CIDADES EDUCADORAS SÃO, ASSIM, TODAS AS QUE ASSUMEM COERENTE E CONSEQUENTEMENTE O IMENSO POTENCIAL QUE O SEU PATRIMÓNIO CULTURALMENTE CONSTRUÍDO LHES PROPORCIONA, TRANSFORMANDO-O, DESTE MODO, EM CAPITAL EDUCATIVO.
A ideia de cidade educadora implanta-se com a tomada de consciência social de que educar, sendo uma tarefa específica da escola e da família, é, antes de mais, uma responsabilidade da sociedade no seu todo e na totalidade da sua acção no espaço e no tempo. Daí que se exija à cidade, enquanto nicho central da vida colectiva contemporânea, que se humanize e se transcenda como meio integralmente humano e humanizante. Afinal, as cidades, se, agregando as pessoas, cresceram como centros da actividade económica, não terão que redundar necessariamente em espaços de violência e de exclusão, conforme tendem a ser estigmatizadas pelas próprias realidades sociais em que frequentemente mergulham. Mas, constituindo realidades incontornáveis do nosso universo social, as cidades são também e sobretudo centros privilegiados de oportunidades. Cidades educadoras são, assim, todas as que assumem coerente e consequentemente ? através de um programa sistemático e intencionalmente dirigido de acção formadora - o imenso potencial que o seu património culturalmente construído lhes proporciona, transformando-o, deste modo, em capital educativo. O desafio é, pois, o de valorizar, a par do capital económico ? e até através dele - , o próprio capital educativo. De forma a facilitar a estruturação desse desafio, tento esboçar, de seguida, uma carta de princípios da cidade educadora. A ser, naturalmente, completada e emendada por quem a ler.
-
A cidade educadora assume a cultura, antes de mais, como a busca de sentidos para a vida, o que implica não a ver como mais uma frente de consumo passivo, mas, sobretudo, como um processo de produção que motiva a criatividade e estimula a curiosidade.
-
A cidade educadora concebe a educação, simultaneamente, como um processo, como um meio e como um produto que, através destas diferentes dimensões, se constitui como um bem social que a valoriza e dinamiza.
-
A cidade educadora acolhe uma concepção aberta e diversificadora de saberes, de práticas e de expressões culturais, procurando delinear tempos e espaços formais e informais de permuta e de aprofundamento das respectivas idiossincrasias e potencialidades.
-
A cidade educadora abre-se às outras cidades, surpreendendo as semelhanças e experimentando o desafio das diferenças.
-
A cidade educadora explora educativamente o património das tradições, no mesmo movimento em que, com a identidade que elas proporcionam, faz delas o solo da inovação.
-
A cidade educadora consolida as escolas como instituições educativas, ao mesmo tempo que valoriza e cria outros núcleos de formação onde as pessoas possam dar o seu saber e usufruir do saber dos outros.
-
A cidade educadora acolhe os que querem aprender e ensinar, sem prejuízo de submeter todas as propostas e projectos a critérios de exigência organizativa e aos princípios de um plano regulador.
-
A cidade educadora procura motivar todas as pessoas e instituições para participarem na actividade educativa como um projecto pessoal e colectivamente gratificante de vida em comum.
-
A cidade educadora, aberta à participação, propõe a todos uma relação de contrato ético mutuamente responsabilizante.
-
A cidade educadora define prioridades de formação em função de um processo de avaliação de carências, de objectivos e de recursos.
Depreende-se da enumeração e explicitação destes princípios que a cidade educadora é, antes de mais, como acentua um dos seus grandes teorizadores ? Jaume Trilla ? , não só perspectivada como um meio educativo, mas também e sobretudo como um agente ? como um sujeito ? activo, empreendedor de projectos de formação que a implicam no seu todo. Os cidadãos tornam-se, em permanência, por isso, potenciais educadores e educandos. A cidade educadora é, com certeza, uma utopia que permite às cidades superarem o estigma com que o mundo urbano foi atingido pois encerra um convite à superação da rotina, do consumismo, da solidão e da violência, em favor da criatividade, da participação e da comunicação pela via do reconhecimento da educação como um contexto e como um projecto. A cidade educadora é uma utopia para ser vivida, nunca realizada, nem adiada ...
|