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Carta a Maria de Belém sobre a educação

Cara Maria de Belém,

A situação catastrófica da nossa Educação é fundamentalmente devida a:

1. A decisões erradas tomadas ao longo de anos por decisores políticos. Estas decisões têm sido intermitentes e algo pontuais, mas a fragilidade do nosso sistema educativo e o seu caracter altamente centralizado (sem estruturas intermédias de resistência) faz com que tenham efeitos muito duradouros.
2. À longa série de responsaveis que passaram pelo sector da Educação onde tiveram a oportunidade de tomar decisões benéficas para o sistema mas que o não fizeram, ou por não terem qualquer ideia do que havia a fazer, ou por estarem afogados por problemas imediatos e pontuais. (Penso ser, por exemplo, o caso da actual Ministra do Ensino Superior e da Ciência).
A isto sobrepõe-se um nevoeiro que a Comunicação Social não tem sido capaz de afastar e que impede o país de ver que o problema da Educação é, fundamentralmente, o dos decisores. No meio deste nevoeiro há quem, sem se dar conta, lance areia para o ar, que depois lhe cai nos próprios olhos e dos outros.
Quando a Maria de Belém, na 6ª feira passada [12 de Novembro], no decorrer do 1º Congresso da Democracia Portuguesa promovido pela Associação 25 de Abril, apresentou as conclusões do painel sobre Desenvolvimento que coordenou, pareceu-me estar a transmitir um apelo para que se aumentassem os investimentos financeiros na Educação. Se assim foi, esteve, a meu ver, a lançar para o ar areia que ao nos cair nos olhos só pode servir para não vermos o que é fundamental.
Os investimentos na Educação em Portugal, nos últimos 30 anos, têm sido mais ou menos semelhantes e, nalguns casos, até superiores aos da generalidade dos outros paises europeus. Não é, portanto, pela via do aumento dos investimentos que podemos resolver o gravíssimo problema da Educação em Portugal.
Pensar só nos investimentos ao pensar na Educação, é fechar os olhos e, nalguma medida, desvia-los da questão central para que é necessário olhar: para o problema das decisões dos decisores e para a falta delas ( e para o modo como, tão frequentemente, são desperdiçados os contributos enviados de baixo, ao ponto de aqueles que o podiam fazer quase terem desistido).
O 1º Congresso da Democracia Portuguesa organizado pela Associação 25 de Abril, em que ambos participamos embora em paineis diferentes, foi um êxito francamente interessante, agradavel e enriquecedor, mas a sua validade futura fica a depender das suas conclusões serem encaradas, não como fórmulas estáticas, mas como bases de partida para a procura de soluções e de caminhos. Por ser este o meu desejo, envio-lhe este texto.
Há, ainda, outra razão que o justifica. Ambos somos do PS. Quase certamente, o PS vai ganhar as próximas eleições. Não no imediato, mas a médio prazo, o problema central da Educação vai ser, assim, o de se saber se o PS consegue assegurar que os futuros gestores (decisores) políticos no campo da Educação:
1. Dêem garantias de não cometer erros do tipo 1 atrás referido.
2. Sejam capazes de tomar algumas decisões acertadas do tipo 2, e serem pessoas para saber ouvir e aproveitar sugestões que lhe sejam transmitidas.
Como militantes do PS somos responsavais. Como militante de base, o que posso fazer, neste momento, é enviar-lhe este texto e dá-lo a conhecer à opinião pública.

Lisboa, 15.11.2004


  
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Edição:

N.º 140
Ano 13, Dezembro 2004

Autoria:

António Brotas
Professor Jubilado do Instituto Superior Técnico
António Brotas
Professor Jubilado do Instituto Superior Técnico

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