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Novo Despertar de Primavera

(lembrando Wedekind, a pretexto das recentes movimentações estudantis no Secundário)

Há mais de cem anos, FRANK WEDEKIND (1864 -1918), dramaturgo, actor e encenador, contemporâneo de Freud, colaborador de revistas irreverentes, como a ?Simplicissimus?, que cumpriu pena de prisão por crime de desrespeito ao rei e foi um alvo privilegiado da censura, fez tema central da sua criação a liberdade da natureza reprimida do homem.
Bertolt Brecht disse que ele foi o grande educador da nova Europa. É dele a peça  ?O Despertar da Primavera?, representada, em Portugal, entre outras companhias, pelo Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra, numa encenação de Ricardo Pais de referência na história do TEUC.
Ombreando com  Meyerhold ou Piscator no rol dos criadores chave do Teatro, Wedeking consagrou, em «O Despertar da Primavera? o momento da iniciação, no caso a de um adolescente que descobre a vida sexual, na pré-história da sociedade burguesa.
A metáfora do Despertar da Primavera, nesse tempo a  história do encontrar do outro, está bem actual no texto de Wedeking. Os três jovens (Vanda, Maurício e Belchior) do triângulo central da peça não encontram, há cem anos, os apoios que precisariam junto dos pais ou dos professores para uma educação sexual  necessária. Que mudou entretanto?
E no plano político? Não haverá também, no plano político, a necessidade de um despertar de Primavera entre os jovens. As lutas estudantis, que marcaram, entre nós os anos 60 e 70, e ajudaram a formar politica e civicamente a geração que ainda hoje marca Portugal, podem ser, nos nossos dias, tão difíceis de assumir como a própria sexualidade.
Neste sentido, as recentes movimentações dos estudantes do Ensino Secundário são também um despertar de Primavera que importa acarinhar e aplaudir, como parte integrante da formação dos jovens. De uma formação nem sempre tão completa como seria de desejar
Tal como na peça de Wedeking, que acaba mal (com as mortes de Maurício, Vanda e da criança que esta gerou), também um mau despertar para a política pode ?matar? gerações inteiras de jovens que assumirão, como adultos, esta dimensão da cidadania, de uma forma quase moribunda.
As recentes movimentações de estudantes do Secundário correspondem a um crescimento que importa aplaudir e aceitar. A aprendizagem do encerramento de uma escola a cadeado, altas da noite, antecipando-se à chegada da Polícia, não é menos importante do que as aprendizagens ministradas na escola, quando esta funciona na rotina da não contestação. Mesmo com o incómodo do adiamento deste ou daquele teste ou com o incómodo do próprio encerramento desta ou daquela escola escola.


  
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Edição:

N.º 118
Ano 11, Dezembro 2002

Autoria:

João Rita
Jornalista, Porto
João Rita
Jornalista, Porto

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