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Vergílio Ferreira e a filosofia da sua obra literária

Integrado no ?Colóquio Internacional Vergílio Ferreira no cinquentenário de Manhã Submersa: Filosofia e Literatura?, realizado em Março último na Universidade Católica Portuguesa (Lisboa), onde foram apresentadas comunicações importantes de Robert Bréchon, Eduardo Lourenço, Luís Mourão, Helder Godinho, José Esteves Pereira, Fernanda Irene Fonseca, Rosa Maria Goulart, entre outras, foi lançado o livro de José Antunes de Sousa Vergílio Ferreira e a Filosofia da sua Obra Literária, em que pela primeira vez se estuda em profundidade o sentido filosófico da ficção do autor de Para Sempre.
Doutorado em Filosofia pela Universidade Católica Portuguesa e professor do Instituto Piaget, José Antunes de Sousa é hoje investigador do Centro de Literatura e Cultura Portuguesa e Brasileira na mesma Universidade e colabora com regularidade em revistas e jornais. Ao abordar a filosofia na obra literária de Vergílio Ferreira, nas vertentes mais essenciais do que a fundamenta, o autor não deixa de fazer incidir o seu estudo nos aspectos e limites de uma obra que é posta em paralelo com outros autores portugueses, ao mesmo tempo que destaca as relações da literatura e da filosofia, da ética e do materialismo metafísico, do humanismo e de Deus, do conhecimento e da linguagem que aparecem estudadas em profundidade e com grande rigor filosófico. De facto, trata--se de um primeiro e essencial estudo da obra vergiliana na perspectiva da filosofia, onde se não esquecem os conceitos de sujeito e linguagem, Deus e divindade, tempo e temporalidade, os mitos do Transcendente, ou ainda o sentido da fala e da escrita, da linguagem e o mundo que em Vergílio Ferreira, como é demasiado eviente nos seus ensaios e anotações de diário, ganham um espaço de eleição ou de preferência nas questões que sempre soube inquirir ou abordar. Por isso, este estudo do Prof. José Antunes de Sousa é realmente denso e exaustivo ao longo de quinhentas páginas e afirma-se, sem dúvida, como um excepcional contributo para o melhor conhecimento da obra literária de Vergílio Ferreira. E é isso que ressalta, na evidência dos valores defendidos pelo prof. José Antunes de Sousa neste admirável estudo ao ter sabido colocar em destaque, com grande rigor de interpretação, os conceitos e mitos que consubstanciam a obra vergiliana - sinfonia em louvor da vida e desde sempre saber, como diz em Invocação ao Meu Corpo, que "o que existe para o homem é o absoluto da sua hora e tudo o que para lá existe, existe apenas coordenado com ela, a ela subordinado".E, na atitude de tudo globalizar na ficção ou ensaísmo literário, se poder encontrar uma "explicação" para o que é do homem mais essencial, porque toda a obra se define dentro de coordenadas que, na aceitação ou recusa dos valores mais autênticos, Vergílio Ferreira exigiu que a sua coerência intelectual se afirmasse através de um itinerário tão próprio e de excepção na moderna literatura portuguesa, sem se desviar dessa posição inconfundível de quem encarou a literatura como o acto maior e único de estar vivo.

Publicações Aríon / Lisboa, 2004.                                               
   
                                     


  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 134
Ano 13, Maio 2004

Autoria:

Serafim Ferreira
Escritor e Crítico Literário, Lisboa. Colaborador do Jornal A Página da Educação.
Serafim Ferreira
Escritor e Crítico Literário, Lisboa. Colaborador do Jornal A Página da Educação.

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