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Apelo - Aos colegas que tiveram o primeiro-ministro como aluno

Começo por alertar os possíveis leitores para o facto de não ter nenhuma formação na área da psicologia e muito menos da psicanálise. Apenas tive acesso ao estudo dos conteúdos da disciplina de psicologia que fazem parte integrante da formação inicial, contínua e complementar do Curso de Educadores de Infância.
Contudo, os 53 anos que já levo de vida, atravessada de olhos e ouvidos bem abertos e os revezes por que passei e que me aguçaram o interesse pela observação do que me rodela, por vezes põem-me a pensar se não haverá coisas para lá daquelas que se vêem e das que se dizem.
Esta introdução é, de certo modo, um pedido de desculpas aos leitores pelas considerações que faço a seguir acerca dos hipotéticos traumas escolares que afectam o Primeiro-Ministro e que, como decorre do que antes afirmei, não assentam numa base científica, mas apenas na intuição de quem já viveu muito.
Eu não conheço o cadastro escolar do Primeiro-Ministro, nem sei se ele o tornou público. Não sendo pessoa das suas relações, dificilmente o conheceria. Não sei se teve de se confrontar com muitas retenções ou com dificuldades e valores mínimos para percorrer os anos escolares. De qualquer modo a sua actuação faz-me suspeitar de duas coisas:
1°. Não deve ter frequentado a Educação Pré-Escolar pois se comporta como sendo completamente ignorante no que respeita a esta etapa do Ensino Básico.
2°. Deve ter tido experiências escolares que afectaram a sua natureza delicada, com os seus professores (eventualmente com o (a) professor (a) do 1°. Ciclo do Ensino Básico, à época Ensino Primário, que são as mais susceptíveis de gravar marcas indeléveis, pela tenra idade dos seus alunos), que despertaram nele crueldade e desejo de vingança. Devem ter sido dias difíceis que teve de enfrentar perante as exigências ou intransigências do (a) seu (sua) docente do Ensino Primário, ou eventualmente, mais adiante.
Só assim consigo entender a sanha com que se joga a todo o pessoal docente. Ataca-nos a todos indiscriminadamente desrespeitando ostensivamente os nossos direitos ? aposentação, horários, progressão na carreira e o próprio estatuto de carreira está permanentemente a ser espezinhado. Nós somos as vítimas eleitas e somos apontados, com dedo acusador, como os causadores dos piores males nacionais ? os alunos não aprendem porque os professores não trabalham; os professores têm muitas férias; os professores ganham muito; os professores trabalham poucas horas, etc. O estado em que as escolas se encontram, a falta de recursos que chega a ser calamitoso, o desemprego e a pobreza em casa dos alunos, o trabalho infantil, o preço dos livros e dos espectáculos infantis (quando os há), o analfabetismo que persiste em muitas famílias donde esses alunos são oriundos e outros problemas sociais gravíssimos, são branqueados e a culpa do insucesso e do abandono escolares é inteiramente jogada nas costas dos professores.
Esta atitude toma os contornos de um velho ajuste de contas. Dou por mim a pensar se o desejo de se tornar primeiro-ministro não terá tido como principal motivação um velho acerto de ponteiros com algum professor encontrado pelo seu caminho académico e que o desprotegido aluno, agora crescido e poderoso, concretiza infernizando as contas a todos os docentes do País. E excessivo para poder ser tido como mera coincidência.
Daqui faço um apelo: o colega ou colegas que tiveram o Primeiro-Ministro como aluno e se recordam de algum episódio susceptível de o ter melindrado e de desencadear este sentimento mórbido de vingança, por favor, tentem aplacar a sua ira e a sua obra de "révanche". Sei lá, justifiquem a vossa atitude, tentem que ele compreenda que não foi por mal, que no foi nada de pessoal, em último caso peçam desculpa e prometam que não repetem, façam qualquer coisa que aplaque a sua raiva e o faça parar, antes que o caso tome contornos ainda mais dramáticos. Já há muitos colegas a recorrer ao cuidados de médicos psiquiatras... Plagiando a campanha de prevenção rodoviária: "E melhor parar por aqui".
Moita, Setembro de 2005


  
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Edição:

N.º 150
Ano 14, Novembro 2005

Autoria:

Maria Santos Ferreira
Professora e leitora do jornal a Página
Maria Santos Ferreira
Professora e leitora do jornal a Página

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