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Sampa 450

Sampa. A metrópole cosmopolita que agita o Brasil e é o seu coração industrial e comercial.
Por que deram o nome do apóstolo cristão Paulo à Vila de Piratininga?
Por que era tão estratégico aquele território para a expansão do Comércio  e da Fé? Para sabermos como isso aconteceu, João Barcellos  foi ?entrevistar? o jesuíta Manoel da Nóbrega.
Com você, Leitor[a], a metropolitana São Paulo dos Campos de Piratininga!

Enquanto o fervoroso Anchieta escreve um amantíssimo poema em branca nuvem, ?encontro? Nóbrega estabelecendo paralelos históricos e tentando se convencer, qual bandeirante de Deus, como lhe chamou João XXIII, que a melhor defesa de Sampa é, sim, o Trabalho que faz a Riqueza tendo a Fé como suporte...
- Ah, está aí um luso lá de Sampa ? alguém anuncia para ele a minha presença. Entro no celestial recinto entre pequenos flocos de nuvens. Um cântico gregoriano que, de alguma forma lembra salmos hebraicos e cânticos telúricos pagãos, é a trilha sonora do ambiente. Olho o velho missionário da Ordem de Jesus, e questiono: - Há uma carta em que Anchieta descreve a fundação da Vila de Piratininga, assim: ?Mandou o Padre Manoel da Nóbrega os filhos dos Índios do Campo, a uma povoação nova chamada Piratininga que os Índios faziam por ordem do mesmo Padre, para receberem a Fé?. Ele chegou na Sampa em 25 de Janeiro de 1554, ou seja, no dia em que você mandou celebrar a missa de assentamento...
Nóbrega olha-me e sorri. Percebo que sim, que a informação de Anchieta está correta. E ele diz, à guisa de complemento, que ?...construímos Casas para enquanto o Mundo durar?! Ele havia estado, em 1549, em Salvador, onde a 29 de Março fundara o Real Colégio do Brasil, enquanto mandava Leonardo Nunes fazer o mesmo em São Vicente; depois, em 1553, ele mesmo subiu a Serra do Mar, por Paranapiacaba, para conhecer um local, entre os rios Tamanduateí e Anhangabaú, onde pudesse ?estabelecer uma nova povoação?.
- Você subiu a Serra do Mar porque quis uma Casa nova para as crianças, tupis e guaranis [principalmente, os carijós mbianos], de São Vicente, que, na verdade, eram das aldeias do planalto. Você criou um novo lar?
- ?...em casa de seus pais, em Piratininga, onde por sua contemplação principalmente fiz aquela Casa, para que nós as doutrinássemos e seus pais as sustentassem e com eles ganhássemos todos os demais? ? diz, e dá uma olhada, além, sobre a moderna Sampa, a metrópole sem fim. Parece não desgostar muito do que vê, quase meio milênio depois...
A sua Sampa cresceu, cresce. E lá vai ela enquanto o Mundo durar, enquanto os povos do Mundo acharem nela um porto seguro, uma promessa de futuro.
- Quando, em 1567, após a vitória sobre os Franceses luteranos e os Tamoios, você estabeleceu o Real Colégio do Rio de Janeiro, e do qual foi ?o seu primeiro reitor?, como noticia Anchieta numa das suas cartas, tornou-se também um bandeirante...
- ?Esta terra é nossa empresa?! ? diz. Ele deixa clara, aqui, a estrutura miliciana com que a Ordem de Jesus foi celebrada pelo Catolicismo, que enfrentava a expansão do Cristianismo protestante. Afasta, com a mesma leveza insustentável, alguns flocos de nuvens que nos separam por instantes, e eu aproveito: - Entretanto, você viu que no Piabiyu [como os guaranis, e mais os carijós, chamam ao Caminho do Peru, e que vocês, jesuítas, tentaram batizar sem sucesso de Caminho de São Tomé...] estava a possibilidade de ganhar a Terra Brasilis pelas bocas de sertam, e tudo a partir da Sampa, que
- ?...se vai fazendo uma formosa povoação?  - corta ele, entusiasmado. ? E continua: - ?É por aqui a porta e o caminho mais seguro para entrar nas gerações do sertam?!
Esta era, então, a que movia o missionário e guerreiro jesuíta Manoel da Nóbrega. Ele tinha como guia espiritual o apóstolo cristão Paulo, que fora um judeu chamado Saulo.
- O noviço, que logo você ordenou padre, chamado José de Anchieta, lembra, em carta, uma ordem sua: ?Assim alguns Irmãos mandados para esta aldeia, que se chama Piratininga, chegamos a 25 de Janeiro do ano do Senhor de 1554?.
Manoel da Nóbrega abana a cabeça positivamente. Sorri. Aquela nova Casa, feita para ?enquanto o Mundo durar?, recebera 13 jesuitas, que assentaram solenemente o nome de São Paulo dos Campos de Piratininga, homenagem de Nóbrega ao seu guia espiritual. E as trezes listras da bandeira de Sampa homenageiam aqueles missionários e Manoel da Nóbrega, o Mestre.
Que esta breve ?entrevista? ajude a esclarecer, historicamente, o que era e como nasceu São Paulo dos Campos de Piratininga.

Bibliografia de Consulta:

  • Nóbrega ? o fundador de São Paulo, PIMENTA, José de Melo, SP/Brasil 1990
  • Morgado de Matheus ? o grande governador de São Paulo, BARCELLOS, João, SP/Brasil, 1991, 4ª Ediç. 2003
  • Piabiyu, BARCELLOS, João, SP/Brasil e Guimarães/Pt 2003

  
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Edição:

N.º 131
Ano 13, Fevereiro 2004

Autoria:

João Barcellos

João Barcellos

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