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Carta do leitor

Ex.mo Senhor
Paulo Serralheiro

Tendo lido na PÁGINA de Dezembro um artigo sobre o Bairro do Lagarteiro (p. 27), não resisti à tentação de acrescentar e corrigir algumas das coisas que foram ditas pela D. Fernanda Gomes.
Efectivamente, o Bairro do Lagarteiro pode ser considerado um bairro isolado na periferia da cidade e esquecido pelas autarquias no que respeita a obras de melhoramento habitacional e de criação de zonas de lazer e de cultura. Na entrevista, a D. Fernanda esqueceu-se de referir algumas ? coisas? boas que foram criadas pelo anterior Governo e que continuam agora com o que lá está. Com efeito, ao ler o artigo, ficamos com a ideia que, no Lagarteiro, só existe um Jardim de Infância, o do Centro Social. No entanto, na Escola nº 10 do Lagarteiro, a que o artigo dá o nome de Escola Básica de Azevedo de Campanhã (que não existe) foi criado há 5 anos um jardim de infância com duas salas amplas, cheias de luz e apetrechado pela Câmara Municipal do Porto com o que de melhor existe no mercado. Gostaria também de referir, visto que me pareceu que a D. Fernanda desconheceria, que esse Jardim e as crianças que nele estão, tem sido muito acarinhado quer pelos Serviços Educativos da Câmara quer pelo Sr. Presidente da Junta de Campanhã. Ao apoiarem o Jardim, as crianças e as famílias estão também a apoiar o Bairro, pelo que me parece injusta a acusação que no artigo é feita às autarquias. Não sou Educadora do Centro Social, mas penso ser justo referir, pelo facto de trabalharmos em articulação, que o Centro Social efectivamente não terá as condições ideais e que gostariam de ter. No entanto essas instalações foram cedidas pela Câmara do Porto e o trabalho que lá se faz tira da rua uma centena de crianças que de outra forma andariam pela rua ou estariam em casa com muito piores situações físicas e humanas do que aquelas que têm no Centro.
A D. Fernanda esqueceu-se ainda de referir os variadíssimos Projectos  Sociais que têm decorrido no Bairro do Lagarteiro, nomeadamente o Projecto da Fundação para o Desenvolvimento do Vale de Campanhã, com actividades de capoeira, música, dança, sala de estudo, ludoteca, etc. para crianças e jovens, e também projectos para ocupação da Terceira Idade, mães solteiras e Toxicodependentes.
Com tudo isto, não estou a dizer que o Lagarteiro é um mar de rosas. O bairro está fisicamente muito degradado, completamente isolado da cidade pela VCI e Circunvalação e padece de muitos males e de muitas promessas não cumpridas. Sabemos que existe um plano de requalificação que todos pensávamos que seria antes do do Bairro S. João de Deus mas isso não aconteceu. Ficamos à espera. Se me permitem, relembro ao Sr. Presidente da Câmara aquilo que uma vez lhe disse na nossa escola: não interessa só requalificar fisicamente, é preciso investir na Educação Social. É urgente que a requalificação física seja acompanhada pela requalificação social. Já que estamos num compasso de espera, porque não aproveitá-lo para colocar no bairro Educadores Sociais que ajudem as pessoas as valorizar-se a si próprias e a valorizarem aquilo que têm, tornando-se mais intervenientes no espaço que habitam e nas infraestruturas que por ventura possam vir a ter? Só assim os residentes do Bairro do Lagarteiro poderão saborear e viver o verdadeiro pôr do sol da Foz do Douro.


  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 119
Ano 12, Janeiro 2003

Autoria:

Joaquina Maria Oliveira
Educadora de Infância da EB1 nº10 do Lagarteiro
Joaquina Maria Oliveira
Educadora de Infância da EB1 nº10 do Lagarteiro

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