"Pavão Pavãozinho, metralhadoras, escopetas e granadas, trinta homens. Ladeira dos Abacates, quarenta homens, fuzis AR-15 e HK-47. Morro da Maria Penha, líder Creudão, cinquenta homens, armamento importado. Morro da Baiana, noventa homens, pistolas, escopetas, líder Feinho. Salvação e Tucano, dois morros, oitenta homens, fuzis automáticos, líder Zé Boléu. Rato Molhado e Jacarezinho, cento e vinte homens." (1) (1) Inferno, Patrícia Melo, Companhia das Letras, S. Paulo, 2000, p.18.
Petróleo em primeiro lugar na lista de produtos mais exportados no planeta, armamento em segundo, a droga (pensa-se) em terceiro lugar (em termos de valor expresso em dólares), são cálculos que se fazem, há anos, no Banco Mundial.
O Brasil poderá tornar-se uma nova Colômbia!, alertou o governo do presidente Lula. Os efeitos da mundialização da exclusão social, o total desrespeito pelos Direitos Humanos, fazem pensar se não estaremos à beira do "capitalismo da droga", descrito ainda no Século XX como possibilidade de futuro.
O Continente Americano funciona, em termos comerciais, numa troca de drogas (produzidas no Sul) por armamento (produzido no Norte). Pelo meio ficam camponeses esmagados, máfias-governos, populações urbanas "faveladas", também elas produtoras-consumidoras-vendedoras de droga, compradoras de armas.
É o universo descrito pela jovem escritora Patrícia Melo, numa linguagem arrepiante. Imprescindível para compreender os nossos tempos, como foi um dia Eça para entender a sociedade portuguesa. Os tempos mudaram...
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