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Capacitação de Docentes: Um direito e uma obrigação numa sociedade em processo de mudança

O mundo evolui tão rapidamente que os docentes, assim como os membros da maior parte das outras profissões, devem admitir que a sua formação inicial já não é mais suficiente. Ao longo da sua carreira profissional, terão necessidade de actualizar e aperfeiçoar os seus conhecimentos e técnicas. Mesmo assim, devem desenvolver nos seus alunos as atitudes e as competências necessárias para a construção dos seus conhecimentos.

Já não é possível deixar de adaptar-se a ciclos de vida diferentes nos quais o trabalho e o tempo livre não estarão separados mas sim integrados, durante os quais a educação continua será a norma. O papel tradicional do docente está, consequentemente, a alterar as suas características. Actualmente, espera-se que o docente desempenhe o papel de guia pedagógico e moral, que permita que os alunos sejam mais autónomos, proporcionando-lhes as ferramentas intelectuais para "aprender a aprender". No entanto, a formação do docente não o prepara para este novo desafio.

Segundo uma das nove recomendações da 45ª Conferência Internacional de Educação, que teve lugar em Outubro passado, a capacitação deve ser considerada quer como um direito quer como uma obrigação para todo o pessoal docente. O aperfeiçoamento contribui também para valorizar e aumentar o respeito por essa profissão que a UNESCO.html">UNESCO.html">UNESCO.html">UNESCO considera a mais importante do mundo.

A modernização de formação continua

A qualidade da educação está determinada mais pela formação contínua dos docentes do que pela sua formação inicial. A modalidade clássica da formação inicial, na qual os docentes seguem cursos externos, demonstrou possuir uma eficácia limitada. Com efeito, é melhor incitar os docentes a que organizem os seus próprios programas de aperfeiçoamento dentro das suas escolas, a partir das necessidades que eles próprios identificaram. Ainda que este novo enquadramento tenha surgido nos países industrializados, hoje em dia ganha terreno nos países em vias de desenvolvimento. Já é comum em países latino-americanos, árabes e africanos, que os docentes completem a sua formação no seu local de trabalho.

Nos países em desenvolvimento, os temas desses programas são eleitos em função das lacunas existentes na formação inicial. O ênfase é colocado nas técnicas pedagógicas. Mas a tendência para experimentar métodos inovadores na formação em serviço, confirma-se cada vez mais num grande número de países. Essa eleição reflecte as novas preocupações dos sistemas educativos, especialmente em relação a temas tais como o meio ambiente, a saúde, as relações internacionais, as novas tecnologias de informação e a procura de soluções de problemas de carácter planetário.

A tendência actual consiste em desenvolver programas de formação contínua como parte das reformas educativas, sobretudo nos países em desenvolvimento, onde os ditos programas se limitam frequentemente a zonas rurais ou a escolas urbanas para populações desfavorecidas.

Nos países desenvolvidos, os cursos de aperfeiçoamento desenvolvem-se regular e prolongadamente (por exemplo, duas vezes por semana durante o ano escolar) enquanto que nos países em desenvolvimento, a formação está frequentemente concentrada num número reduzido de dias. Neste último caso, espera-se que os participantes transfiram aos seus colegas os conhecimentos adquiridos. Este tipo de abordagem possui a vantagem de ser menos dispendioso.

Os métodos mais criativos, por exemplo, a simulação, a "brain storming", o jogo de papéis, etc., estão geralmente reservados aos países industrializados. Os docentes dos países em desenvolvimento, pelo contrário, assistem a seminários organizados e em data fixa e seguidos por eventuais discussões entre os docentes. Para favorecer prácticas mais criativas nos países em desenvolvimento, a UNESCO.html">UNESCO.html">UNESCO.html">UNESCO promoveu estratégias tais como oferecer pacotes de ideias e de material pedagógico.

A educação à distância foi estabelecida como um método importante de formação docente, especialmente nos países em desenvolvimento, onde o tele-ensino já foi utilizado para aperfeiçoar as competências profissionais. A UNESCO.html">UNESCO.html">UNESCO.html">UNESCO, neste sentido poderá ampliar a sua colaboração com organizações internacionais governamentais e não governamentais. Os participantes da 45ª Conferência Internacional de Educação consideraram que a UNESCO.html">UNESCO.html">UNESCO.html">UNESCO devia dar prioridade ao desenvolvimento de uma rede internacional de formação à distância.

O Centro Nacional de Formação Permanente da República Centro Africana colocou em marcha, com o fim de melhorar a qualidade dos mestres da escola primária, um programa de formação à distância, utilizando técnicas radiofónicas. Esta formação está especialmente dirigida ao pessoal docente que teve uma formação inicial ou contínua escassa ou nula. Estes docentes, abandonados durante muito tempo, estão expostos ao empobrecimento do seu nível de conhecimentos e das suas competências. A formação também prepara estes docentes para enfrentar os exames e concursos profissionais. Desta forma, podem melhorar as suas possibilidades de desenvolvimento profissional a longo prazo.

