanto mobilizam os meios de comunicação, a opinião pública e as políticas nacionais relativas à educação, terem uma validade muito relativa, uma vez que as metas previstas para a educação são muito diferentes e estão intrinsecamente vinculadas à cultura e aos projectos políticos de cada país.
Assim, as comparações e os rankings servem apenas, na minha perspectiva, para fortalecer a hegemonia de determinados padrões, mas não ajudam a pensar as peculiaridades da educação dos países em particular. Aliás, penso que até prejudicam, porque acabam por desencadear esforços em direcções equivocadas.


Na linha de investigação que vem desenvolvendo, refere que se tem vindo a deparar com uma "assustadora invasão do cenário escolar pelos apelos mediáticos ao consumo", admitindo, nas actuais condições, que as professoras e os professores não conseguem contribuir significativamente para qualquer reversão dessa tendência. Se não é a escola, que outras defesas podem ter os jovens?

Bem, antes de tudo gostaria de reafirmar que a escola, embora esteja a atravessar dificuldades para dar conta da tarefa de educar nestes tempos mutantes, parece não ter perdido a sua importância e vitalidade. Isto porque, de uma maneira geral, como instituição, ela permanece ainda muito forte no imaginário da nossa cultura.
Em 2002 publiquei um livro intitulado ?A escola tem futuro??, para o qual entrevistei destacados educadores brasileiros. A conclusão mais importante deste trabalho foi a reafirmação da importância da escola. Parece que ela não carece de vitalidade e se mantém como uma instituição central na vida das sociedades e das pessoas.
Actualmente estou a dar continuidade a este estudo, entrevistando agora educadores estrangeiros que actuam em países cujas raízes latinas e semelhanças linguísticas e culturais nos aproximam - espanhóis, portugueses e latino-americanos. As minhas conclusões, agora com novos matizes culturais, vão na mesma direcção da pesquisa anterior.
É por isso que no meu mais recente projecto, desenvolvido com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, voltei-me novamente para as escolas, investigando os fenómenos decorrentes da invasão pela cultura pós-moderna. E o que tenho observado vem apontando recorrentemente para mudanças importantes no contexto escolar decorrentes destas formas, que, tal como no cenário do mundo pós-moderno, está marcado pela cultura do espectáculo, da imagem e das visibilidades, e invade as escolas, alterando as suas rotinas e práticas.
Ou seja, esta cultura é hoje o nosso próprio ?ambiente?. É nela que a humanidade se vai reconfigurando e é nela e com ela que precisamos de aprender a viver. E esta não é uma tarefa exclusiva da escola, é uma tarefa de todos e de cada um. Considero que a família, nas suas actuais e múltiplas configurações, é em grande parte responsável por promover oportunidades de compreensão desta nova condição sob a qual vivemos hoje.
Por outro lado, não penso que seja necessário ?defendermo-nos? desta cultura; o nosso desafio é penetrá-la e compreendê-la. Não devemos temer tudo aquilo que nos escapa; e fugir não é solução. Mais uma vez, acho que não devemos supor que há demónios espreitando-nos por toda a parte. De facto, precisaríamos de nos desenvencilhar de preconceitos e elitismos e lançarmo-nos num empreendimento de decifração, do qual poderíamos, quem sabe, ressurgir re-humanizados.
Já é tempo de um pouco de fraqueza, um pouco de insegurança, um pouco de fragilidade ? deixarmo-nos perder para, talvez, inventar outros caminhos, criar espaços de esperança que tornem possível um mundo melhor.

Entrevista conduzida por Ricardo Jorge Costa


  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 151
Ano 14, Dezembro 2005

Autoria:

Marisa Vorraber Costa
Universidade Federal do Rio Grande do Sul e Universidade Luterana do Brasil
Ricardo Jorge Costa
Jornalista do Jornal A Página da Educação
Marisa Vorraber Costa
Universidade Federal do Rio Grande do Sul e Universidade Luterana do Brasil
Ricardo Jorge Costa
Jornalista do Jornal A Página da Educação

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