Não sou adivinho. Apenas observo o que acontece no mundo. E tremo de indignação.
Gostava de ver risos, notícias de que a vida está menos cara, saber que foi
editada uma nova versão de uma obra de Bach, que o leite já não é caro, que
se ganha mais, que baixou a inflação, aumentou o Produto Interno Bruto, o PIB.
Que não é apenas o Presidente Chávez da Venezuela a recuperar o cargo, ou que
a Rainha Mãe da Grã Bretanha, esse exemplo de vida cuja história me agrada ler,
pregou um grande susto ao Fascismo na Segunda Grande.
Mas sabe o leitor que ando sempre a tocar os sinos para chamar a atenção sobre
o sentir das crianças. Escrevi neste jornal, em Setembro de 1999, um conjunto
de ideias sob o título de: "Crianças, os senhores do mundo esmagam os fracos".
Em Fevereiro de 2000, tentei chamar a atenção para um debate político socialista-capitalista,
no qual é usada uma criança: "Prostituição das crianças. "Devuelvan-nos al
niño"", quando Elías González foi o centro do debate entre Cuba e USA. Debate
que levou a que o meu artigo fosse publicado, em castelhano, em Espanha e na
América Latina. Em Janeiro de 2001 escrevi "As ditaduras e o saber das crianças".
Tinha visto o filme de Spielberg A lista de Schindler, e outro dele,
La Amistad, ou O império do sol; bem como o de Roberto Benigni
A vida é bela e o de John Irving: Regras da casa. Fui ficando
horrorizado pela experimentação de novas formas de acasalamento humano dos adultos,
sem pensarem nas crianças envolvidas e sem tentarem entender como o conflito
entre adultos se repercute nos mais novos.
Tentei ajudar-me com conversas e leituras da obra de Daniel Sampaio. Procurei
entender enquanto escrevia os meus próprios livros. Mas nada mudava. Lia os
jornais e via a televisão e cada dia parecia pior.
O Afeganistão foi atacado porque o orgulho do Governo americano não perdoa a
morte lamentável de 4 mil pessoas da Indonésia, Colómbia, Japão, Chile e de
outros países, nas torres gémeas de Nova Iorque.
O Iraque fechou as fronteiras aos refugiados do regime imposto pelos norte-americanos
no feudal Estado Afegão.
O Paquistão obrigou-se a mudar de ideias e a aceitar refugiados, enquanto ataca
os que lá vão ficando.
Israel define uma política de recuperação das terras que entende serem suas,
enquanto os Palestinos defendem os seus territórios de há centenas de anos.
O resultado é simples: fala-se das mortes dos soldados, nada se diz das mães
que amamentam os seus filhos e menos ainda, dos pequenos que vão ficando empilhados
por não se saberem defender das balas.
Os soldados estão em guerra, as crianças a crescer, a entender, a definir conceitos,
a conhecer. Quem? Os seus? Quais? Os seus verdugos? Os inimigos? Os seus compatriotas?
Muito importante deve ser o Papa João Paulo II, mas se não soube resgatar a
Igreja da Natividade, de quantas crianças perde o respeito? Muito condecorado
será Colin Powell, que precisa de adiar encontros marcados para que os adultos
não parem as suas lutas.
Se uma criança morre, mais quatro vão nascer. É isso que pensará Bush ou os
Sheiks dos Emiratos Árabes? Para quando o 25 de Abril das crianças vítimas do
lucro do capital?
Estou cançado de escrever e de falar. Diana de Gales andou entre as minas para
mostrar que se deviam eliminar as bombas que feriam as crianças. Teresa de Calcutá
e as suas freiras, a ONU e os direitos da criança. Para que? Para que continue
o extermínio de crianças causado pela vaga do pensamento fascista que me faz
tremer e chorar? O genocídio do séc. XX entra, dentro do séc. XXI pelas mãos
daqueles que eu não imaginava que podiam matar crianças e as suas mães. Aja
um Deus para sermos perdoados. Pena é que não exista nenhum. Preferia não ter
escrito o que referi. Não adianta... Que escreva o Capital. É ele quem globaliza
a matança dos mais novos.
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