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O ensino do inglês

Reflectindo sobre as principais dificuldades que venho a sentir no ensino do inglês, penso que não são muito diferentes das referidas pelos professores das outras disciplinas.
Começarei por dizer que a língua inglesa, aparte uma ou outra estrutura sintáctica que não tem paralelo com o português, não apresenta grandes dificuldades de aprendizagem; bem pelo contrário, o seu caracter sintético, a simplicidade da flexão verbal, a profusão de vocábulos de origem latina compensam largamente o esforço a despender na memorização de algumas palavras genuinamente germânicas. E não é de subestimar também o facto de muitas destas palavras fazerem, cada vez mais, parte do nosso dia a dia, desde o "stop" do "bus" ao "shopping centre". Estou a falar, claramente, tendo em conta que o inglês é introduzido só no 2º ou 3º ciclo do básico, quando o aluno tem no mínimo 10 anos, e desenvolveu já, para o bem e para o mal, automatismos de utilização da língua materna, e a aprendizagem que inicie de uma língua estrangeira far-se-á sempre com a interferência daquela, independentemente de métodos usados, mesmo em situação de imersão linguística.
Se a língua inglesa não apresenta dificuldades de maior, se os professores têm formação didáctica adequada, que lhes permite adoptar as técnica e as estratégias mais ajustadas, se estão atentos às motivações dos alunos, aos seus saberes anteriores, à forma como processam o conhecimento, etc., qual a razão de tanto insucesso?
Provavelmente haverá várias razões, sendo que a principal advém, a meu ver, de um problema que se coloca na aquisição de qualquer aprendizagem que implique a utilização da expressão verbal como veículo de comunicação e cuja gravidade é directamente proporcional a essa necessidade. Trata-se do fraco nível de competência adquirido pelo aluno na língua materna, quer pela pobreza vocabular e incorrecção estrutural quer pela falta de rigor em ambas. Ora, se se faz uma leitura errada de uma mensagem, toda a construção mental que se faça a partir dela fica condenada e toda a comunicação fica viciada. E, no caso do inglês, poderá haver um sucesso superior ao do português, se não aceitarmos como boas a compreensão e a produção oral e escrita naquela língua correspondentes às que o aluno efectua na língua materna?
A par disto, está o desinteresse pelos saberes que a escola dá. Mas será de estranhar, se a leitura da sociedade actual não mostra que esses saberes conduzam a um estatuto de maior dignidade e, ainda por cima, não dão para "curtir" na hora?
Penso que é urgente trazer estes problemas à discussão daqueles que possam contribuir efectivamente para uma boa resolução, sabendo que qualquer reforma será insensata se não tiver como base a correcta avaliação do que temos no terreno e do que já experimentamos. À escola não aproveita folclore.


  
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Edição:

N.º 110
Ano 11, Março 2002

Autoria:

Manuela Coelho
Escola Especializada de Ensino Artístico Soares dos Reis, Porto
Manuela Coelho
Escola Especializada de Ensino Artístico Soares dos Reis, Porto

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