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Carta Aberta à Senhora Ministra da Educação

Crê Vossa Excelência que, de uma penada e porque instituiu o Inglês como língua obrigatória, cedendo o seu Governo a interesses de grupo, vai resolver os problemas da Educação em Portugal?
Sinceramente, acredita Vossa Excelência que por prometer formação na área de Matemática aos professores do Ensino Básico, vai resolver os problemas da Educação?
Deixe-me dizer-lhe que não acredito que Vossa Excelência creia nisso. Porquê? Pois então, deixe-me explicar-lhe o seguinte:
Sou Professor num agrupamento do Nordeste Transmontano. Amanhã às 15 horas e 45 minutos os meus alunos acompanhados por mim deslocam-se à sede do Concelho para a sua primeira aula de Inglês. Demora o caminho entre vinte a trinta minutos. Chegaremos por conseguinte na melhor das hipóteses às 16 horas e 15 minutos. A aula de Inglês vai terminar às 17.00 horas. Regressamos e chegaremos a casa cerca das 17.20 minutos, cansados e esfomeados. Isto duas vezes por semana.
Dentro de algum tempo os meus alunos que agora lhe acharão muita piada, estarão cansados e essa deslocação não passará de mais uma obrigação cansativa e aborrecida.
No Inverno será uma gélida e estafante actividade!... Tanto dinheiro gasto, tanto dispêndio de energia para nada! Mas Vossa Excelência não querendo perder a face achará que sim que vai ser muito bom... Talvez até muito giro!!!
 O futuro se encarregará de demonstrar que mais uma vez se fez... Apenas mais uma experiência que não vai levar a lado nenhum. Tem contudo o mérito de fazer favores a clientelas.
Saiba, Senhora Ministra, que me chega notícia de professores que não conseguem trabalhar porque alguns alunos não deixam que se trabalhe serenamente já que para tais alunos a sala de aula não passa de um prolongamento do recreio... E a este estado de coisas Vossa Excelência diz NADA! Chegam-me ecos de professores que têm alunos com necessidades de acompanhamento especial e o seu Ministério "dá" duas horas de acompanhamento por semana... E Vossa Excelência também diz "Nada" como  se de NADA se tratasse.
Em relação ao acompanhamento dos professores no Ensino da Matemática deixe-me dizer-lhe o seguinte: As Escolas Superiores de Educação que agora vão acompanhar essa área são as mesmas que deram a formação inicial. Não fizeram o trabalho que lhes competia. Quer Vossa Excelência convencer-nos de que o vão fazer agora? Como pode acreditar nisso?
Não Excelência! Ajuste Vossa Excelência as agulhas para outro lado já que por aí não chegará a lado nenhum. Como? Pois bem, começando por dar aos professores condições para exercerem as suas funções com dignidade. Libertando os professores de tarefas burocráticas que não lhes compete executarem. Dando aos professores o apoio de que necessitam no exercício das suas funções.
Termino deixando uma pergunta que reflecte um caso real:
Pensa Vossa Excelência que um professor do primeiro ciclo do Ensino Básico, cuja formação é Português-Francês, com treze alunos distribuídos pelos quatro anos, com diferentes níveis em cada ano, com dois alunos com Necessidades Educativas Especiais, atirado pelos seus burocratas para o 1.º ciclo, pode, no fim do ano, dar conta do recado? Esse, é o meu caso. Tentarei - nem que rebente! - pode Vossa Excelência estar certa?mas não vai ser fácil!


  
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Edição:

N.º 150
Ano 14, Novembro 2005

Autoria:

Veríssimo Ramos
Professor
Veríssimo Ramos
Professor

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