Uma carreira de obstáculos

Se bem que a formação em serviço é geralmente entendida como um instrumento de reforma do sistema educativo, nem todos os países têm as mesmas possibilidades de converter esse ideal em realidade.

Em primeiro lugar, constata-se que a atitude profissional dos docentes é caracterizada, frequentemente, por um forte cepticismo perante as inovações educativas. Mas, é evidente que sem a participação activa dos docentes, as inovações estão destinadas ao fracasso.

Em segundo lugar, os factores do tipo económico constituem, frequentemente, um obstáculo tanto nos países em desenvolvimento como nos mais industrializados. Os pressupostos educativos diminuíram consideravelmente nos anos 80 e 90 e os programas de aperfeiçoamento profissional a nível nacional são dispendiosos, pelo menos a curto prazo.

Por último constata-se que os regimes democráticos são mais favoráveis a pôr em marcha programas de formação a nível local, na medida em que estes dependem da descentralização do sistema educativo, já que delegam o poder às escolas e aos seus docentes. No Brasil, por exemplo os primeiros programas de capacitação a nível das escolas, foram criados nos anos 80 pela primeira administração eleita democraticamente no estado do Rio de Janeiro.

Outro problema: os sistemas educativos em todas as regiões sem distinção, já não respondem às necessidades actuais. A diversidade dos alunos é muito maior que no passado e apareceram problemas e dificuldades de integração cultural, étnica e social. O papel da família diminuiu e o aumento do desemprego e da pobreza, não permitem que os alunos consigam os livros e o material necessário para o seu desenvolvimento pessoal.

Após cinco anos nos bairros mais difíceis e pobres da periferia parisiense, num colégio onde as tenções sociais criaram uma situação explosiva, Isabel, 34 anos, está desalentada. Muitos dos alunos andam armados e as agressões aos docentes são quotidianas. Isabel ensina francês a crianças de onze ou doze anos, muitos dos quais não sabem ler nem escrever ou têm um pobre domínio da língua. Provêem de origens culturais muito diversas (na escola existem cerca de 30 nacionalidades). Isabel não encontra nenhuma solução. "Faço o que posso, mas sou professora de línguas, não sou nem psicóloga nem socióloga...". Ela acrescenta que nada na sua formação a preparou para trabalhar em condições tão duras nem para a trajédia social que está subjacente a estes problemas.

Além do mais, em muitos países, os docentes devem exercer a sua profissão em contextos específicos (refugiados, meninos da rua, delinquentes, etc.) ou devem trabalhar em condições difíceis, (regiões isoladas, montanhosas ou rurais). Neste aspecto, os conflitos armados constituem uma situação particularmente preocupante porque os docentes estão pouco ou nada preparados para trabalhar nestas condições.

Para apoiar os docentes nestas situações, recomendou-se a organização de redes de ajuda profissional e psicológica destinadas a fornecer formação inicial e contínua.

Perspectivas futuras

Apesar da falta de recursos suficientes, a adjudicação da formação em serviço às escolas constitui uma estratégia que deve ser também estimulada nos países em desenvolvimento. Nas últimas décadas, a pedra angular das reformas educativas dos países desenvolvidos foi delegar maior autonomia às escolas. Desse modo, longe de constituir um luxo supérfluo, a longo prazo os programas de capacitação centrados nas escolas, constituem uma necessidade nacional.

Em alguns países em desenvolvimento esses programas já são uma realidade. Outros, sem dúvida, seguirão este exemplo, seja por iniciativa governamental ou através das associações docentes. Por razões financeiras, é muito provável que estas iniciativas se desenvolvam com a cooperação de agências externas, universidades ou outras instituições capazes de fornecer uma ajuda qualificada, ou bem em colaboração com outras escolas.

A educação é a principal variável do desenvolvimento social, na procura de uma cultura de paz, e os docentes deverão assumir papéis muito distintos no futuro. Na sociedade global para a qual caminhamos, eles terão a responsabilidade de promover os princípios éticos, da justiça social, da tolerância, e da paz. Assim, é necessário atribuir um lugar importante à formação inicial e contínua dos docentes, ao estudo das causas da exclusão, da pobreza, da descriminação, da xenofobia, etc., assim como a prevenção e a solução de conflitos. Trata-se de "aprender a querer viver juntos".

Fonte: UNESCO.html">UNESCO.html">UNESCO.html">UNESCO


  
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Autoria:

UNESCO

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