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O construtivismo representará um paradigma no campo da educação?

Para Piaget, o conhecimento não pode ser concebido como algo predeterminado pelas estruturas internas do sujeito, nem pelas características do objecto. Todo conhecimento é uma construção, uma interacção, contendo um aspecto de elaboração do novo.

Até o século XVIII havia o conflito entre duas Epistemologias: o Empirismo inglês e o Racionalismo alemão, que advogavam posições distintas em relação à origem do conhecimento.
Para a corrente Empirista, o conhecimento é adquirido pelos sentidos empíricos, ou seja, através das sensações captadas pelos órgãos dos sentidos. Assim, a partir da experiência, o ser humano vai acumulando conhecimentos. Contrariamente, para a corrente Racionalista a razão é a única fonte do conhecimento. A mente tem capacidade inata para gerar ideias, independentemente da estimulação ambiental.
No final do século XVIII, Emmanuel Kant sugere a conciliação entre as duas posições filosóficas, propondo o Interacionismo. Para Kant, tanto os sentidos quanto a razão eram importantes para a experiência do mundo. Ele achava que o material para o conhecimento era dado através dos sentidos que se adaptava às características da razão.
No início do século XX, o psicólogo suíço Jean Piaget retoma o princípio de Kant e a partir de sua teoria, a Epistemologia Genética ou Teoria Psicogenética, surge o Construtivismo. De maneira geral, os estudos de Piaget sobre a génese do conhecimento objectivaram o entendimento da maneira pela qual o sujeito constrói e organiza o seu conhecimento durante o seu desenvolvimento histórico. Para Piaget, o conhecimento não pode ser concebido como algo predeterminado pelas estruturas internas do sujeito e nem pelas características do objecto. Todo conhecimento é uma construção, uma interacção, contendo um aspecto de elaboração do novo.
A partir dos estudos de Piaget até à actualidade, inúmeros são os trabalhos publicados no campo da educação sobre o Construtivismo, em específico sobre a participação do aluno como sujeito da aprendizagem, chegando a ser considerado por alguns autores, como um ?paradigma? nas ciências da educação.
O conceito de paradigma está vinculado ao ponto central do trabalho de Thomas S. Kuhn, historiador e filósofo da ciência que distingue duas fases diferentes do pensamento científico: a criação de ?paradigmas? e a ?revolução científica?(1). Para Kuhn (1997), ?paradigmas? são as realizações científicas universalmente reconhecidas que, durante algum  tempo, fornecem soluções modelares para uma comunidade científica. A visão Kuhniana é a de uma comunidade científica global, composta por um conjunto de homens que partilham um paradigma e sua aceitação pode ser verificada com o surgimento de revistas especializadas, livros didácticos, etc.Todavia, se analisarmos esses trabalhos de maneira aprofundada, perceberemos que o Construtivismo tem se apresentado de maneira heterogénea, isto é, com uma diversidade de abordagens pedagógicas, como por exemplo se o mesmo representa uma teoria ou um método de ensino.
Porém, o fato de que o Construtivismo tem sido apresentado de maneira heterogénea, não invalida as suas imensas contribuições para o campo da educação como por exemplo,  o reconhecimento pela maior parte dos educadores de que o conhecimento é activamente construído pelo aprendiz e não apenas transmitido pelo professor.
Sendo assim, melhor é não pensar se o Construtivismo representa ou não um paradigma no campo da educação mas pensá-lo, sobretudo, como uma postura que permite romper com a visão cientificista do ensino, centrada na mera transmissão de conhecimentos pelo professor, que insiste em fazer repetir o que já está pronto. Porque não se pode perder de vista que a espécie humana, dentre todas, é a única que é capaz de atribuir significados ao funcionamento dos mecanismos naturais, colocando-os ao serviço da sua adaptação ao meio ambiente.

(1) Não é propósito deste artigo discutir aprofundadamente ?paradigmas? e ?revoluções científicas?. Para maior embasamento teórico,  consultar a obra original de Kuhn A Estrutura das evoluções Científicas (1962).

  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 137
Ano 13, Agosto/Setembro 2004

Autoria:

Geilsa Costa Santos Baptista
Univ. Estadual de Feira de Santana, Bahia, Brasil
Geilsa Costa Santos Baptista
Univ. Estadual de Feira de Santana, Bahia, Brasil

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