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Universidade: círculo do saber

A Universidade, historicamente, foi criada para atender aos interesses das elites e cada vez mais promove a elitização pública no país em detrimento a atenção educacional aos menos favorecidos economicamente. Além disso, ela tem como princípio transformar o senso comum em conhecimento científico e esse conhecimento favorece, e muito a setores econômicos privilegiados do que aos interesses sociais. Porém, Boaventura assegura que ?a universidade ao se especializar no conhecimento científico e ao considerá-lo a única forma de conhecimento válido, contribuiu ativamente para a desqualificação e mesmo destruição de muito conhecimento não-científico e que, com isso, contribui para a marginalização dos grupos sociais que só tinham ao seu dispor essas formas de conhecimento?. Dessa forma ela encontra dificuldades para cumprir o seu verdadeiro papel social.
Diante desse panorama é que nasce uma nova proposta de Universidade que valoriza todos os tipos de conhecimentos e estabelece um novo diálogo entre o conhecimento popular e o conhecimento científico. O conceito da Universidade Popular Comunitária (UPC) reafirma a Universidade como tempo/espaço de educação de adultos, pois se todos tivessem acesso a educação, quando adultos estariam na Universidade. E também recupera a idéia de Universidade como espaço de circulação do saber, de círculo de cultura.
Buscando atender essa necessidade o município de Cuiabá adere à Associação Internacional de Cidades Educadoras, cujo objetivo é redimensionar os diferentes espaços educativos, propiciando aos habitantes da cidade o desenvolvimento de seu potencial humano. É nesta perspectiva que surge as microrregionais como mecanismo social que passa a ser elemento fundamental, funcionando como uma espécie de célula do sistema que espelha a cidade educadora, integrando: escola-comunidade/ sede-cidade/ escola-sede/ comunidade-cidade/ escola-cidade/ sede-comunidade. 
Partindo dessa necessidade é que foi implanta, em 2002, a Universidade Popular Comunitária com intuito de atender uma classe social excluída do processo educacional, bem como retomar o conceito inicial de universidade, ou seja, a universalização do saber.
A partir de um levantamento da realidade das periferias, realizado por pais, alunos e educadores das escolas da microrregional sul de Cuiabá. Detecta: baixa escolaridade dos pais; falta de diálogo entre pais e filhos em decorrência da baixa escolaridade dos pais; desejo dos adultos do retorno à escola; falta de escolas adequadas as suas necessidades; incompatibilidade de ocupação dos mesmos espaços escolares dos filhos e dos adolescentes.
Diante dessa realidade, o eixo principal da UPC é a educação ao longo da vida, no sentido de respeitar o conhecimento construído na sua trajetória de vida. A partir disso, a UPC quer contribuir com mudanças individuais e coletivas. Portanto, visa uma escolarização que parta da vivência de cada sujeito; que desenvolva a capacidade de causar, provocando mudanças que interfiram na qualidade de vida dos envolvidos, nas relações familiares, na comunidade e em outras esferas da sua realidade. Com a preocupação de trabalhar o conhecimento técnico-científico sem a desvalorização dos saberes existentes, valorizando-o e integrando-o ao conhecimento ao longo da vida. Nesse sentido, Gruppi tinha razão em afirmar que o ?ato de conhecer não é intuição passiva, mas intervenção subjetiva no objeto?. A UPC pretende intervir positivamente na vida dos discentes.
Para tanto um dos objetivos da UPC é compreender as tensões e contradições existentes nos relatos das histórias de vida dos discentes, referente a perspectiva e qualidade de vida, violência, desemprego e de outros problemas. Apesar de toda problemática social e humana vivenciada por eles, identificamos desejos de cooperação mútua, processo de humanização e solidariedade com o outro. (?) o trabalho educativo se apresenta como possibilidade de reconstrução de vida das pessoas, resgate da auto-estima e possibilidade de novas relações sociais. (?) A educação pensada na UPC respeita os espaços de construção do conhecimento e também os conhecimentos do cotidiano dos indivíduos. Acreditamos que uma das funções do conhecimento é a capacidade de causar, caus-ação, ou seja, uma alteração qualitativa nas relações individuais e coletivas dos sujeitos envolvidos no processo. Assim, a Universidade estará cumprindo o seu verdadeiro papel.


  
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Edição:

N.º 148
Ano 14, Agosto/Setembro 2005

Autoria:

Cristóvão Domingos de Almeida
Relações Públicas e Pesquisador do Grupo de Pesquisa Movimentos Sociais e Educação na Universidade Federal de Mato Grosso (GPMSE/UFMT), Brasil
Cristóvão Domingos de Almeida
Relações Públicas e Pesquisador do Grupo de Pesquisa Movimentos Sociais e Educação na Universidade Federal de Mato Grosso (GPMSE/UFMT), Brasil

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