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Geografia revisitada
Protegido por vidros à prova de bala, George W. Bush, falou, em Novembro, a uma multidão de cerca de cem mil romenos, reunidos na Praça da Revolução, em Bucareste, aproveitando o comício para reafirmar a amizade dos Estados Unidos da América e da própria Roménia relativamente à Rússia.
Esta insólita declaração só é compreensível à luz do recente alargamento da NATO (Organização da Aliança do Atlântico Norte) até às fronteiras da Rússia, com a entrada de sete países que ainda há pouco tempo pertenciam ao bloco liderado pela Ex-União Soviética. O Atlantico Norte passou a banhar o Mar Negro.
Na linha desta revisão das fronteiras físicas dos mares, a própria União Europeia está em vias de se alargar para a Ásia, absorvendo a Turquia, cuja capital, Istambul, ainda tem territórios no velho continente. Ser europeu é, cada vez mais, um estado de espírito, em expansão para o Norte de Africa, região que, mais cedo ou mais tarde, será reclassificada como margem esquerda do Rio Mediterrâneo.
Isto apesar das reticências quanto à bondade da democracia turca, nomeadamente no que se refere ao respeito pelos direitos humanos. Num país onde a pena de morte poderia ser  dispensável, mesmo para quem acha que a morte dos adversários é solução, a entrada na Europa é sonho exequível e esperança para os 70 milhões de turcos empobrecidos.
Istambul é, curiosamente, um dos pilares da NATO. Como alguém escreveu, há dias, uma trincheira de defesa do Ocidente, que é preciso pagar. Antes os turcos do que os russos, apesar de todas as declarações de amizade de Bush para Putine e de Putine para Bush. A Rússia é demasiado asiática para ser da Europa.
Dentro de pouco tempo, nós, europeus, poderemos viajar até Istambul só com o nosso Bilhete de Identidade. Claro que vai ser difícil encontrar um Macbacon no Mac Donalds de Constantinopla mas, mesmo assim, é maravilhoso. Apesar de velha, a Europa cresce a olhos vistos. Europa? Perdão, zona euro. Soa melhor, pelo menos na lógica da redução do mundo a um imenso mercado.

  
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Edição:

N.º 118
Ano 11, Dezembro 2002

Autoria:

João Rita
Jornalista, Porto
João Rita
Jornalista, Porto

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