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Belas Histórias da Educação (o tempo, a circularidade eterna)?

Bernardino Machado (1851-1944) faz parte de um vasto património comum que atravessa o Atlântico, de Portugal para o Brasil e do Brasil para Portugal. Nascido no Rio de Janeiro, nem por isso deixou de ser aceite como português, fazendo parte do Governo Provisório da República, sendo Ministro dos Negócios Estrangeiros. Em 1915 (apenas 5 anos depois da Revolução Republicana) foi eleito Presidente de Portugal. Às vezes é bom lembrar estas coisas, pois também houve casos destes, no nosso País.Seria deposto por Sidónio Paes em 1917, mas foi reeleito Presidente em 1925, sendo novamente deposto pelos criadores do "Estado Novo" de Salazar em 1926. Faleceu na cidade do Porto.
A lista de portuguesesconhecidos que passaram pelo Brasil é impressionante: desde a pintora Vieira da Silva, ao escritor Jorge de Sena (ambos, tristemente, abandonariam a nacionalidade portuguesa), até António Sérgio, Fidelino de Figueiredo, Humberto Delgado, Henrique Galvão, e mais tarde, por motivos políticos inversos Marcelo Caetano ou Américo Tomás... Foram muitos.
Se recuarmos um pouco vemos este movimento sempre continuado. O poeta António Feliciano de Castilho, homem sensível e padecendo de cegueira desde criança, procurou intervir nas questões pedagógicas, elaborando o seu "Método Repentino de Leitura". Com defeitos, por certo, mas as intenções de Castilho seriam as melhores. Pois bem, este homem, suscitou tamanhas reacções à sua obra que acabou por ir para o Brasil (isto em meados do século XIX).
Que dizer de um País que em 1900, segundo o "Anuário Estatístico do Reino de Portugal" tinha 78,6% de analfabetos (1) quando nesta altura os analfabetos espanhois eram 68%, os italianos 42%, os belgas 17%, os suecos 0,4% (!), os alemães 0,51%, os dinamarqueses 0,36% e os noruegueses 0,08% ! (2)
A História vai-se repetindo, se virmos os números referentes à Educação em Portugal nos nossos dias, encontraremos muitos casos tristes. Em 1904, ainda durante a Monarquia, Bernardino Machado, disse na abertura das aulas da Universidade de Coimbra: "Quem, como estudante, andou sempre de rastos, curvando a cada momento a inteligência, a copiar, a decorar e a repetir as ideias e até as palavras do mestre, para acarear as suas boas graças no precário exame final, que admira que, concluído o seu curso de servidão, com um falso diploma que o não habilita para empreender nada por si, vá engrossar a miserável turba de pedintes que estendem humildemente a mão a todos os potentados do dia, por mais ignóbeis que eles sejam?" (3)
Belas Histórias da Educação (o tempo, a circularidade eterna)?

(1)Rómulo de Carvalho,
História do Ensino em Portugal
desde a fundação da nacionalidade
até ao fim do regime de Salazar-Caetano,
Fundação Calouste Gulbenkian, 1986, p.635.
(2) Idem, p. 711, nota (67).
(3)Ibidem, p.641.

Carlos Alberto Mota,
docente da UTAD


  
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Edição:

N.º 91
Ano 9, Maio 2000

Autoria:

Carlos Alberto Mota
Univ. de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), Vila Real
Carlos Alberto Mota
Univ. de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), Vila Real

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