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Descontrução Poética

Para reler Jacques Derrida

O jornal ?Público? acaba de editar uma série de antologias poéticas, elaboradas por figuras conhecidas da nossa vida política e cultural, sob o tema genérico «os poemas da minha vida». Os primeiros quatro antologiadores são Mário Soares, Freitas do Amaral, Miguel Veiga e Urbano Tavares Rodrigues. Com estas antologias de preferências poéticas bem identificadas, a colecção, dirigida por José da Cruz Santos (nome associado à poesia das editoras INOVA e Ouro do Dia), pretende, nas palavras do próprio editor, despertar a curiosidade do público que habitualmente não é leitor de poesia.
Rendo-me à inédita iniciativa e, num exercício académico, começo a elaborar a minha própria antologia poética, elencando, numa primeira e caótica fase, poetas e poesias, sem qualquer ordem. Guerra Junqueiro (há dias fui relê-lo para indicar, a um dos meus filhos, um poema anti-inglês com referências expressas à luta da Irlanda), o ?Galileu? de António Gedeão, Manuel Bandeira (?Vou-me embora para Pasárgada?) , ?Mattina?, de Giuseppe Ungaretti (?M?illumino d?immenso?), na notável tradução de Orlando de Carvalho (?Deslumbro-me de imenso?) ele também poeta a incluir nos poemas da minha vida com ?A Grandôla na boca de patifes e pedreiros?, incluído em ?Sobre a Noite e a Vida?.
Paro ao quinto poema para me lembrar de três outros ? ?Tengo? do cubano  Nicolas Guillen , «Pátria, lugar de exílio?, de Daniel Filipe, o cantado poeta caboverdiano da «Invenção do Amor» e Jorge Barbosa que julgo ser o autor de um poema ?Crianças? publicado na revista do movimento da Claridade. Lembro-me de ter comprado na parte velha de Havana, em plena rua, por um dólar, um livro de Nicolas Guillen que incluía o ?Tengo?. E de ter encontrado no Mindelo, a capital cultural de Cabo Verde, uma edição fac-similada de todos os números da revista da Claridade.
Outro livro religiosamente guardado é o «Aviso à Navegação» de Joaquim Namorado, que foi meu mestre em Coimbra, na concepção renascentista do termo. Junto-lhe António Machado e o pequeno poema que fala do caminho que se faz caminhando, Fernando Pessoa, em especial o ?Aniversário? de Álvaro Campos (?no dia em que festejavam o dia dos meus anos?) e José Gomes Ferreira, em ?Viver sempre também cansa?.
Subitamente acrescento o ?Medo? de Alexandre O?Neil e ?a Queima dos Livros? do pobre BB, Bertolt Brecht, na notável tradução de Paulo Quintela. Julgo que o próprio Paulo Quintela, então bolseiro na Alemanha, em Maio de 1933, assistiu a esse ?acto de fé? do nacional-socialismo. Ele contava, impressionado, ter visto um operário alemão, de boné na cabeça, a desafiar a postura que os nazis tinham imposto para tal espectáculo, gritar palavras de ordem contra Hitler e pela Liberdade, antes de desaparecer na multidão
As edições de antologias poéticas que o ?Público? está a divulgar são o primeiro pretexto para este espaço novo de ?a Página, réplica pobre desse pequeno ensaio de Jacques Derrida (?Che cos?è la poesia??) que a conimbricense editora Angelus Novus publicou, mantendo o título original em italiano, na versão portuguesa de Osvaldo Manuel Silvestre.


  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 141
Ano 14, Janeiro 2005

Autoria:

João Rita
Jornalista, Porto
João Rita
Jornalista, Porto

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