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Na base da boa vontade

José Magalhães Pinto, professor de Educação Física da Escola Básica 2/3 do Cerco do Porto e responsável pela equipa de Atletismo de Desporto Escolar


Quais são as maiores dificuldades que se colocam ao Desporto Escolar?
O Desporto Escolar tem funcionado muito com base na boa vontade dos professores de Educação Física que criam e mantêm as equipas. Por um lado, não há um investimento no apetrechamento das escolas, as equipas do Desporto Escolar usam os materiais que a escola compra para a Educação Física. Por outro lado, a redução de quatro horas semanais à componente lectiva do professor responsável por uma equipa de atletismo é extremamente pouca para o trabalho que desenvolvemos com os alunos à semana e ao fim-de-semana. De modo geral, o Desporto Escolar não dá apoios financeiros às escolas, paga apenas as deslocações dos atletas às provas.

Qual é o resultado deste desinvestimento?
O resultado é que o número de equipas de Desporto Escolar, a nível do atletismo, está a diminuir. Os professores desmotivam porque sentem que não existem contrapartidas pelo seu esforço por parte de quem dirige estas matérias: o Gabinete Coordenador do Desporto Escolar e o Ministério da Educação. O que acontece é que se vive um bocado da fachada e das festas de encerramento do Campeonato Nacional do Desporto Escolar. Festas que para quem está nos órgãos de direcção são óptimas, para os que estão no terreno e sentem na pele as carências, não.

Onde vai buscar a sua motivação?
Compensações financeiras não tenho. A minha grande compensação é o feedback dos alunos. A maior parte dos meus alunos tem entre os 10 e 12 anos, são crianças muito carenciadas e estão na minha equipa porque se sentem bem afectivamente, gostam do ambiente. O Desporto Escolar tem uma função social muito importante: retira os alunos da rua. Mas não só, o facto de contactar os pais, marcar treinos extra, aproxima o professor não só do aluno mas dos encarregados de educação.

Os pais apercebem-se da importância do Desporto Escolar?
Os pais muitas vezes não estimulam os filhos. Eu tenho alunos com boas capacidades para o atletismo e dei-me ao cuidado de telefonar para os encarregados de educação a dizer isso, mas os pais não se mostram muito interessados em que os miúdos façam desporto, preferem ter os filhos em casa a jogar "Consola". Ou então, quando há provas ao fim-de-semana, é frequente os pais não permitirem que os alunos compareçam. Também existe este desinvestimento por parte dos encarregados de educação.

E por parte dos professores?
Conto-lhe um caso elucidativo: no inicio deste ano lectivo desloquei-me à Escola Secundária do Cerco, onde o grupo de Educação Física é maior do que o da Escola Básica, e forneci aos professores umas tabelas de testes para que eles pudessem aferir o potencial de alguns alunos para integrarem o grupo de atletismo. Dos 14 professores (8 efectivos e 6 estagiários) contactados até agora não apareceu nenhum aluno. A que se deverá isto?


  
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Edição:

N.º 114
Ano 11, Julho 2002

Autoria:

José Magalhães Pinto
Professor de Educação Física
Andreia Lobo
Jornalista, A Página da Educação
José Magalhães Pinto
Professor de Educação Física
Andreia Lobo
Jornalista, A Página da Educação

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