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A vida eterna

Não são os livros, nem as pinturas, nem as palavras: é a concepção de um caminho com ideias novas, para todos e de todos por igual. Como já estava prometido. Foi pena serem mencheviques como tenho referido de Marcel Mauss, essa minoria a respeitar a luta de classes, a aceitar sermos humanos já definidos em 1788 na base das ideias de Babeuf.

Não é medo, nem angustia. Não é mito. A vida eterna existe. Foi feita por nós para, como diz a minha co-autora, se conseguir ultrapassar a mortalidade. Ou, como já referi em inúmeros textos: sabermos que o nosso dia deve chegar e que vamos embora. O surpreendente é terem ido todos juntos, com poucas horas de diferença, essa parte da História que fugiu de nós e, embora queiramos agarrar e não largar, os imensos anos, a obra, a confiança na vida, a não procura do bem pessoal, a pobreza aceite e a luta contra a exploração, factos que juntarão três seres dentro do mesmo mito. Mito para guardar-mos e tê-los sempre connosco. O primeiro, a governar sem experiência, um País habituado a ser filho de um pretenso pai ou Ditador. Como se legisla? Como se democratiza? Como se hierarquiza?
Um segundo, escondido dum pai que nunca o quis ver e o fez fugir junto com a mãe a terras desconhecidas, desde o seu cantinho no fundo de uma Serra, esse que soube ultrapassar a sua profunda tristeza com as mais belas palavras escritas em textos que percorrem o mundo. Ser que já não era pessoa, era poesia.
Um terceiro, que nos libertou. A vitória do lutador que, sem medo nenhum, passou a vida exilado de uma parte da família ? a mais importante, a mãe ?, encerrado em prisões, retirado, não sem lutas, do seu mais importante direito, o da liberdade de opção pelo triunfo das próprias ideias, individuais e colectivas. Um ser que soube bater, avançar, negociar, nunca falar dele, guardar o seu para si, criar uma vida paralela de artista para compensar a perseguição sem motivo que os exploradores do mundo, hoje mais do que antes, fizeram dele e do povo que amava. Esse povo que ficou habituado à sua imortalidade. Esse povo que ouviu a organização de liberdade e, em silêncio, obedeceu. Esse povo que andou todas as avenidas que o artista desenhou.
Não são os livros, nem as pinturas, nem as palavras: é a concepção de um caminho com ideias novas, para todos e de todos por igual. Como já estava prometido. Foi pena serem mencheviques como tenho referido de Marcel Mauss, essa minoria a respeitar a luta de classes, a aceitar sermos humanos já definidos em 1788 na base das ideias de Babeuf. Um Babeuf semelhante a estes três que iam sendo guilhotinados se, ontem 15 de Junho, o povo não tivesse saído à rua desde todos os quadrantes políticos, mesmo os mais ferozes opositores ideológicos, para acompanhar a História que fica nas lágrimas da minha memória.
 Muito se tem dito. Agora, é preciso conta-lo às crianças com palavras simples e factuais. Confiança, companheiros! Estamos a partilhar uma Vida Eterna na Obra que ofereceram ao nosso País e ao Mundo. Apenas por estética, confiança, teimosia, desenhos do real que nenhum de nós é capaz de pensar, a excepção desde três que conhecemos a apoiarem com Glória e Louvor o que a Nação tem sabido dar.


  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 147
Ano 14, Julho 2005

Autoria:

Raúl Iturra
Instituto Superior das Ciências do Trabalho e da Empresa, Lisboa
Ana Paula Vieira da Silva

Raúl Iturra
Instituto Superior das Ciências do Trabalho e da Empresa, Lisboa
Ana Paula Vieira da Silva

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