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Um ensino diferente para um novo estímulo à inovação, à criatividade e à vontade de aprender

A aceleração da velocidade de produção de conhecimento e de diversificação das necessidades, tem vindo a induzir uma mais rápida obsolescência do valor de uso das coisas e das ideias. O conhecimento, envelhecendo assim mais depressa, precisa de se renovar constantemente, e tem por isso vindo a assumir um maior protagonismo, que o transforma numa nova matéria prima de valor incalculável. O que faz com que, em alguns dos sectores ou entidades tecnologicamente mais avançados ou com maior dinâmica de inovação, os activos físicos há muito tenham deixado de ser os mais importantes (o valor de uma empresa como a Microsoft, por exemplo, seria muitíssimo menor se fosse calculado com os critérios de há 20 anos).

Os activos imateriais passaram pois a assumir uma importância sem precedentes. E quais as consequências desta realidade? São muitas, mas realço uma que será absolutamente determinante para o futuro de todos os trabalhadores e do país: o novo papel da formação profissional.
Se o conhecimento se desvaloriza mais depressa, então o conhecimento adquirido nas escolas e nas universidade passa a ?durar? menos tempo. E só há uma alternativa: continuar a aprender, a aprender sempre. E, portanto, a formação profissional passará a ter não apenas uma «maior» importância, mas uma importância «nova». Porque se até há alguns anos ela era «aconselhável», agora passa a ser «insubstituível».
Nenhum trabalhador, nenhum quadro ou nenhuma entidade empregadora se poderão dar ao luxo de continuar a tratar a formação profissional como esta tem sido tratada até aqui. Os trabalhadores, os quadros, não podem continuar a limitar-se a «pedir» a formação profissional: têm que a «exigir», porque ela é um dos seus direitos. Os empregadores não podem continuar a oferecê-la como uma «prenda» aos que se ?portam? bem: têm que a entender como «um investimento» na capacidade de fazer mais, melhor, com inovação e de forma mais sustentada.
As universidades e as escolas têm desempenhado até hoje um papel decisivo no aumento do saber, mas têm que passar a partilhá-lo cada vez mais com a formação profissional. As experiências dos Laboratórios do Estado, dos projectos de investigação associados a doutoramentos, mestrados e pós-graduações, e ainda das instituições que promovem o enlace entre o mundo empresarial e os organismos especializados de I&D, devem ser convenientemente estudadas e reavaliadas. Tal como deverá ser reavaliada a natureza dos conteúdos e dos saberes que devem ser ministrados nas escolas e universidades, num quadro novo em que se transferem para a formação profissional responsabilidades que tradicionalmente competiam à educação.
Colocam-se portanto novos problemas ao ensino. E os seus agentes, com os sindicatos dos professores à cabeça, têm que agarrar este novo desafio com decisão. Já «não basta transmitir conhecimentos», é necessário começar a «consolidar novas atitudes» nos alunos. Já não basta ensinar bem o «saber» e o «saber fazer» para a vida activa, é necessário reforçar muito a capacidade de «saber aprender».
São questões sobre as quais se tem produzido muita reflexão crítica. Mas, quase sempre, quando se fala no novo lugar ocupado pela formação profissional, menciona-se a necessidade de uma nova relação «universidades»/empresas/instituições. Agora, será necessária uma nova relação «escola»/empresas/instituições.
Não há ainda muitas certezas acerca disto, mas podemos formular já questões concretas para as quais é necessário encontrar novas respostas:

  • como aumentar e estimular a capacidade de auto-aprendizagem?
  • como estimular a curiosidade e aumentar a capacidade de criação e inovação?
  • como aumentar a capacidade de conceptualização dos alunos e desenvolver as suas capacidades de raciocínio abstracto, sem deixar de lado o domínio das coisas concretas onde esse raciocínio se exercita?
  • como reforçar de uma forma colossal os métodos do ensino prático, para que as coisas simples sejam verdadeiramente simples de aprender?
  • como estabelecer entre os alunos e a escola uma «relação para a vida» e não apenas uma «relação de passagem» entre a infância e a vida profissional?
  • como aumentar os estímulos positivos aos alunos em vez de lhes transmitir predominantemente estímulos negativos? (um estímulo negativo ? «o medo de chumbar» - pode resolver o problema de um exame, mas só um estímulo positivo ? «o desejo de conhecer» - resolverá o problema do conhecimento)
  • como entrelaçar mais a escola com o mundo exterior, para que possa dar e receber a informação indispensável à construção dos novos caminhos?
  • como aumentar a estabilidade dos alunos enquanto seres disponíveis para a aprendizagem?
  • e, finalmente, como garantir estabilidade e todas as condições acima mencionadas para os professores, sem dúvida os principais agentes do ensino, sem os quais nada se fará de forma sustentada?

São apenas perguntas. Mas, para encontrarmos respostas para os novos problemas é necessário, antes de mais, que sejamos capazes de formular adequadamente as perguntas que ainda não têm uma resposta completa. E estas são algumas das perguntas a que precisamos de responder com urgência. Não serão novas, talvez, mas todas elas começam a exigir respostas de um novo tipo. Respostas que temos que continuar a procurar. Só assim conseguiremos encontrar a via para um ensino novo que estimule a criatividade, a inovação, o desenvolvimento do conhecimento. Para que este país, os professores, os alunos, todos nós, possamos olhar o futuro com confiança.


  
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Edição:

N.º 123
Ano 12, Maio 2003

Autoria:

Agostinho Santos Silva
Engenheiro. CTT.
Agostinho Santos Silva
Engenheiro. CTT.

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