Sem cura possível
O actual Ministro da Educação diz que o 1º ciclo é a sua prioridade...
O Senhor parece bem intencionado, mas de boas intenções está o inferno cheio,
diz o povo ...Eu, sou dos que penso que a Reforma do Roberto Carneiro, apesar
de ter desenvolvido o sistema educativo, "assassinou" o ensino primário, ao
descaracterizá-lo completamente.
O ensino primário que era o sub-sistema do nosso ensino mais bem organizado
no tempo da "outra senhora" e que viu o seu papel reforçado no período revolucionário,
talvez tenha sido vítima dos excessos de ideologização... Nestas duas décadas
e meia de regime demo-liberal assistimos ao declínio do papel do ensino primário,
consequentem/ à sua agonia... A inteligentzia do bloco central, com a
conivência dos burocratas instalados na 5 de Outubro ( e também na 24 de Julho?)
praticamente desde 1976, que relegou o ensino primário para o fim da lista das
prioridades...Creio mesmo que chamar-se Ministério da Educação é um eufemismo,
porque o que tem havido é um Ministério do acesso ao Superior!...
Assoberbados com o problema do acesso, não descansaram enquanto não empurraram
o 1º ciclo para as Câmaras... Com a chamada nova gestão tudo fizeram para que
as escolas primárias ficassem sob o controlo, inclusivé político, dos gestores
das escolas preparatórias!... A legislação é feita para os alunos do 2º e 3º
ciclo, acrescentando-se uns parágrafos finais, para adaptação ao 1º ciclo, tudo
em nome de um pretenso ensino básico alargado... As provas aferidas são a antecâmara
do regresso aos exames, apesar de todos os paliativos!... A inclusão dos alunos
deficientes ( e não só) no regular, principalmente, nas escolas preparatórias
não passa de uma comédia, e, como é sabido, da comédia à tragédia é só um pequeno
passo... Os apoios educativos/educação especial viram-se envolvidos, desde o
final do ano lectivo passado, numa situação surrealista, havendo inúmeras situações
em que alunos mongolóides, alunos com deficiência mental ligeira e disléxicos,
entre outros, deixaram de fazer parte das prioridades nos apoios...Por outro
lado, os professores do 1º Ciclo e as educadoras de infância são perfeitamentes
marginalizados na generalidade dos agrupamentos verticais... A autonomia dos
agrupamentos horizontais é uma treta...
Também não se pode omitir, como prova do ostracismo a que o ensino primário
público tem sido vetado, o facto dos filhos das élites frequentarem estabelecimentos
de ensino básico privados, alguns subsidiados escandalosamente com dinheiros
públicos, como o SPRC vem denuciando...
É certo que os professores viram melhorada a sua situação remuneratória, com
reflexos óbvios a vários níveis... Agora alguns munícípios vieram com o rebuçado
do computador e da ligação à internet!... E, assim, se vai adormecendo a malta...
Quanto aos sindicatos o SPRC ainda agora veio a público clamar (mais uma vez!)
para a imperiosidade de medidas de urgência para o 1º Ciclo, salientando o desinvestimento
camarário!... Quanto a mim o problema já não é só de investimento, da crónica
falta de recursos, de renovação dos equipamentos, etc... O realismo impede-me
de terminar com qualquer sintoma de esperança, porque a doença cancerosa já
alastrou tanto, que não sei mesmo se há cura possível...
João Craveiro Lopes, Porto
Biblioteca e Bibliotecas
Num sábado recente, dirigi-me, como de costume, cedo à Biblioteca,
esperando retomar uma série de indicações necessárias e em "stand-by" desde
as férias deVerão. Foi uma surpresa triste encontrar a Biblioteca reduzida ao
serviço de consulta livre. Desde 1988 que frequento com regularidade a Biblioteca,
altura em que regressei de um ano de aulas nos Açores. Durante vários anos,
consegui organizar-me para ir de Braga ao Porto pelo menos uma tarde mensal,
descobrir os extractos de livros que precisava, e reservar um sábado de manhã
para as fotocópias, tendo de antemão as colocações dos livros.
Suportei as demoras em receber os livros, em apenas poder requisitar três livros
de cada vez, esperar na lenta fila para as fotocópias, ou adiar porque a máquina
estava avariada quando chegava à Biblioteca... Pensava que uma Biblioteca era
assim mesmo ( a de Lisboa acrescenta a exigência em ter cartão de membro): espera,
fila de fotocópias, lentidão em obter a bibliografia. E, nessas condições, fui
escrevendo artigos para Inglaterra e um livro gordo publicado em Portugal, finalmente,
em Janeiro deste ano (pelo que me informaram, demorará dois anos a se encontrar
acessível na Biblioteca).
