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A «Nova Direita» e a Educação (IV)

Na vida, «nem sempre o que parece é», como diz um ditado popular, e no que à avaliação das pessoas diz respeito cada vez mais isto se aplica apropriadamente, apetecendo imitar a célebre frase do anarquista espanhol: ?Há governo? Então, estou contra!?.

A avaliação, tomada na sua acepção porventura mais ampla e, portanto, mais próxima do pensamento comum, é um daqueles tópicos que ninguém parece em condições de contestar, isto é, todos estamos de acordo quanto à sua necessidade, seja para promover a melhoria do desempenho das pessoas e das organizações, seja para conhecer as realidades com que nos confrontamos e promover a sua transformação (se for caso disso), seja para validar ou contestar determinadas políticas, etc.  Numa frase, a avaliação parece estar presente em todas as esferas da actividade humana.
Na vida, «nem sempre o que parece é», como diz um ditado popular, e no que à avaliação das pessoas diz respeito cada vez mais isto se aplica apropriadamente, apetecendo imitar a célebre frase do anarquista espanhol: ?Há governo? Então, estou contra!?. Com efeito, nos últimos anos, a avaliação tem vindo a ocupar um lugar central nos discursos de políticos (normalmente situados à direita, mas também de muitos outros que se afirmam, por enquanto, como socialistas ou, eufemísticamente, de centro-esquerda), de gestores (tanto públicos como privados), de administradores dos principais grupos económicos, dos economistas de serviço nos principais órgãos de comunicação social (apresentando, curiosamente, quase todos uma argumentação muito parecida?), de directores dos principais jornais de referência e de politólogos da mais variada formação e que pululam por tudo quanto é comunicação social.
Quais as razões para esta súbita emergência da avaliação na época em que vivemos? Será que aqueles actores, subitamente legitimados por um saber apresentado como inquestionável, estão verdadeiramente interessados na promoção das pessoas e do seu desenvolvimento?  Será que o seu interesse se prende com a erradicação da pobreza, do desemprego, da precariedade do trabalho, da insegurança na velhice e da selecção social (ainda produzida em larga escala) pela escola?
A sensação (para não dizer a certeza) que temos quando os lemos e os ouvimos é que se trata exactamente do contrário, o que nos coloca perante o cinismo em todo o seu esplendor. É necessário «reestruturar» uma empresa (leia-se: despedir pessoas)? É necessário «reformar» a Administração Pública (leia-se: diminuir drasticamente o número de funcionários públicos, transformados recentemente em perigosos inimigos públicos)? É necessário «credibilizar» o sistema educativo? A solução é simples, eficaz e eficiente: nos primeiros casos implemente-se  a avaliação do desempenho dos trabalhadores e dos funcionários e, no último, proceda-se à generalização dos exames a todos os níveis do sistema educativo, apresentada como necessária, inclusive por ilustres académicos, como a única fórmula para a credibilização do mesmo.
«A armadilha da avaliação» é um título que nos parece ajustado para qualificar esta centralidade da avaliação, entre nós, nos últimos anos, replicando experiências ocorridas em alguns países centrais e com consequências comprovadamente nefastas. Pobre país se não souber responder correctamente a este conjunto maquiavélico de propostas angelicamente decorado.


  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 150
Ano 14, Novembro 2005

Autoria:

Manuel António Ferreira da Silva
Instituto de Educação e Psicologia da Univ. do Minho
Manuel António Ferreira da Silva
Instituto de Educação e Psicologia da Univ. do Minho

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