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Alfabetização cinematográfica e audiovisual

Na introdução à publicação "L'Education Cinematografique" a Unesco defende que a melhor forma de defender o público, e em particular a juventude, de excessos e erros das mensagens audiovisuais é a formação e a criação de hábitos pelos espectadores, de forma a garantir a possibilidade de escolha e a melhor compreensão da mensagem audiovisual. Ainda segundo esta instituição mundial, a educação cinematográfica tem já, em muitos países, um lugar estabelecido nos planos curriculares do ensino, não se restringindo a actividades extra-lectivas ou de voluntariado cineclubístico, cabendo-lhe uma função educativa essencial. Como exemplo desta situação podemos apresentar a Inglaterra, que já em 1960 possibilitava educação cinematográfica aos seus alunos em 700 escolas.
De acordo com o testemunho de Lauro António, o Cinema e o Audiovisual na Escola têm uma função de cidadania, quando esclarece os alunos das armadilhas e truques do audiovisual numa sociedade dominada pelos media. Nos países escandinavos é no ensino básico que as crianças e os jovens tomam contacto, na escola, com o Audiovisual e a sua linguagem.
Para J.M.L. Peters, é comum os pais e educadores insurgirem-se contra a violência na televisão e no cinema e o efeito que esta tem sobre os jovens. Estas mensagens terão eventualmente efeitos nocivos sobre os jovens mal formados e/ou sem conhecimentos necessários à interpretação de uma obra no contexto cultural, sem conhecimento da envolvência artística e social e mesmo devido à incapacidade de compreensão de mecanismos da linguagem cinematográfica e da narrativa. É neste enquadramento que se torna necessário desenvolver o espírito crítico do espectador que permite julgar e apreciar a obra fílmica.
Esta "educação cinematográfica" implica também uma formação estética na perspectiva de que a experiência artística é indispensável à formação harmoniosa da personalidade. A abordagem de aspectos sociais, morais e espirituais é outra faceta promovida pela educação cinematográfica dado serem estas temáticas abordadas pelo cinema. A introdução da linguagem cinematográfica possibilitará uma nova dimensão ao espaço mental dos educandos.
Da necessidade de existir uma aprendizagem do cinema na escola, sigamos os pressupostos da alfabetização. É hoje impraticável conceber um jovem que não saiba ler e escrever os caracteres da sua língua materna que lhe darão acesso a controlar, compreender e usar a linguagem. Hoje em dia, a imagem em movimento, nas suas várias vertentes, do computador à televisão passando pelos jogos interactivos e partindo do cinema, povoam o quotidiano e o imaginário de todos nós e particularmente dos jovens, pelo que será impraticável no curto prazo não saber ler e escrever a linguagem da imagem em movimento, que tem as suas características próprias, como todas as linguagens, de que se salienta a versatilidade e a novidade.
Estas caracteerísticas, vantajosas do ponto de vista criativo, levantam problemas de ordem institucional dado que limitam as possibilidades de ensino tradicional - um guia de aprendizagem, uniformização de critérios e procedimentos.
De certa forma, é aqui que entronca o cerne da questão do ensino artístico, mas também a sua virtude, criando pontos de equilíbrio, alternativas metodológicas, funcionais, formativas, a alunos cada vez mais abertos a todo o tipo de estímulos a que a escola tem de dar resposta, sob pena de se transformar numa instituição pesada e desinteressante do ponto de vista pedagógico.
É neste quadro que o ensino-aprendizagem do cinema e da linguagem cinematográfica tem pertinência, permitindo vitalizar a aquisição de conhecimentos, potenciar formas de expressão, desenvolver o juízo crítico.
Educar quer dizer contribuir para o desenvolvimento harmonioso de uma pessoa por meio de boas relações com a realidade em que tal pessoa vai vivendo. Assim, a educação não pode ser concebida como qualquer coisa estática, à margem da experiência concreta do educando. Todos os estímulos, todas as componentes de tal experiência devem ter lugar na actividade educativa quotidiana.


  
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Edição:

N.º 112
Ano 11, Maio 2002

Autoria:

Eduardo Jaime Torres Ribeiro
Escola Superior Artística do Porto
Eduardo Jaime Torres Ribeiro
Escola Superior Artística do Porto

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