Em 1994 tive a oportunidade em estar uns dias em Madrid, e fui descontraidamente
à Biblioteca Nacional. Surpreendentemente, além do acesso livre, a espera era
reduzida, as muitas máquinas de fotocópias eram em self-service, e a abundância
de documentação (ficheiro manual ou informatizado) era estonteante.
Graças a uma Bolsa de Estudo da Fundação Gulbenkian, em 1997 tratei de investigar
melhor a Biblioteca madrilena, e, meses depois, pude estar uma semana em Barcelona
para continuar a verdadeira aventura de "caçador-recolector" de documentação.
A velocidade em investigar foi adicionada ao prazer da descoberta, e logo entendi
que estava a milhas do que Portugal me podia oferecer: fiquei farto das esperas,
das filas, da escassez .
Em 1999, uma Licença Sabática possibilitou-me, de novo, dedicar sem rédea às
bibliotecas universitárias de Barcelona e à Biblioteca Islâmica de Madrid. Livros
desejados e edições académicas de teses de doutoramento abriam novas pistas
para digerir, reflectir e avançar para outras ideias transformadas em livros,
agora e num futuro próximo. Chegou depois a altura das bibliotecas de Santiago
e de Toledo se adicionarem ao turismo cultural, e reforçar as óptimas impressões
da gestão documental espanhola.
Na Biblioteca portuense terei aprendido a ter paciência e força de vontade,
palavras para descrever os tempos árduos e dispensáveis sem dizer "frustrante,
inútil, terceiromundista". E continuo a falar de livros, pois só agora espreito
a Internet.
No sábado de inauguração do Porto 2001, voltei à BPMP; consultei um computador,
e os links do menu levavam a páginas não disponíveis da Biblioteca Nacional
de Lisboa; a funcionária informou-me que o sistema estava ainda em organização.
Na terça-feira, dia 9 de outubro, tomei o comboio para o Porto, fui à Biblioteca,
esperei pelos livros, fui às fotocópias, e consultei o computador. Em "Bibliografia",
escolhi o que queria e, de acordo com as instruções, tratei de a enviar para
o meu e-mail. Ora acontece que tal não é possível, apesar de estar no menu.
Para terminar, recordo-me que um sábado na Biblioteca significava azáfama: muitos
estudantes em torno dos ficheiros, fila nas fotocópias, sala de leitura bastante
cheia,...Não é, pois, por falta de "quorum" que o serviço de sábado foi reduzido
drasticamente. Recordo-me, também, que o diário "Público" dedicou, meses atrás,
uma página à inauguração do noavo serviço de acesso livre, sem deixar de referir
que a BPMP é "repelente". Que novidade é o acesso livre em Portugal! Qualquer
vilório espanhol oferece mais! Apesar do sistema retrógado e nada incentivador
que a BPMP oferecia, não pensava que iria ficar pior. Devedor às novas "paixões"
da crise, como é claro.
E nunca pensei afirmar o seguinte: a Biblioteca portuense incentiva a iliteracia
e incultura lusitanas.
Franklin Pereira, Braga
Voz de alunos
Sou aluno da Escola Secundária Alcaides de Faria e queria
expôr a este jornal o problema que a Direcção Regional de Educação do Norte
(DREN) está a causar aos alunos do 11º ano de Desenho Técnico de Mecânica (DTM).
Nós já frequentamos o 2º bloco a DTM mas a DREN decidiu, este ano, que não poderíamos
frequentar essa disciplina alegando haver somente seis alunos inscritos. Se
é esta a razão que a DREN dá, então porque razão no ano passado nos deixaram
frequentar essa disciplina se, nessa altura, também se verificava um número
inferior de alunos relativamente ao estipulado por lei?
Agora, a DREN quer pôr os alunos de DTM a frequentar a disciplina de oficinas
de artes do 10º ano, sabendo nós que essa disciplina não tem nada a ver com
o curso que queremos tirar (engenharia civil). A disciplina de DTM tem 3 blocos,
e no 3º bloco aprendemos a trabalhar com o C.A.D. (Computer Assistent Designer),
que é um programa que nos ajudará bastante quando chegarmos à universidade,
e no qual nós queremos aprender a trabalhar. Por alguma coisa é que estão os
melhores computadores da escola na sala de oficinas!
Os alunos e encarregados de educação de DTM já recorreram dessa decisão mas
o recurso foi-nos negado. (...) Prometemos que isto não iria ficar por aqui.
Por alguma razão estivemos um ano a estudar para essa disciplina, e se ela não
fosse necessária não a estaríamos a frequentar.
Luís Ricardo Gonçalves Pinto
Aluno da Escola Secundária Alcaides de Faria
|